Macroeconomia


Inter Forecast | Revisão de Cenário | Fev.23

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Rafaela Vitória

Publicado 16/fev5 min de leitura

Resumo

Revisamos nossa projeção de inflação de 5,4% para 5,5% para 2023 e de 3,5% para 3,7% para 2024. A recente alta da gasolina e a revisão em alíquotas de impostos devem pressionar os preços administrados no ano, que podem subir até 8%. Por outro lado, a inflação de bens deve seguir desacelerando mais rapidamente, como indica os índices de preços ao produtor em patamar negativo. Esperamos crescimento do PIB de 3% em 2022, com queda marginal de 0,2% no 4o trimestre. Após robusto crescimento em 2022, a economia deve desacelerar em 2023, com crescimento de 0,8% no ano puxado pelo setor de agropecuária, enquanto a indústria deve seguir mais fraca com o aperto monetário em curso. Mantemos nossa projeção de início do ciclo de cortes da Selic para agosto, com a taxa em 12% ao final do ano. O recente debate sobre revisão de metas e questionamentos sobre a autonomia do BC teve impacto negativo nas expectativas de longo prazo. No entanto, a inflação corrente segue em tendência de queda, incluindo as medidas de núcleos e serviços o que deve permitir o início do afrouxamento no segundo semestre do ano. Risco fiscal. Projetamos déficit primário de 1% em 2023, uma reversão em relação ao superávit de 1,3% de 2022. O aumento de gastos, que inclui reajustes adicionais do salário-mínimo e a ausência de âncora fiscal mantém elevada a desconfiança do mercado, impactando os juros futuros. A inflação de serviços deve desacelerar mais lentamente e é o risco altista para a inflação esse ano. Reajustes nos setores de educação e as próximas revisões salariais podem pressionar no curto prazo. A inflação ainda alta e a desancoragem das expectativas mais longa, devido aos questionamentos sobre a revisão de meta e autonomia do BC, impactaram negativamente as projeções para 2024.

Inflação segue desacelerando, mas lentamente

Revisamos nossa projeção de IPCA de 5,4% para 5,5% em 2023 e de 3,5% para 3,7% em 2024. O recente reajuste da gasolina e a expectativa de aumento de impostos no ano deve impactar principalmente a inflação de itens monitorados. Por outro lado, a inflação ao produtor segue em queda, com variações do IPA voltando para o patamar negativo. O viés positivo para a inflação de bens no ano também pode ser observado pela cotação de commodities, que segue em baixa, apesar das revisões de maior crescimento global e reabertura da China.

A inflação de serviços deve desacelerar mais lentamente e é o risco altista para a inflação esse ano. Reajustes nos setores de educação e as próximas revisões salariais podem pressionar no curto prazo. A inflação ainda alta e a desancoragem das expectativas mais longa, devido aos questionamentos sobre a revisão de meta e autonomia do BC, impactaram negativamente as projeções para 2024.

Primeiro corte da Selic pode acontecer em agosto

Mantemos nossa expectativa de cortes na Selic iniciando em agosto. A polêmica sobre o elevado patamar da taxa de juros e a meta de inflação não impactou nossa estimativa de curto prazo para a trajetória da Selic. A inflação em queda esse ano deve abrir espaço para novos cortes a partir de agosto. No entanto, a maior incerteza com as expectativas de longo prazo pode continuar impactando as projeções.

O principal erro no debate é antecipar uma discussão sobre a meta de inflação antes da apresentação da nova âncora fiscal. As incertezas no cenário acabaram se acentuando com relação à condução das políticas econômicas do governo, que, a que tudo indica, devem ser mais expansionistas e manter inflação maior no longo prazo, o que pode resultar em Selic terminal maior.

PIB desacelera no 4o trimestre

O crescimento de 3% do PIB de 2022 não deve se repetir em 2023. Com os dados de atividade do 4o trimestre em mãos, o PIB que será divulgado no começo de março deve confirmar crescimento de 3% no ano. No entanto, o 4o trimestre foi marcado por nova desaceleração e esperamos uma queda marginal da atividade de 0,2%. O crescimento em 2022 foi concentrado na primeira metade do ano, e a desaceleração no segundo semestre mostra que o aumento de gastos promovido pelo governo a partir de julho, com a PEC dos benefícios, não gerou impulso fiscal que resultasse em crescimento da atividade. O efeito da política monetária mais restritiva acaba anulando o impulso fiscal. Esse é um importante ponto de atenção para o novo governo. Com juros em patamar restritivo e a economia com baixa capacidade ociosa, uma nova expansão fiscal pode acabar gerando mais inflação, e não o crescimento da atividade como desejado.

Para 2023, esperamos crescimento do PIB de 0,8%, puxado pelo setor da agropecuária. A safra recorde esperada para esse ano deve dar contribuição positiva para o PIB, mesmo com o aperto monetário em curso. As exportações devem ser destaque e ser a principal contribuição positiva pelo lado da demanda. Já a indústria e os setores de serviços devem seguir perdendo força, com a desaceleração do crédito e a queda da confiança, permeada pelo elevado nível de incerteza.

Cenário externo

O cenário externo permanece desafiador, mas o começo de 2023 tem sido marcado por uma revisão mais positiva para a demanda global. Apesar do crescimento esperado para a economia global ser marginalmente maior, as cotações das commodities seguem em queda nesse começo do ano, o que pode contribuir para o alívio da inflação global e um aperto monetário mais moderado.


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