O PIB divulgado na semana passada foi mais uma “surpresa” de alta na nossa economia. Mas não deveria ser. Com variação de +1,2% no trimestre e +2,6% em 12 meses, já estamos no 3o ano de crescimento da atividade acima da expectativa. E ainda insistimos em expectativas conservadoras para o crescimento da economia nos anos seguintes. Por que economistas e analistas de mercado têm errado as projeções de crescimento no Brasil nos últimos anos?
Depois do baixo crescimento após a recessão de 2014-15, seguido da forte queda do PIB em 2020, causada pela pandemia, a maioria dos economistas e analistas de mercado passou a ficar mais pessimista com a atividade no Brasil. O crescimento próximo de 1,5% ao ano entre 2016 e 2019 foram singulares, mesmo com juros em patamar estimulativo, o baixo desempenho acabou sendo atribuído a um menor potencial da nossa economia. Conhecemos bem nossas deficiências, entre elas, infraestrutura insuficiente, complexas leis tributárias, economia mais fechada, baixa qualidade do investimento público, particularmente na educação que, apesar de ser mais alto que países emergentes em cerca de 6% do PIB, não focaliza no ensino básico. Essas amarras, juntamente com a grave crise fiscal e consequente endividamento público, resultaram em um período de baixo crescimento no país.
Nos últimos trimestres, no entanto, temos observado mudanças na evolução dos indicadores de atividade que vão além da retomada pós pandemia e outros estímulos. O setor de serviços teve um crescimento robusto nos últimos 6 trimestres, taxa de 3,6% anualizada e já supera em 4% o patamar pré-pandemia. As reformas trabalhistas e processos menos burocráticos para abertura de empresas têm dado mais dinamismo ao setor. O resultado reflete também na forte recuperação do mercado de trabalho. Nos últimos 12 meses, foram cerca de 8 milhões de novas vagas criadas no Brasil, segundo a PNAD, e a taxa de desemprego está no menor patamar desde 2015, em 9,1% em julho.
Outro fator de destaque na divulgação do PIB foi a taxa de investimento
A formação bruta de capital fixo, como é medido o investimento dentro do PIB, cresceu 4,8% no trimestre. O Brasil tem uma carência de infraestrutura que vem de mais de uma década de baixo investimento, e os novos marcos regulatórios mais a capacidade de financiamento doméstico via mercado de capitais local, vem permitindo essa ascensão. A taxa que ficou em torno de 16% do PIB entre 2015 e 2019, está agora em quase 19%. O crescimento do PIB via investimento é uma boa notícia não somente para o curto prazo, mas significa que podemos crescer a taxas maiores no médio prazo, com menor pressão inflacionária. E pelo lado conjuntural, não podemos deixar de destacar o atual momento do ciclo de commodities, que vem favorecendo os setores exportadores no Brasil, elevando a renda doméstica e trazendo benefícios para as contas externas e para o resultado fiscal.
O que esperar para o PIB nos próximos trimestres?
Naturalmente, a tendência de crescimento deve continuar, mesmo com a esperada desaceleração da demanda global e juros mais restritivos. Mas a taxa atual, que anualizada seria equivalente a 4,5%, não deve se repetir. No curto prazo, o crescimento recente da massa salarial e os estímulos fiscais devem sustentar o consumo nesse semestre. No médio e longo prazo, o ciclo ainda favorável de commodities e os projetos de infraestrutura vão dar suporte para um crescimento potencial da nossa economia mais próxima de 2,5%. Como fator condicionante para o crescimento maior em 2023 em diante está o controle do inflação juntamente com a previsibilidade fiscal que permita uma rápida queda da taxa de juros no país. Ainda veremos muitas revisões positivas do nosso crescimento.