Como analisar os títulos prefixados?
Eu confesso que uma das tarefas mais complexas na renda fixa é alocar o momento certo em um título pré. É claro que um titulo público prefixado que você adquire pensando em resgatar somente no vencimento não é o problema. O problema é o meio do caminho, com a marcação a mercado “queimando” o seu retorno, uma vez que o CDI é cruel e corre contra você.
Assim, nesta News, vamos discutir alguns mecanismos que podemos utilizar para entender qual o melhor momento de investir em ativos prefixados.
Boa leitura!
O histórico do pré e a atual curva futura
Quando observamos o histórico da curva pré, o atual patamar se assemelha bastante ao biênio de crise vivenciado em 2015-16, quando a economia brasileira atravessava grandes dificuldades. Vemos taxas bem elevadas e, para melhor observação, dividimos os vencimentos em três partes: a média das taxas com títulos vencendo até 2 anos, até 5 anos e superior a 5 anos. O quarto gráfico é uma média simples de todas as taxas.


Como ainda vemos incertezas quanto ao cenário doméstico, isso se reflete nas expectativas para a curva préfutura, que seguem com bastante volatilidade. Comparando o nível da curva atual com o de 1 e 6 meses atrás, conseguimos ver claramente as movimentações nas curvas e a diferença de patamar. Com cenário de juros ainda em alta, questionamos: existe prêmio ainda? Se sim, em qual parte da curva?

Existe prêmio na curva pré?
Para quem não está familiarizado com o termo, "prêmio na curva" refere-se à situação em que o mercado acredita que o patamar dos juros no futuro será menor que o nível atual dos juros na economias. Neste cenário, por exemplo, ao comprar um título prefixado com vencimento em dois anos, a rentabilidade pode ser interessante, pois acredita-se que a média dos juros nos próximos dois anos será menor do que os juros atuais que estão sendo negociados.
Posto isto, existe prêmio na atual curva? Se sim, em qual parte? Para tentar responder tal questão vamos investigar alguns pontos. O primeiro é a inflação implícita. Um parêntese para definição: de modo geral, é a diferença entre os juros prefixados e os juros reais (IPCA+), ou seja, a inflação implícita que o mercado está negociando.
Inflação Implícita = Juros pré-fixado – IPCA+
Quando observamos a média das implícitas de até dois anos, elas estão sendo negociadas em 8%, o dobro do patamar de 6 meses atrás. Para a parte média e longa da curva as taxas estão mais próximas de 7%. Tanto o time de macroeconomia do Inter, quanto as expectativas do Focus não apontam para uma inflação neste nível, nem para 2025-26, nem adiante.

Esta divergência pode indicar que existe prêmio na curva pré. Teoricamente, alguém terá que convergir: ou a inflação será de fato o que está implícito na precificação ou as expectativas precisam se realinhar. Caso a inflação realmente alcance a implícita, os economistas no relatório Focus estariam errados, e os juros reais do IPCA+ estariam muito baixos. Por outro lado, a inflação pode não vir como esperado e as taxa pré estariam então muito altas, tendo que sofrer alguma correção.
Outro ponto que podemos tentar observar é a projeção dos economistas no relatório Focus e a curva futura de juros. Mesmo que o gráfico abaixo trate da Selic e não da curva pré em questão, é visível que existe uma distorção entre 1 e 2 anos.

Como se posicionar?
Diante de tais pontos, como o cenário é complexo e com muitas incertezas, principalmente com relação à trajetória dos juros, e mesmo que exista algum prêmio na curva pré, entendemos que não é um call tão interessante atualmente para compor grande parte da sua carteira e mantemos a alocação mínima, prezando a diversificação.
Vale lembrar que em termos de retorno, os ativos de vencimento mais longo amargam prejuízos nos últimos 12 meses, refletindo o efeito negativo da marcação a mercado por conta do movimento de alta nos juros.

Em nosso relatório de alocação mensal a sugestão é para no máximo 5% de exposição da sua carteira, mas ciente de toda a volatilidade que o ativo pode trazer. De preferência, como explorado, os vértices mais curtos aparentam ter mais prêmio, mas invista com moderação.
Dica cultural
A dica cultural desta semana vai para um livro que eu acabei de comprar, mas ainda não li, perdoe-me se não for bom. Se trata do A Arte da Negociação, de Donald Trump. Alguns apontam que a obra é um dos melhores em termos de negociação, mas o meu intuito ao adquirir o livro é entender um pouco mais sobre o atual presidente dos EUA e como ele realiza as suas estratégias de negociação.