Resumo
Revisamos nossa projeção de PIB de 2023 de 2,9% para 3,1% e, para 2024, de 1,8% para 2,0%. A atividade foi melhor que o esperado no 4o trimestre e novo impulso fiscal no começo de 2024 também deve manter um nível de crescimento melhor que o esperado anteriormente.
Alteramos nossa expectativa para inflação de 3,7% para 3,9% em 2024, mas mantemos a Selic esperada ao final do ano em 8,5%. O repique inflacionário recente, liderado por alimentos e serviços, deve resultar em uma variação de preços ligeiramente maior em 2024, mas ainda assim, uma desaceleração que deve permitir a continuidade dos cortes de 50 p.p. da Selic pelo Copom nas reuniões ao longo do 1o semestre do ano.
Risco fiscal. O resultado fiscal deve continuar negativo em 2024, mesmo com a melhora na arrecadação. Após forte crescimento dos gastos em 2023, 8% acima da inflação, estimamos déficit de R$100 bilhões em 2024, ou -0,9% do PIB.
Atividade mais resiliente e inflação em tendência de queda mais lenta
Revisamos nossa estimativa para a variação do PIB no 4o trimestre de estável para +0,2%, terminando o ano com alta de 3,1% (ante 2,9%). A atividade voltou a surpreender de maneira positiva no último trimestre do ano puxada pela recuperação da indústria. O consumo segue desacelerando, como observado pelos dados do varejo e serviços, mas ainda contribui de maneira positiva. Para 2024, também revisamos positivamente o crescimento da economia de 1,8% para 2,0% considerando o novo impulso fiscal do começo do ano, resultado do maior pagamento de precatórios liberado efetivamente em janeiro, e o impacto da retomada do crédito no segundo semestre, seguindo o avanço dos cortes na Selic.
A inflação deve seguir a tendência de queda em 2024, apesar das pressões pontuais do começo do ano. Revisamos nossa estimativa de 3,7% para 3,9% após uma pressão de reajustes um pouco maior no primeiro trimestre do ano, em parte já observada nos dados de janeiro, com a alta dos preços nos alimentos e serviços. No entanto, a expectativa permanece de queda gradual da inflação, do atual patamar de 4,5% em 12 meses para 3,9% até o encerramento do ano, e para 3,6% em 2025.
O principal risco para o IPCA no médio e longo prazo continua sendo uma nova expansão fiscal, que poderia estimular ainda mais a demanda, em face de uma oferta mais restrita com o baixo investimento observado nos últimos trimestres e mercado de trabalho próximo da sua capacidade. Ademais, uma nova deterioração fiscal poderia também resultar em desancoragem das expectativas mais longas de inflação, e impactar sua desaceleração corrente.
Câmbio segue favorecido pelo cenário externo e balança comercial superavitária
Mantemos a expectativa para a taxa de câmbio em R$4,85 em 2024. Apesar da esperada queda de juros mais acelerada no cenário doméstico, o fluxo comercial deve seguir forte favorecendo as contas externas e reduzindo a pressão no déficit em conta corrente, que deve se manter próximo de 1% do PIB em 2024. Após encerrar 2023 com superávit de US$98 bilhões, 2024 deve ter novo superávit robusto próximo de US$85 bilhões, favorecido principalmente pelo aumento da exportação líquida de petróleo e derivados.
Mantemos a expectativa para a Selic ao final de 2024 em 8,5% e 8% em 2025. A queda da inflação e a atividade crescendo próximo do potencial em 2% devem permitir a continuidade dos cortes de 50 p.p. na taxa Selic até o 2o trimestre de 2024. O cenário externo mais benigno e início dos cortes de juros pelo Fed em meados de 2024 também devem favorecer a continuidade do afrouxamento monetário aqui no Brasil. Mesmo encerrando o ciclo em 2024 em 8,5%, a taxa Selic ainda estará restritiva nesse patamar, considerando a inflação esperada em 3,6% em 2025. Uma interrupção do ciclo de cortes, ou uma redução prematura do ritmo de cortes pode ocorrer caso cenário externo volte a deteriorar ou mudanças na política fiscal tenham impacto no câmbio e nas expectativas de inflação mais longas.
Risco Fiscal
Resultado fiscal deficitário deve continuar sendo o principal desafio em 2024. O déficit primário estrutural em 2023 foi de cerca de 1,5% do PIB, resultado de uma combinação de redução na arrecadação e crescimento das despesas. A expansão de gastos elevou a relação da despesa sobre o PIB de 18% em 2022 para 19% em 2023, enquanto as receitas caíram para 17,5%. A meta de zerar o déficit segue bastante desafiadora, uma vez que recompor todo o espaço com aumento de arrecadação tende a ser negativo para a economia, impactando a inflação e desacelerando a atividade. O melhor desempenho da atividade e as medidas recentemente aprovadas podem contribuir para uma melhora nas receitas em 2024, mas ainda é necessário o controle dos gastos públicos, que ainda estão subestimados no orçamento, para que o déficit tenha redução em 2024. Estimamos déficit de 0,9% do PIB em 2024, o que já contempla melhora na arrecadação e representa uma melhora em relação ao ano passado, ainda que distante da meta 0% do governo. A trajetória da dívida deve seguir em alta e esperamos dívida bruta/PIB de 76% em 2024.