Inflação segue desacelerando, mas lentamente
Revisamos nossa projeção de IPCA de 5,4% para 5,5% em 2023 e de 3,5% para 3,7% em 2024. O recente reajuste da gasolina e a expectativa de aumento de impostos no ano deve impactar principalmente a inflação de itens monitorados. Por outro lado, a inflação ao produtor segue em queda, com variações do IPA voltando para o patamar negativo. O viés positivo para a inflação de bens no ano também pode ser observado pela cotação de commodities, que segue em baixa, apesar das revisões de maior crescimento global e reabertura da China.
A inflação de serviços deve desacelerar mais lentamente e é o risco altista para a inflação esse ano. Reajustes nos setores de educação e as próximas revisões salariais podem pressionar no curto prazo. A inflação ainda alta e a desancoragem das expectativas mais longa, devido aos questionamentos sobre a revisão de meta e autonomia do BC, impactaram negativamente as projeções para 2024.
Primeiro corte da Selic pode acontecer em agosto
Mantemos nossa expectativa de cortes na Selic iniciando em agosto. A polêmica sobre o elevado patamar da taxa de juros e a meta de inflação não impactou nossa estimativa de curto prazo para a trajetória da Selic. A inflação em queda esse ano deve abrir espaço para novos cortes a partir de agosto. No entanto, a maior incerteza com as expectativas de longo prazo pode continuar impactando as projeções.
O principal erro no debate é antecipar uma discussão sobre a meta de inflação antes da apresentação da nova âncora fiscal. As incertezas no cenário acabaram se acentuando com relação à condução das políticas econômicas do governo, que, a que tudo indica, devem ser mais expansionistas e manter inflação maior no longo prazo, o que pode resultar em Selic terminal maior.
PIB desacelera no 4o trimestre
O crescimento de 3% do PIB de 2022 não deve se repetir em 2023. Com os dados de atividade do 4o trimestre em mãos, o PIB que será divulgado no começo de março deve confirmar crescimento de 3% no ano. No entanto, o 4o trimestre foi marcado por nova desaceleração e esperamos uma queda marginal da atividade de 0,2%. O crescimento em 2022 foi concentrado na primeira metade do ano, e a desaceleração no segundo semestre mostra que o aumento de gastos promovido pelo governo a partir de julho, com a PEC dos benefícios, não gerou impulso fiscal que resultasse em crescimento da atividade. O efeito da política monetária mais restritiva acaba anulando o impulso fiscal. Esse é um importante ponto de atenção para o novo governo. Com juros em patamar restritivo e a economia com baixa capacidade ociosa, uma nova expansão fiscal pode acabar gerando mais inflação, e não o crescimento da atividade como desejado.
Para 2023, esperamos crescimento do PIB de 0,8%, puxado pelo setor da agropecuária. A safra recorde esperada para esse ano deve dar contribuição positiva para o PIB, mesmo com o aperto monetário em curso. As exportações devem ser destaque e ser a principal contribuição positiva pelo lado da demanda. Já a indústria e os setores de serviços devem seguir perdendo força, com a desaceleração do crédito e a queda da confiança, permeada pelo elevado nível de incerteza.
Cenário externo
O cenário externo permanece desafiador, mas o começo de 2023 tem sido marcado por uma revisão mais positiva para a demanda global. Apesar do crescimento esperado para a economia global ser marginalmente maior, as cotações das commodities seguem em queda nesse começo do ano, o que pode contribuir para o alívio da inflação global e um aperto monetário mais moderado.