Macroeconomia


Inter Forecast | Revisão de Cenário | Jul.22

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Rafaela Vitória

Publicado 15/jul10 min de leitura

PIB em alta

Os dados de atividade do 2o trimestre confirmam um melhor crescimento do PIB em 2022. Revisamos novamente nossa projeção de crescimento para o ano de 1,6% par 2,1%, mas para 2023 reduzimos de 0,9% para 0,6%, considerando uma expectativa de crescimento global menor.

Inflação menor. Nossa estimativa de IPCA para 2022 foi revisada de 7,7% para 7,5% com o impacto da redução do ICMS em julho e o arrefecimento dos preços das commodities no mercado internacional, mesmo considerando uma taxa de cambio mais depreciada para o segundo semestre, de R$4,90 para R$5,20. Para 2023, também reduzimos nossa projeção de 4,8% para 4,4%, considerando a queda nas commodities, uma menor inércia inflacionária, além do aperto monetário mais longo.

Selic deve chegar a 13,75% em 2022. Ajustamos nossa expectativa de alta da Selic no próximo Copom de 0,25 para 0,50 p.p. mas ainda esperando que seja o encerrado do ciclo de alta. Conforme comunicado pelo BC, a taxa deve permanecer em patamar elevado por mais tempo, uma vez que a convergência da inflação para a meta tende a demorar mais. Porém, com uma conjuntura mais favorável para a inflação, o processo de normalização dos juros pode se iniciar ainda no começo de 2023.

O principal risco para o nosso cenário é externo. A elevada inflação nos EUA, que já acumula 9,1% em 12 meses, vai requerer um aperto monetário maior e trás mais volatilidade para os mercados, deteriorando as condições financeiras globais. A queda mais prolongada na atividade da China e a guerra na Ucrânia também trazem riscos para o cenário de recessão no próximo ano.

PIB de 2,1% em 2022 e 0,6% em 2023

Com o desempenho mais forte da economia no 1o semestre, revisamos nossa projeção do PIB de 1,6% para 2,1% em 2022. O 2o trimestre continua surpreendendo com dados mais fortes dos setores de serviços e uma melhora inesperada no mercado de trabalho. Mesmo com uma desaceleração a partir do 4o trimestre, com o maior impacto da política monetária contracionista, o crescimento do PIB em 2022 deve alcançar 2,1%. O fim das restrições que vigoraram durante quase dois anos de pandemia e a resultante demanda reprimida, além de estímulos fiscais e o uso da poupança estimularam o consumo maior nos últimos meses. A boa performance das atividades ligadas às commodities também contribuíram para a economia, principalmente permitindo uma melhora fiscal e os consequentes aumentos de transferência de renda e redução de impostos.

Inflação menor

Além das reduções de impostos nas tarifas de energia e combustíveis em 2022, estimamos inércia menor em 2023. Após acumular 5,5% no primeiro semestre do ano, esperamos um IPCA mais próximo de 2% no segundo semestre, beneficiado pela redução de impostos e pela queda nas cotações das commodities no mercado internacional, que tende a arrefecer a inflação de alimentos e bens industriais. O movimento de queda nas commodities vem acompanhado de uma valorização do dólar e revisamos nossa estimativa para o cambio para R$5,20, o que tende a amenizar parte do impacto. Para 2023, apesar do risco fiscal ainda trazer incertezas com relação ao comportamento do consumo e expectativas de inflação, revisamos a estimativa de IPCA de 4,8% para 4,4%, considerando uma inércia menor, principalmente nos repasses de preços administrados. O cenário segue com bastante incerteza para 2023, como podemos ver pela dispersão das projeções pelo Focus. A desaceleração das commodities, com a economia global mais fraca, e os juros no patamar já bastante contracionista devem resultar em inflação menor. Parte das projeções seguem influenciadas pela elevada inflação corrente e o principal risco para uma inflação mais persistente em 2023 é uma nova expansão fiscal, que além de estimular a demanda, pode deteriorar o risco pais e impactar a taxa de cambio.

Selic em 13,75% em agosto

Revisamos a estimativa de alta da Selic de 0,25 para 0,50 p.p. mas ainda esperamos o fim do ciclo de na próxima reunião em agosto. A Selic já chegou em patamar bastante restritivo e o BC poderia até parar de subir os juros e aguardar o efeito defasado do aperto monetário. A expectativa de inflação 12 meses a frente está em cerca de 5%, o que significa uma taxa de juro real ex-ante bastante contracionista, mesmo considerando os riscos associados ao estímulo do consumo com as recentes medidas fiscais. A Selic deve permanecer elevada por alguns meses, até as expectativas de inflação convergirem para mais próximo da meta, principalmente para 2024. Mas ainda acreditamos que no 1o semestre de 2023 deve haver espaço para redução dos juros, desde que o novo governo eleito reforce o compromisso de consolidação fiscal mantendo a expectativa de superavit primário crescente para os próximos anos. Caso novas medidas de ampliação de gastos continue a serem implementadas em 2023, com o abandono da âncora fiscal e sem compromisso com a trajetória declinante da dívida publica, podemos ver uma nova elevação da inflação e manutenção da Selic em elevado patamar por mais tempo. No cenário atual, mantemos nossas projeções de superavit primário de 0,3% em 2022 e 0,1% em 2023.

Risco Externo

O principal risco para o nosso cenário é externo. A inflação global é elevada e o maior aperto monetário necessário nos EUA trás mais incerteza para os mercados, com uma deterioração das condições financeiras e risco de recessão. A taxa de juros nos EUA deve chegar próxima de 4%, algo que não se via desde 2008. O Brasil conta com alguns mitigantes para esse cenário, como um balanço de pagamentos mais robusto, reduzindo a necessidade de investimento estrangeiro para financiamento das contas externas e um diferencial de juros que já considera um premio bastante elevado, mesmo para períodos de maior aversão a risco.


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