Próxima decisão do Copom pode ter votos divergentes
O mercado permanece dividido com relação à próxima decisão do Copom no início de agosto. Segundo a negociação de opções de Copom na B3, a probabilidade de um corte de 25 pontos base (pb) é de 47% e a de um corte de 50 pb de 43% (data base 21/07). Ainda mais atípico, há também implícita nas apostas uma baixa probabilidade de manutenção da taxa Selic em 13,75% bem como de um corte inicial de 75 pontos base. Este cenário difere da maioria das decisões do Copom que, em 85% dos casos, costumam ser unânimes.
Divergências nas decisões do Copom são minoria
Em uma análise das decisões do Copom desde a implementação do regime de metas em 1999, identificamos que em apenas 32 reuniões, de 213, foram apontadas divergências nos votos. Desde o início do regime de metas de inflação, em apenas 15% das reuniões houve votos diferentes entre os membros do colegiado. Em nenhuma reunião foi relatado votos que divergiram em mais de 2 opções, por exemplo, a improvável decisão do próximo Copom com votos para manter a Selic, cortar em 25 pb ou cortar em 50 pb seria inédita.
A ocorrência de divergência nos votos acontece com maor frequência pela magnitude do corte ou da elevação da taxa, na grande maioria, pela diferença de 25 pb, o que é o cenário mais próximo para a reunião do Copom de agosto, quando poderemos ter votos a favor de um corte da Selic para 13,50% ou para 13,25%, conforme reflete a precificação do mercado. Votos que diferem entre manter ou reduzir a taxa acontecem no início ou no fim do ciclo de afrouxamento monetário, na última ocorrência no ciclo em 2011, que aliás, iniciou com um corte de 50 pb, de 12,50% para 12,00%.
No longo ciclo de cortes que se iniciou em outubro de 2016, com a redução de 25 pb, de 14,25% para 14,00%, e foi até 6,50% em março de 2018, sob a liderança do presidente Ilan Goldfajn, todas as decisões foram reportadas unânimes.
No mandato mais recente de Roberto Campos Neto, desde fevereiro de 2019, a grande maioria das decisões também foi unânime, mesmo as menos usuais como o corte da taxa até 2%, ou posteriores elevações da magnitude de 150 pb entre 2021 e 2022. A única divergência de voto aconteceu na reunião de setembro de 2022, quando houve 7 votos a favor da manutenção da Selic em 13,75% e 2 votos a favor de uma última alta para 14% (enquanto as apostas na B3 estavam distribuídas entre 60% e 40%, respectivamente). Desde então, as decisões pela manutenção voltaram a ser unânimes. No entanto, na última ata, foi relatado que um grupo predominante era mais favorável à comunicação do início do corte próximo, enquanto outro grupo se mantinha mais cauteloso.
Expectativa para as próximas reuniões
Apesar da evolução do cenário desde a última reunião permitir um corte inicial na Selic de 50 pb, o comunicado anterior do Copom indica que o início do ciclo será feito com parcimônia, ou seja, 25 pb, semelhante ao observado em 2016. A melhora no cenário, que deve permitir o início dos cortes na taxa Selic, inclui a queda da inflação acima do esperado bem como redução nas expectativas de inflação, principalmente nos prazos mais longos, reduzindo boa parte da desancoragem observada desde o início do ano, quando o governo questionou a meta de inflação.
As medidas de núcleo também indicam desaceleração, mas a inflação de serviços apresentou leve alta em junho, o que pode ser o fator preponderante para a maior cautela por parte do Copom. A agenda de divulgações ainda é relevante até a reunião na próxima semana, principalmente com dados do IPCA-15, desempenho do crédito e mercado de trabalho. Indicadores apontando para uma desaceleração maior da atividade e menor pressão inflacionária podem mudar a percepção de risco e construir um consenso acerca do corte inicial de 50 pb.