Taxa de desemprego surpreende ao recuar para 8,3% no último trimestre, a melhor para o período desde 2014
Resultado indica redução de 0,4 p.p. na taxa de desemprego em relação ao trimestre findo em setembro, bem melhor que a expectativa do mercado, que contava com redução de apenas 0,2 p.p. Mesmo ao levar em consideração fatores sazonais, que tendem a favorecer os resultados nos últimos meses do ano, a queda permaneceu expressiva (0,24 p.p.), o que corrobora a força do mercado de trabalho brasileiro, e reflete o maior dinamismo das atividades de serviços, que vem liderando o crescimento econômico.
O contingente de ocupados aumentou em quase 1 milhão de pessoas (+1%) e atingiu novo recorde para série histórica em 99,7 milhões. Já o contingente de desocupados (-8,7%) atingiu o patamar de 9 milhões de pessoas, menor nível desde o trimestre móvel findo em julho de 2015. Por outro lado, a taxa de participação na força de trabalho tem se mantido estável desde abril deste ano, possivelmente refletindo um efeito colateral das políticas de transferência adotadas no período.
Redução da taxa de desemprego no trimestre se deve exclusivamente ao mercado de trabalho formal
Enquanto o contingente de trabalhadores com carteira assinada cresceu 0,95%, a população ocupada informal recuou 0,8%. Apesar do resultado refletir uma tendência de formalização associada às mudanças estruturais advindas da reforma trabalhista, quedas no estoque de empregos informais geralmente antecedem uma deterioração no mercado de trabalho como um todo, indicando provável desaceleração no ritmo de crescimento do setor formal nos próximos meses.
Aumento de ocupados no trimestre
É consequência principalmente do comportamento de informação, comunicação, atividades financeiras e administrativas (+2,8%) e serviços públicos (+1,8%). O setor público tem se beneficiado significativamente da retomada de serviços presenciais que sofreram mais intensamente nos últimos dois anos, como o ensino presencial, enquanto a performance de informação e comunicação e serviços profissionais têm refletido o ambiente mais flexível para novas contratações.
Entre os segmentos do setor privado, o ritmo de novas contratações no comércio, alojamento e alimentação, agricultura e construção desacelera
Cabe destacar que o contingente de ocupados de alojamento e alimentação recuou 3,7%, apesar de ainda estar 6,4% abaixo do patamar pré-pandemia. A desaceleração na construção, que é um setor composto por um contingente significativo de informais, reflete o cenário mais desafiador causado pelo patamar contracionista da taxa básica de juros.
Com arrefecimento da inflação no trimestre, o rendimento real habitual médio cresceu 2,9%. O rendimento nominal tem subido desde o início de 2022, no entanto, não o suficiente para acompanhar a inflação na maioria dos meses. Após a recente redução no ritmo de variação dos preços, os reajustes e o crescimento salarial finalmente estão sendo capazes de superar a inflação do último ano.
Massa real de rendimento habitual cresce 4% no trimestre findo em outubro. A tendência de aumento desse indicador começou desde o início do ano, principalmente devido ao aumento do número de ocupados. Caso tal tendência desacelere nos próximos meses, o efeito acumulado das últimas variações na renda agregada ainda permanecerá significativo, contribuindo para sustentar a atividade econômica e a arrecadação tributária.
Resultado do CAGED mostra desaceleração do mercado de trabalho formal e contrasta com dados do PNAD
Segundo o CAGED, foram criados 159 mil empregos formais em outubro, bem abaixo da expectativa do mercado, que contava com a criação de 210 mil vagas. O número de admissões e desligamentos desaceleram no último mês para 1,79 e 1,63 milhões respectivamente. Com o resultado, o estoque de vagas abertas totalizou 43 milhões, superando em 4,9 milhões o patamar pré-pandemia.
Desaceleração no ritmo de novas contratações nos dados do CAGED é justificado principalmente pela indústria e pela construção
A quantidade de empregos formais criados em outubro por esses setores foi muito aquém da média mensal dos últimos dois anos, o que indica possível interrupção da acelerada tendência de crescimento do mercado de trabalho formal. Tanto a indústria como a construção são atividades mais cíclicas e, portanto, mais sensíveis às condições monetárias. Prospectivamente, a perspectiva de estagnação econômica e manutenção de juros em patamar contracionista serão barreiras para o crescimento desses setores.
Criação de empregos formais no setor de serviços (+91 mil) continua sendo destaque no CAGED. Esse resultado reflete, majoritariamente, o crescimento do grupamento informação, comunicação, atividades financeiras e imobiliárias (+49 mil), cujo estoque de trabalhadores com carteira assinada já se encontra 18% acima do patamar pré-pandemia. Além disso, ainda observamos variações positivas em alojamento e alimentação (+14,6 mil), em administração pública (+13,5 mil) e em transporte (+10,4 mil), o que corrobora a resiliência do setor de serviços mesmo diante do cenário mais desafiador atual.
Comparação CAGED e PNAD
A diferença entre as leituras para o mercado de trabalho formal do CAGED e do PNAD é consequência de variações associadas à metodologia dessas pesquisas. Os dados do PNAD são divulgados em médias móveis trimestrais, o que tende a suavizar a série, enquanto nos dados do CAGED não há esse ajuste, o que tende a tornar a série mais volátil. Historicamente, como é possível observar no gráfico, mudanças de tendência no CAGED anteciparam por um período médio entre dois e três meses mudanças no PNAD. Se a desaceleração do CAGED observada em outubro se consolidar nos próximos meses, o PNAD também deverá mostrar uma variação mais baixa no número de ocupados formais ainda no último trimestre do ano, o que está em linha com a forte desaceleração já observada para o mercado de trabalho informal.