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Vale a pena comprar uma debênture hoje?

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Rafael Winalda

Publicado 05/fev

Vale a pena comprar uma debênture hoje?

Muitas pessoas tem questionado o atual nível dos “spreads” das debêntures, se eles estão em patamares baixos, se tem caído, mas isso é realmente verdade? Se sim, então quanto caiu? Vale a pena comprar debêntures atualmente?

Eu gosto muito de quantificar e olhar o que os dados mostram. Os números não mentem (ok, às vezes). Assim, tentamos responder algumas destas perguntas nesta News! Utilizamos a base de dados da Anbima, para as curvas de crédito, falamos também do risco relativo, o que é o spread e como são as classificações.

Boa leitura!

Taxa de juros, prêmio de risco e spreads

No mercado, dizemos que o ativo livre de risco, risco zero ou o mais seguro é aquele em que o investidor vai reaver com altíssima probabilidade todo o seu dinheiro investido, além dos juros acordados. Assim, o que melhor se enquadra são os títulos do governo, uma vez que o estado tem vários mecanismos para honrar os pagamentos, incluindo até mesmo, em última instância, imprimir mais moeda.

Diante disto, a Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, influenciando diretamente nos juros de todo o mercado. É claro que existem outras dinâmicas, outros mecanismos, juros de curto, médio e longo prazo, mas vamos por partes...

E onde entra o crédito privado nessa situação? Bom, quando o investidor vai emprestar dinheiro para uma empresa ele incorre do risco dela não honrar os pagamentos. Os problemas podem ser derivados da economia, do setor, da empresa em especifico, independentemente, existe o risco. Assim, a taxa exigida deve ser maior do que a taxa livre do risco.

É claro, existem empresas e empresas. As de baixo e as de alto risco. As empresas de alto risco vão ter taxas bem elevadas, para conseguir compensar todo o risco incorrido pelo investidor. Já as boas pagadoras poderão ter taxas mais próximas às do governo. Essa diferença nós chamamos de spread.

Spread = Taxa da empresa X - Taxa Livre de Risco

Outro ponto importante é o vencimento. Vencimentos mais curtos deveriam ter spreads menores, enquanto os mais longos deveriam ter spreads maiores, essa é a regra básica do valor do dinheiro no tempo. Quanto mais tempo você precisa para receber seu dinheiro de volta, mais você vai querer ganhar com isso.

Por fim, antes de adentrarmos no próximo tópico, vamos falar de mais uma classificação, as empresas AAA, AA e A. Como abordamos, as boas pagadoras têm uma taxa menor, e as que enfrentam uma situação mais delicada tem taxas maiores. Podemos então classificá-las com um “selo”, avaliando métricas de desempenho, fluxo de caixa, alavancagem financeira, operacional, entre outras. Essa escala é padrão, na qual as melhores recebem o AAA e as piores recebem C.

Voltando ao tema central desta News, neste estudo que apresentamos, vamos atuar somente com papéis com classificação AAA até A, conforme a base de dados fornecida pela Anbima. Mas a pergunta que não quer calar é: o que aconteceram com os spreads?

O que aconteceram com os spreads das debêntures?

Bom, primeiro vamos falar das taxas. Observando o gráfico da Selic que colocamos na pagina anterior, você vai constatar que a taxa voltou a subir. Consequentemente, os juros que as empresas precisarão pagar sobre a emissão de suas dívidas, ou seja, sobre as debêntures emitidas também vão subir, uma vez que se forem muito baixo, deixam de ser atrativos e para o credor, seria melhor então deixar tudo em ativos do Governo, com zero risco.

Para constatar tal afirmação, vamos analisar primeiro as taxas de debêntures atreladas ao IPCA+ e as prefixadas, que podem ser observadas nos gráficos abaixo. Dividimos as emissões em até 3 anos, entre 3 e 5, entre 5 e 10 e superior a 10 anos

É fácil de visualizar nos gráficos anteriores que as empresas estão pagando mais caro e os investidoresestão recebendo mais, em termos nominais. O cenário mudou, a Selic subiu e esta é uma das constatações. Mas as empresas estão pagando tão a mais que compensa a média do risco histórico?

Tentando investigar isso plotamos os gráficos abaixo. É perceptível que os spreads começaram a subir, mas ainda estão bem aquém de tempos anteriores. O investidor tem recebido relativamente menos, em termos de spreads, para correr o mesmo tipo de risco que sempre correram.

Então, vale a pena comprar debêntures atualmente? É claro que a resposta não poderia ser diferente: depende. O investidor não pode somente observar a taxa nominal, o IPCA+ 8% isento de IR é muito atrativo, nós entendemos, mas não somente isto.

Existe o risco relativo, o risco intrínseco da empresa, os riscos de curto e longo prazo, etc. O investidor tem que ficar atento, ciente de que mesmo com o aumento dos spreads no ultimo mês, ainda se recebe marginalmente menos do que no passado. Mas vamos lembrar que existem muitas oportunidades por ai, precisa garimpar!

Dica cultural

A dica cultural de hoje vai para o livro: A marca da vitória, escrito por Jeffrey Archer. É uma das poucas autobiografias que eu li e gostei. Conta a histórica de Harry Clifton, criador da Nike, uma das maiores empresas de todos os tempos. Mas o livro vai além disto, falando sobre os desafios da família, a vida pessoal de Jeffrey, sua ambições e mais.


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