Macroeconomia


Inter Forecast | Revisão de Cenário | Set.22

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Rafaela Vitória

Publicado 19/set7 min de leitura

Inflação em baixa e PIB em alta

Elevamos a projeção do PIB de 2022 de 2,3% para 2,8% e de 0,7% para 1,0% em 2023. Após o crescimento maior que o esperado no 2o trimestre, dados de julho e agosto apontam para nova alta da atividade. Para 2023, ainda devemos ter uma desaceleração puxada pela demanda global mais fraca e pelos juros restritivos por aqui, mas ainda assim, o PIB deve apresentar crescimento próximo de 1%, puxado pelo ciclo de investimentos.

A inflação segue em tendência de desaceleração. Após a forte alta de preços nos últimos dois anos, a inflação finalmente dá sinais de desaceleração. A queda dos preços dos combustíveis, alimentos e outras matérias primas, puxado pelas menores cotações de commodities no mercado internacional, devem manter a inflação de bens em baixa até o fim de 2022 e, para 2023, reduzir o risco de inércia. Revisamos de 6,5% para 5,8% o IPCA de 2022 e mantemos em 4,7% a expectativa para 2023.

Esperamos que o Copom mantenha a Selic em 13,75% na próxima reunião. Apesar da inflação em queda, inclusive a expectativa do mercado para 2023, o comunicado ainda deve ser mais duro, indicando que a taxa deve permanecer longa por um prazo longo, pesando no cenário a incerteza sobre potenciais novos gastos públicos que possam impactar a demanda no próximo ano.

O principal risco para o nosso cenário é externo. A elevada inflação nos EUA e os ajustes nas políticas monetárias em diversos países devem resultar em demanda global mais fraca em 2023. A queda da atividade na China, especialmente o menor crescimento da construção, também traz riscos para o cenário de recessão nos próximos trimestres.

PIB de 2,8% em 2022 e 1,0% em 2023

O setor de serviços teve forte crescimento no 2o trimestre e deve continuar puxando a alta do PIB em 2022. O 2o trimestre surpreendeu com dados mais fortes dos setores de serviços e uma melhora inesperada no mercado de trabalho. Mesmo com uma desaceleração a partir do 4o trimestre de 2022, devido ao maior impacto da política monetária contracionista, o crescimento do PIB em 2022 deve alcançar 2,8%, também beneficiado pelos estímulos fiscais como aumento das transferências de renda no segundo semestre. O crescimento dos investimentos também foi um fator positivo para o maior crescimento observado, impulsionado pelos novos marcos regulatórios e mercado de capitais e, devido ao ciclo mais longo, deve resultar em crescimento da atividade também em 2023.

Inflação desacelera

A redução do preço da gasolina agora é seguida de queda nos preços dos alimentos. Após dois meses de deflação, -0,68% em julho e -0,36% em agosto, setembro pode ser o terceiro consecutivo, agora puxado pela queda dos preços dos alimentos. A redução das commodities tem trazido alívio para a inflação de bens, mas também já vemos desaceleração da inflação de serviços, apesar que para esse grupo, a queda será mais lenta. Para 2022, revisamos a expectativa de IPCA de 6,5% para 5,8% e para 2023 mantemos em 4,7%, no teto da meta do Banco Central.

Selic em 13,75% até março de 2023

Esperamos que a Selic permaneça no elevado patamar de 13,75% até o primeiro trimestre de 2023. A Selic deve permanecer elevada por alguns meses, até as expectativas de inflação convergirem para dentro da meta entre o final de 2023 e 2024. Com a demanda global desaquecendo e a normalização nas cadeias de produção, a inflação de bens deve continuar desacelerando nos próximos meses. Assim, teremos um risco de inércia inflacionária menor para 2023 e uma desaceleração da inflação de serviços também pode ser esperada. Acreditamos que ainda no 1o semestre de 2023, deva haver espaço para redução dos juros, entre as reuniões de março e maio, desde que o novo governo eleito reforce o compromisso de consolidação fiscal mantendo a expectativa de superavit primário para os próximos anos. Caso novas medidas de ampliação de gastos voltem à pauta, como o abandono da âncora fiscal e sem compromisso com a trajetória declinante da dívida pública, poderíamos ver uma nova elevação da inflação e manutenção da Selic em elevado patamar por mais tempo.

Cenário Fiscal

Com o superavit primário de 1,1% em 2022, a dívida/PIB deve ter nova redução para 76,5%. Para 2023, a arrecadação deve continuar robusta, considerando o atual patamar das commodities e o mercado de trabalho em recuperação. Mantendo o teto de gastos e uma flexibilização de cerca de 0,6% do PIB, projetamos um crescimento da dívida fazendo pico de 81% em 2027, voltando à trajetória de queda a partir de 2028. Um aumento maior dos gastos, de 1,2% por exemplo, significaria dívida/PIB subindo para até 85% em 2030.

Expectativa para os próximos passos do Fomc

O cenário externo permanece desafiador com expectativa de alta de juros e potencial recessão nos EUA em 2023. A inflação americana ainda está elevada em 8,3% em 12 meses até agosto, com núcleo em alta e acima de 6% e o Fed deve subir os juros novamente em 75 bps na próxima reunião. A expectativa é que a taxa terminal chegue próxima de 4,5% até o começo de 2023 e permaneça nesse patamar até o final de 2023. Com o cenário de juros maiores nos EUA, a desaceleração global pode ser maior que o esperado, mas a inflação de bens tende a desacelerar mais rapidamente.


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