Inflação alcança 1,62% em março
Embora uma alta forte já fosse esperada, a variação superou nossa projeção de 1,4% e a mediana da expectativa do mercado de 1,35%. Em particular, chama a atenção os aumentos de preços de alimentos e itens monitorados, como combustíveis. Para abril, o IPCA deve ser atenuado pelo retorno da bandeira tarifária verde, mas ainda veremos pressão altista em outros itens. Em 12 meses, o índice de preços acumula 11,3%, com a inflação subjacente também rodando em patamar bastante elevado.
Nesse cenário de inflação corrente mais elevada, revisamos nossa projeção de IPCA de 6,7% para 7,4% para 2022, acima do teto da meta de 5,0%. No entanto, as próximas reuniões de política monetária têm como foco a meta de 3,25% em 2023. Com o impacto defasado da elevação dos juros, além de uma relativa estabilização das commodities e do câmbio, observada nas últimas semanas, projetamos inflação de 3,7% para 2023, se aproximando da meta, o que possibilita o Banco Central efetuar o último ajuste da Selic em maio, terminando o ciclo em 12,75%. Caso tenhamos novos choques ou uma persistência maior da inflação, um novo ajuste em junho poderá ser observado.
Alimentação em domicílio registra 3,1% em março
Número representa forte aumento em relação à variação de 1,7% em fevereiro. Todas as principais subdivisões aceleraram no mês. Alimentos in natura registraram 10,2%, com destaque para tubérculos, raízes e legumes. Segundo a Conab, os preços de frutas e hortaliças ainda seguem impactados pelas condições climáticas. Alimentos semielaborados e industrializados, por sua vez, registraram aumentos também relevantes de 1,4% e 1,9%, respectivamente.
Alta de alimentos deve continuar no curto prazo. Apesar da apreciação cambial recente, dados do IGP da FGV mostram aceleração dos preços na indústria alimentícia, que devem ser repassados ao consumidor final nos próximos meses. Os preços de alimentação fora do domicílio, que observaram alta de apenas 0,65% em março, podem ser pressionados pelo custo mais alto. A médio prazo, no entanto, os preços de cereais podem se beneficiar da safra recorde projetada para 2022, com destaque para o crescimento de 27% na produção de milho, o que pode atenuar a inflação de alimentos.
Monitorados avançaram 2,65% em março
O preço da gasolina teve alta de 6,9% no mês, superando nossa projeção de 5,3%. Para abril, o reajuste recente da Petrobrás deve ainda impactar o IPCA, com alta próxima de 3,0% para a gasolina, o que contribuiria com 0,2 p.p. para o índice cheio. O gás de botijão também surpreendeu nossas expectativas com elevação de 6,6% em março, e deve ter alta similar à da gasolina em abril.
Produtos farmacêuticos serão fonte adicional de pressão nos monitorados em abril. Conforme decisão da CMED, medicamentos terão reajuste do preço máximo ao consumidor de 10,9% a partir desse mês, em função da elevada inflação passada. É importante ressaltar que o percentual definido representa o teto do ajuste, de forma que a variação efetiva de preços depende também da concorrência entre as empresas do setor. Esperamos alta próxima de 3,7% em abril, o que contribuiria com 0,11 pp para o IPCA no mês.
No lado positivo, a bandeira tarifária será corrigida para verde a partir de 16 de abril. Esse movimento vem em linha com a melhora dos indicadores hídricos que ressaltamos nos últimos relatórios, com o nível de reservatórios no sudeste próximo de 64,0% da capacidade. Dessa forma, o déficit na conta de bandeiras foi reduzido para R$ 5,4 bilhões até fevereiro, o que permitiu o ajuste na bandeira tarifária. De acordo com o governo, a conta de luz deve ter redução média próxima de 20%, o que traz uma queda de 1,0 p.p. para o IPCA ao longo das próximas duas divulgações. Vale lembrar que a bandeira verde não compunha o cenário base do mercado, de forma que esse movimento pode atenuar a elevação da expectativa de inflação para o ano, contribuindo também para reduzir as pressões de custos às empresas no médio prazo.
Bens industriais tiveram alta de 1,2% em março
Roupas e calçados tiveram aumentos respectivos de 1,8% e 2,0%. O grupo de duráveis, por sua vez, recuou para 0,52%, ante uma média de 1,5% nos seis meses anteriores. Em particular, a variação dos preços de automóveis desacelerou para 0,47%, enquanto eletroeletrônicos observaram queda de 0,29%. A desaceleração de duráveis deve se intensificar nos próximos meses, com a massa salarial ainda limitada em termos reais, a elevação do custo do crédito e o câmbio em patamar mais baixo.
Reajustes salariais ainda mostram fraqueza, mas inércia inflacionária preocupa
Conforme argumentamos anteriormente, a ociosidade no mercado de trabalho aponta na direção de desaceleração da inflação, via queda da demanda e dos salários reais. De acordo com dados mais recentes do Ministério da Economia, a correção dos salários defasou a inflação em cerca de 1,0% até fevereiro. Nesse mês, cerca de 60,5% dos acordos foram feitos com reajustes abaixo da inflação, enquanto apenas 24,4% obtiveram aumento do poder de compra. À médio prazo, a falta de correção dos salários deve frear os custos das firmas e a demanda, contribuindo para a contenção da inflação.
Apesar desse fator, o curto prazo mostra uma inflação de serviços ainda contaminada pelos diversos choques inflacionários dos últimos meses. Em março, os serviços subjacentes tiveram alta de 0,78%, equivalente a 9,8% em termos anualizados, acima da leitura acumulada em 12 meses de 7,0%. O índice de difusão registrou 76,1%, mantendo o patamar bastante elevado das últimas divulgações, enquanto a média dos núcleos acelerou para 9,0% em 12 meses.
Com a inflação de 2023 ganhando relevância na tomada de decisão do COPOM, a evolução das expectativas deve ter destaque nas próximas semanas. De acordo com o relatório Focus mais recente, a mediana dos economistas espera IPCA de 3,8% em 2023, acima do centro da meta de 3,25%. No entanto, alguns fatores recentes ainda devem ser incorporados nos modelos.
Do lado positivo, o câmbio mais valorizado e a queda da energia elétrica, com a bandeira verde, podem atenuar as pressões de custos das firmas e limitar repasses no próximo ano. A manutenção da bandeira verde é condicional ao cenário hídrico favorável até o final do próximo ano. Por outro lado, o nível de inflação corrente mais elevado pode trazer uma piora da perspectiva para a inércia inflacionária, afetando as projeções de médio prazo. Caso esse segundo fator se mostre mais relevante, e as expectativas acelerem para 2023, o Banco Central poderá continuar o processo de elevação da Selic após maio, subindo a taxa acima da atual expectativa de fim de ciclo em 12,75%.