Resumo
Projetamos crescimento de 2% para o PIB em 2024 e 2025. A atividade iniciou o ano mais forte com novo impulso fiscal e elevado nível de emprego e renda beneficiando o desempenho do consumo.
A atividade mais aquecida, principalmente em serviços, deve manter a inflação ainda acima da meta em 2024, e mantemos nossa expectativa em 3,9%. Ainda assim, mantemos a projeção de cortes na Selic para 8,50%, considerando a convergência para mais próximo do centro da meta em 2025 em 3,5%.
Risco fiscal: o resultado fiscal deve continuar negativo em 2024, mesmo com a melhora na arrecadação. Estimamos novo déficit próximo de 0,8% do PIB em 2024 e risco com crescimento de despesas permanentes para 2025.
Risco Externo: o cenário externo voltou a trazer mais incerteza com a alta da inflação nos EUA e expectativas de cortes de juros pelo Fed começando apenas em junho e com taxa ao final do ano mais alta, mais próxima de 4,5%.
Começo de ano mais aquecido
Depois de encerrar o ano com PIB estável nos dois últimos trimestres, o começo de 2024 reaqueceu. Os dados de serviços e varejo mostraram forte recuperação em janeiro, após dezembro mais fraco. O IBC-br, indicador de atividade do BC, apontou crescimento de 0,6% em janeiro e indica carrego estatístico de 1% para o PIB no primeiro trimestre.
A taxa de desemprego também segue mais baixa que o esperado: 7,6% em janeiro (vs. 8,4% em jan/23), com crescimento real do salário médio e alta real da massa salarial de 6% em 12 meses, contribuindo para a melhora nas atividades de serviços.
Juntamente com a melhora no emprego e renda, o governo ainda apresenta crescimento nos gastos reais de 6% em janeiro com destaque para novo ganho real do salário-mínimo e crescimento das concessões de benefícios sociais. O impulso fiscal deve manter a atividade mais aquecida nos primeiros meses do ano, mas também representa um risco para a inflação.
Por outro lado, o crédito ainda desacelera, apesar da queda da Selic. Em janeiro, o crescimento das concessões de crédito livre foi de 2,6%, mas o saldo total ainda acumula crescimento de apenas 7,6% em 12 meses, patamar baixo para estimular a reaceleração da economia, principalmente pelo lado do investimento, o que deve ser postergado para o segundo semestre.
Projetamos crescimento do PIB de 2% em 2024, com o cenário de consumo mais favorável no primeiro semestre e retomada do investimento ao longo do ano à medida que o afrouxamento monetário ganha mais força.
A inflação em fevereiro ficou um pouco acima do esperado, mas segue em tendência de baixa no acumulado de 12 meses. Mantemos nossa projeção para o IPCA em 3,9% queda gradual da inflação, do atual patamar de 4,5% em 12 meses. Apesar de esperarmos uma pressão um pouco maior em serviços, no curto prazo teremos uma desaceleração dos preços de alimentos, como já observado nos preços do atacado.
O principal risco para o IPCA continua sendo a inflação de serviços pressionada principalmente pelos salários com o mercado de trabalho aquecido. No médio e longo prazo, a expansão fiscal, mantem as expectativas desancoradas e pode estimular em demasiado a demanda, em face de uma oferta mais restrita com o baixo investimento observado nos últimos trimestres.
Nesse cenário, o Banco Central deve manter a cautela e o ritmo de cortes da taxa Selic em 0,50 p.p. na próxima reunião em maio. Apesar do repique inflacionário no início do ano, a tendencia segue de desaceleração e a taxa Selic, atualmente em 10,75%, ainda é bastante restritiva, com amplo espaço para os próximos cortes. Esperamos cortes de 0,50 p.p. até junho com desaceleração para 0,25 p.p. no segundo semestre. Mantemos a expectativa de taxa em 8,5% ao final de 2024, mas os riscos no cenário externo e o andamento da política fiscal no cenário doméstico podem significar uma interrupção mais cedo do fim do ciclo.
Expectativa de juros mais altos por mais tempo no cenário externo
Revisamos nossa expectativa para a taxa de cambio de R$4,85 para R$4,90 em 2024 e para R$4,95 em 2025. No cenário externo, o adiamento da expectativa de queda de juros pelo Fed pressionou as taxas de juros lá fora, o que por sua vez impactou o cambio em mercados emergentes. O cenário voltou a ser de maior incerteza com relação à trajetória da inflação americana com a atividade ainda aquecida, principalmente o mercado de trabalho. Com juros maiores por mais tempo por lá, o cenário base hoje é de início do ciclo de cortes somente em junho.
Os preços internacionais de commodities tiverem pequena alta entre fevereiro e março, puxado pela alta do petróleo, mas ainda estão próximos das médias dos últimos 12 meses, sem representar pressão significativa na inflação global de bens.