A inflação ao consumidor americano ficou estável em maio
O resultado foi melhor que o esperado, que era de uma alta de 0,1%. Além disso, o núcleo da inflação também veio abaixo do antecipado, variando apenas 0,2% no mês. Com o resultado, a inflação acumula alta de 3,3%, abaixo dos 3,4% observados em abril, enquanto o núcleo acumula alta de 3,4% no período. O super núcleo, medida acompanhada de perto por Powell que exclui do núcleo da inflação de serviços os gastos com habitação, apresentou variação negativa de 0,04%, acumulando alta de 4,7% nos últimos 12 meses, abaixo dos 4,9% observados em abril, primeira desaceleração nessa métrica desde dezembro.
Mais uma vez, inflação de serviços foi o grande fator de alta, enquanto a inflação de bens continua desacelerando. A inflação de serviços foi responsável por 0,13 ponto percentual do índice cheio de maio, enquanto a inflação de bens retirou 0,01 ponto percentual. No mês, a principal contribuição negativa veio da inflação de serviços, que retirou 0,14 ponto percentual do índice. Na comparação anual, a inflação núcleo de bens desacelerou ainda mais, de -1,3% em abril para -1,7% em maio, enquanto a inflação do núcleo de serviços ficou estável em 5,3%.
De modo geral, foi um resultado bem ameno, com as tendências de altas sendo revertidas, tanto na média móvel de 6 meses quanto na de 3 meses, reduzindo os temores de uma reaceleração inflacionária. Mas alguns pontos de atenção permanecem. Boa parte da desinflação tem vindo pelo lado da inflação de bens e esse movimento está perto de exaurir. Apesar da inflação do núcleo de serviços estar estável, alguns componentes aceleraram, como cuidados médicos. Além disso, a inflação de habitação não tem desacelerado na velocidade antecipada, com a inflação de habitação no mês inclusive acelerando, o que, juntamente a um mercado de trabalho aquecido, pode se mostrar um entrave ao processo de desinflação.
A inflação de maio veio na direção que o Fed gostaria. Ainda assim, na reunião de hoje, o banco central americano não alterou a taxa de juros nem deu um direcionamento mais claro de quanto pretende iniciar o ciclo de cortes. Com um comunicado e coletiva de imprensa sem muitas surpresas, as atenções focaram nas projeções atualizadas dos membros do FOMC, e essas vieram num mais hawkish que o esperado, com o comitê vendo menos espaço para cortes nos juros esse ano.
Em março, última vez que essas projeções foram divulgadas, o comitê antecipava 75 bps de cortes em 2024 e uma taxa de juros de 4,6%. As projeções de hoje indicam que o comitê antecipa apenas 25 bps de cortes esse ano. Além disso, observa-se 4 membros do FOMC não antecipando nenhum corte esse ano, sete antecipando um corte e oito antecipando dois cortes. Portanto, a maioria dos membros não esperam mais que um corte de juros esse ano. Outro destaque é a expectativa de uma taxa de juros neutra maior, com a projeção de longo prazo saindo de 2,6% em março para 2,8%. Finalmente, a projeção de inflação também aumentou, com o FOMC esperando uma inflação de 2,6% ao fim desse ano, ante 2,4% em março.
Na coletiva de imprensa, Powell reforçou a visão de que o comitê espera uma sequência de dados positivos para que ganhem maior confiança de que a inflação está caminhando de maneira sustentável em direção à meta de 2%, e assim poder cortar os juros. Hoje, o grande empecilho para isso continua sendo o mercado de trabalho, que mantém números bastante fortes, com uma taxa de desemprego de 4%. Apesar do bom resultado de inflação, a decisão do Fed não foi muito animadora com uma projeção mais pessimista que o esperado. Convém notar que o próprio Powell deu a entender que essas projeções não levaram em conta o resultado de inflação de hoje, portanto, a leitura pode ser menos pessimista. Ainda assim, a janela de cortes começa a encurtar. Apesar disso, mantemos nossa expectativa de até dois cortes esse ano, com o primeiro ocorrendo na reunião de setembro, condicionando à continuidade de bons dados de inflação e enfraquecimento marginal do mercado de trabalho.