Resumo
Revisamos nossa projeção de IPCA de 4,6% para 4,45% em 2023 e mantemos em 3,7% para 2024 e 3,6% em 2025. A inflação segue em baixa no curto prazo, mas deve permanecer acima do centro da meta.
Alteramos nossa expectativa para a Selic ao final de 2024 de 9% para 8,5%. A queda da inflação e a desaceleração da atividade, juntamente com o cenário externo mais benigno, devem permitir cortes de 50 p.p. na Selic até o 1o semestre de 2024, chegando ao final do ciclo em 8,5%, patamar ainda restritivo.
Cenário externo mais benigno e cambio em R$4,85. Com a melhora estrutural no balanço de pagamentos e expectativa de queda de juros pelo Fed em 2024, alteramos nossa estimativa de cambio de R$5,00 para R$4,85 em 2024.
Risco fiscal. O resultado fiscal deve continuar negativo em 2024, mesmo com expectativa de melhora na arrecadação. Após forte crescimento dos gastos em 2023, cerca de 7% acima da inflação, estimamos déficit de R$110 bilhões em 2024, ou -1% do PIB, bem acima da meta zero do governo.
Inflação dentro da meta e Selic mais baixa em 2024
A inflação segue baixa em dezembro e deve fechar o ano em 4,45%, dentro do intervalo da meta, após dois anos de alta. A dinâmica inflacionária no curto prazo segue mostrando tendência de baixa, principalmente para os itens mais sensíveis à política monetária, como as medidas de núcleo e serviços subjacentes. Apesar da inflação menor que o esperado nesse segundo semestre de 2023, mantemos a projeção para 2024 em 3,7% e projetamos 3,6% em 2025. Para 2024, a composição inercial menor deve ser compensada pelo risco de correção dos alimentos, como já observado nos preços agrícolas no atacado. Mas o principal risco para o IPCA no médio e longo prazo continua sendo uma nova eventual expansão fiscal, não só estimulando a demanda, em face de uma oferta mais restrita com o baixo investimento observado e mercado de trabalho ainda aquecido, mas também pela desancoragem das expectativas mais longas.
Alteramos nossa expectativa para a Selic ao final de 2024 de 9% para 8,5%. A queda da inflação e a desaceleração da atividade devem permitir a continuidade dos cortes de 50 p.p. na taxa Selic até o 2o trimestre de 2024. O cenário externo mais benigno e início dos cortes de juros pelo Fed em meados de 2024 também devem permitir a continuidade do afrouxamento monetário no Brasil. Mesmo encerrando o ciclo em 2024 em 8,5%, a taxa Selic ainda estará restritiva nesse patamar, considerando a inflação esperada em 3,6% em 2025. Uma interrupção do ciclo de cortes, ou uma redução prematura do ritmo de cortes pode ocorrer caso cenário externo volte a deteriorar ou mudanças na política fiscal tenham impacto no cambio e nas expectativas de inflação mais longas.
Cambio favorecido pelo cenário externo e balança comercial superavitária
Com a melhora estrutural no balanço de pagamentos e o cenário externo mais benigno, estimamos cambio em R$4,85 em 2024, ante R$5,00 da projeção anterior. A balança comercial deve fechar 2023 com o saldo recorde próximo de US$98 bilhões, impulsionada pelo aumento das exportações agrícolas e de petróleo e derivados. Com isso, o déficit em conta corrente deve ficar próximo de 1,2% do PIB, menor patamar desde 2017. O saldo deve continuar robusto em 2024, mesmo com estimativa de recuperação das importações e preços de commodities acomodando.
Além do forte fluxo comercial, o cenário mais propício para cortes de juros pelo Fed deve enfraquecer o dólar e contribuir para o real mais apreciado, no intervalo entre R$4,70 e R$5,10.
Atividade deve seguir desacelerando em 2024. Após crescimento de 3% até o 3o trimestre de 2023, projetamos uma desaceleração do PIB para 1,8% em 2024 e 2% em 2025. O consumo teve desempenho positivo em 2023, puxado pela melhora no emprego e renda e pelo aumento das transferências do governo. Para 2024, o impulso tende a perder força e o crédito ainda fraco deve ter impacto negativo na demanda das famílias. Por outro lado, o investimento, que teve forte queda em 2023, pode recuperar em 2024 com a queda na taxa de juros e melhora no cenário externo.
Risco Fiscal
Resultado fiscal deficitário deve continuar sendo o principal desafio em 2024. A deterioração do déficit primário em 2023 foi uma combinação de redução na arrecadação e crescimento de despesas. Até novembro, a receita total teve queda de 3,5% (- 1,8% na receita administrada) em função da desaceleração da atividade e queda nos preços das commodities em relação a 2022. Por outro lado, as despesas obrigatórias cresceram 7% acima da inflação até novembro. A expansão de gastos deve elevar a despesa/PIB de 18% em 2022 para 19% em 2023 e a meta de zerar o déficit segue bastante desafiadora, uma vez que recompor todo o espaço com aumento de arrecadação tende a ser negativo para a economia, impactando a inflação e desacelerando a atividade. Para alcançar o ajuste fiscal, o governo precisa voltar a se atentar para o controle do crescimento dos gastos, que exigirá um esforço até mesmo para cumprir as regras do novo arcabouço, desenhado pelo próprio governo.