Resumo
Com o aumento da aversão a risco no cenário externo, combinado com a maior incerteza sobre a trajetória fiscal doméstica, alteramos nossa expectativa para a Selic de 8,5% para 9,25% em 2024.
Projetamos crescimento de 2% para o PIB em 2024 e reduzimos para 1,8% em 2025, resultado do aperto monetário prolongado.
Revisamos nossa projeção de câmbio para R$5,00 em 2024 e R$5,05 em 2025, com o cenário de maior incerteza internacional.
Apesar da inflação mais baixa em março, mantemos nossa expectativa de IPCA em 3,9% para 2024 e 3,5% em 2025, impacto do câmbio maior e alta recente das commodities.
O resultado fiscal deve continuar negativo em 2024 e 2025 e a revisão da meta de primário na PLDO 2025 trouxe maior incerteza sobre a capacidade do governo em controlar o crescimento de gastos.
Juros mais altos por mais tempo no Brasil
Revisamos nossa projeção de Selic para o final de 2024 de 8,50% para 9,25%, mas mantemos em 8,5% a taxa terminal em 2025. Apesar da inflação em março menor que o esperado e indicadores prévios de abril não apontarem mudança na tendência de queda, o balanço de riscos deteriorou nas últimas semanas, tanto pelo cenário externo como doméstico.
A discussão do corte no próximo Copom em maio deve ficar em aberto, apesar do guidance na última ata, e dependente da evolução dos dados nas próximas semanas, principalmente os que afetam o câmbio e as expectativas de inflação futura. Mantemos nossa expectativa de corte de 0,50 p.p. em maio, mas com uma desaceleração para 0,25 p.p na reunião seguinte e encerrando 2024 em 9,25%, mas entendemos que uma deterioração maior do cenário pode resultar em uma adoção de um ritmo menor de corte pelo Copom já em maio, mantendo o tom de cautela desde o início do ciclo.
Nossa expectativa para a inflação se manteve em 3,9% para esse ano, apesar da surpresa de baixa em março. A mudança no patamar de câmbio deve trazer algum impacto nos próximos meses, compensando em parte a desaceleração nos preços dos alimentos que vimos entre março e abril. Para 2025, também mantemos a expectativa em 3,5%, apoiada no maior aperto monetário que perdurará ao longo de 2024 impactando a retomada do crédito e do consumo.
Mudança na meta fiscal ressalta o risco do crescimento da dívida pública
A preocupação com o risco fiscal aumentou após o anúncio de revisão da meta para 2025. Nas últimas semanas, os dados das contas públicas voltaram a preocupar o investidor. Não só o crescimento dos gastos continua elevado, 6% real nos primeiros meses do ano (excluindo o pagamento antecipado dos precatórios em fevereiro), mas a revisão de meta de superávit primário para 2025, de 0,5% para 0%, trouxe um cenário de maior afrouxamento das regras, o que significa que não haverá gatilhos para conter alta de gastos acima do orçado. Nós mantemos a projeção de déficit de R$100 bilhões para 2024 e R$60 bilhões em 2025 (déficit primário de 0,9% e 0,5% respectivamente), mas uma nova frustração pelo lado da receita pode levar a um resultado ainda pior. Vale ressaltar que o déficit nominal tem aceleração ainda maior e ultrapassou R$1 trilhão em 12 meses em fevereiro, acima de 9% do PIB, devido ao elevado custo de dívida que terá nova pressão com a alta de juros observada no mercado.
As despesas obrigatórias continuam tendo crescimento maior que o orçado e acima do limite do arcabouço. O ajuste fiscal e a volta do superávit primário só serão conseguidos com um controle maior dos gastos, incluindo um novo debate e eventual revisão da vinculação, que voltou a valer com o novo arcabouço.
PIB mais forte no 1º trimestre
Projetamos crescimento do PIB de 1% no primeiro trimestre de 2024. Os dados de varejo puxaram a alta de 0,4% no IBC-br do mês, resultado do novo impulso fiscal observado no começo do ano. A taxa de desemprego também segue mais baixa que o esperado: 7,8% em fevereiro (vs. 8,6% em fev/23), com crescimento real da massa salarial de 6% em 12 meses, contribuindo para a melhora no consumo das famílias no curto prazo. Apesar da alta forte no 1o trimestre, mantemos a projeção de crescimento em 2% para o ano de 2024, com esperada desaceleração, resultado do aperto monetário prolongado.
Maior incerteza também no cenário externo
Revisamos nossa expectativa para a taxa de câmbio de R$4,90 para R$5,00 em 2024 e de R$4,95 para R$5,05 em 2025. No cenário externo, o adiamento da expectativa de queda de juros pelo Fed pressionou as taxas de juros lá fora, o que por sua vez impactou o câmbio em mercados emergentes. O cenário é de maior incerteza com relação à trajetória da inflação americana, com a atividade ainda aquecida e principalmente o mercado de trabalho. Com juros maiores por mais tempo por lá, o cenário base hoje é de início do ciclo de cortes somente no segundo semestre.
Os preços internacionais de commodities acumulam alta no ano. O índice de commodities IC- Br, calculado pelo BC, acumula alta de 7,7% em reais, puxado pela alta do petróleo. Essa correção deve trazer alguma pressão nos preços de alimentos e eventualmente também nos preços industriais, o que reforça o cenário de maior cautela por parte do Banco Central nos próximos meses.