Macroeconomia


Inter Forecast | Revisão de Cenário |Set.23

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Rafaela Vitória

Publicado 22/set

Desinflação em curso mas cautela no corte de juros

Revisamos nossa projeção de IPCA de 5,0% para 4,85% em 2023, e de 3,8% para 3,7% em 2024. Apesar da recente alta dos preços dos combustíveis, a inflação em agosto trouxe nova surpresa de baixa, puxada pelos serviços e a desaceleração deve continuar nos próximos meses.

Mantemos nossa expectativa de corte da Selic em 50 p.b. em novembro, mas reduzimos a previsão anterior de aceleração do ritmo em dezembro. O Copom deve manter o ritmo de corte em 50 p.b nas próximas reuniões e terminar o ano em 11,75%, acima da nossa previsão anterior de 11,50%. Para 2024, mantemos o orçamento de corte total até 9%, mas seguindo no ritmo mais moderado e com um maior risco no cenário de eventual pausa.

Revisamos nossa expectativa de déficit primário de 0,9% para 1,2% do PIB em 2023 e de 0,7% para 1,0% em 2024. A queda da arrecadação nos últimos meses e a manutenção do forte crescimento de despesas deve resultar em um maior déficit primário em 2023 e tornar o cumprimento da meta mais difícil em 2024.

Com a surpresa positiva do PIB do 2o trimestre, revisamos nossa projeção de crescimento do ano de 2,2% para 2,8%. Para 2024, mantemos a expectativa de desempenho desacelerando, com cresciemnto esperado em 1,5%, com efeito da política monetária ainda restritiva no consumo e investimento, juntamente com a desaceleração da economia global.

Cenário externo ainda é desafiador. A lenta queda da inflação nos EUA deve manter os juros lá fora mais elevado por mais tempo. Com o crescimento da China desapontando, o risco de recessão deve continuar no radar dos investidores em 2024.

A recente alta das commodities pode resultar em um repique da inflação, mas beneficia a balança comercial. Após meses de queda nos custos de matérias primas e bens industriais, devemos começar a ver uma normalização nos próximos meses. A cotação do petróleo voltou para o patamar acima de $90/barril. O atual patamar de commodities deve continuar beneficiando as exportações brasileira e revisamos a estimativa de superávit comercial de US$75 bilhões para US$90 bilhões em 2023.

Inflação abaixo da expectativa

A queda maior da inflação foi puxada principalmente por uma desaceleração em serviços. O IPCA de agosto trouxe nova boa notícia com a inflação de serviços em queda, acumulando 5,4% em 12 meses. Projetamos que o segmento deve continuar apresentando variações menores e até o final do ano a inflação de serviços deve chegar a 5%. Com isso, revisamos nossa projeção do IPCA de 5,0% para 4,85% e em 2024 de 3,8% para 3,7%.

A recente alta das commodities pode resultar em um repique da inflação, mas beneficia a balança comercial. Após meses de queda nos custos de matérias primas e bens industriais, devemos começar a ver uma normalização nos próximos meses. A cotação do petróleo voltou para o patamar acima de $90/barril. O atual patamar de commodities deve continuar beneficiando as exportações brasileira e revisamos a estimativa de superávit comercial de US$75 bilhões para US$90 bilhões em 2023.

Nossa expectativa para o câmbio se mantém em R$4,90 para o segundo semestre. Após chegar na mínima em R$4,72 em julho, o dólar voltou a subir no mercado internacional com a maior aversão à risco, refletindo também na desvalorização do real que voltou a se aproximar de R$5,00 nas últimas semanas. Mantemos nossa estimativa de cambio médio em R$4,90 até o final do ano com base no forte fluxo comercial e ainda elevado diferencial de juros, mesmo com a precificação dos cortes da Selic nas taxas de juros futuras.

Próximos cortes da Selic em 50 p.b.

Com o aumento do risco no cenário externo e ainda incertezas com relação ao cumprimento da meta fiscal, revisamos nossa expectativa para a Selic no final do ano de 11,75% para 11,50%. A queda da inflação e a redução das expectativas de mercado para 2024 devem permitir a continuidade dos cortes, mas uma esperada aceleração do ritmo fica descartada devido à piora no balanço de risco. Para 2024, mantemos nossa estimativa de Selic em 9% ao final de 2024, mas com um risco de uma eventual pausa nos cortes devido às discussões sobre revisões na meta fiscal com potencial impacto negativo nas expectativas de inflação e cenário externo contemplando juros mais altos por mais tempo.

Resultado Fiscal deteriora

Nos últimos 3 meses, observamos uma surpresa negativa no resultado da arrecadação, que só em agosto teve queda real de 4%. A desaceleração da atividade e a queda na cotação das commodities tem frustrado expectativas de receita do governo, tanto pelos impostos sobre a receita (PIS/Cofins) como pelo IRPJ. Com o crescimento de gastos em linha com a proposta da Pec da transição, que deve chegar a 6% acima da inflação em 2023, revisamos nossa expectativa de déficit para o ano de R$90 para R$125 bilhões, 1,2% do PIB, o que significa um desafio ainda maior para a meta de zero em 2024. Para 2024, mesmo incorporando parcialmente o acréscimo de receitas das novas medidas enviadas ao congresso, elevamos nossa projeção de déficit de R$80 bilhões para R$110 bilhões, ou 1% do PIB.

Crescimento maior do PIB

Revisamos nossa projeção de crescimento do PIB de 2,2% para 2,8% em 2023. Os dados do 2o trimestre mostraram crescimento acima do esperado, puxado por um desempenho mais resiliente do setor de serviços, ainda que com uma marcada desaceleração. Para o 2o semestre esperamos que a desaceleração do crescimento continue, principalmente pelo lado do investimento e do consumo, refletindo a menor oferta de crédito.

Para 2024, o crescimento do PIB deve ficar próximo de 1,5%. O cenário externo deve seguir mais desafiador, com menor demanda global tanto da China como dos países desenvolvidos, devido ao aperto monetário em curso. O crescimento esperado já reflete a expectativa de impacto do início do afrouxamento monetário.


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