Macroeconomia


Carta ao Mercado | Out 22

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Rafaela Vitória

Publicado 07/out8 min de leitura

Desafios e oportunidades para o próximo governo

Não só desafios esperam o novo governo em 2023, seja ele qual for eleito no próximo dia 30/10. Temos no cenário econômico uma evolução positiva que traz também oportunidades para o próximo ano. Entre as boas surpresas de 2022, destacamos um crescimento maior que o esperado do PIB, com investimentos em alta e o mercado de trabalho mais robusto, com significativa redução do desemprego. Por outro lado, a economia brasileira enfrentará um cenário externo mais desafiador, com redução da demanda global, resultado do aperto monetário principalmente pelo Fed, e internamente uma crescente demanda por gastos fiscais que precisa ser administrada para não voltarmos a ter déficit e crescimento descontrolado da dívida pública.

Entre as oportunidades, o Brasil deve encerrar 2022 com crescimento do PIB de quase 3% e taxa de desemprego próxima de 8,5%

A melhora na atividade, liderada pelo setor de serviços, trouxe um importante progresso do mercado de trabalho. A queda do desemprego no ano deve ser de mais de 2,6 p.p. e a geração de novas vagas formais pode ultrapassar 2 milhões. Além do ciclo de commodities favorável dos últimos dois anos, que impulsiona investimentos e melhora a renda, reformas microeconômicas e o crescimento do uso da tecnologia deram mais dinamismo a diversas atividades, permitindo volume recorde de geração de empregos e consequente crescimento da massa salarial, que tende a manter o consumo em alta em 2023.

Inflação em queda e início do afrouxamento monetário à vista

A inflação fez pico em abril e, apesar de ter subido acima do previsto no primeiro semestre, já apresenta uma trajetória de queda mais acelerada que o esperado. A redução de impostos teve uma contribuição importante na desaceleração da inflação, mas a queda das cotações das commodities no mercado internacional e a normalização das cadeias produtivas deve refletir em uma baixa pressão inflacionária de bens à frente. Com isso, a política monetária, que termina o ano em território bastante restritivo, pode começar a ser afrouxada ainda no primeiro semestre de 2023, considerando um cenário fiscal sem expansão significativa e sem perda de ancoragem de expectativas.

Entre os desafios, a demanda por mais gastos públicos será a principal dificuldade para o governo administrar a partir de 2023. A discussão sobre aumento de despesas do governo ao longo do debate eleitoral trouxe dúvidas com relação a potenciais mudanças na política fiscal. Apesar de um legado também positivo nessa área, o Brasil deve terminar 2022 com superávit primário de cerca de 1% do PIB, ainda há muita incerteza sobre o orçamento de 2023, com a proposta a ser aprovada na câmara e demandas por despesas que vão além do teto. A dívida pública teve queda importante no ano, deve terminar próxima de 76,5% do PIB, mas o patamar ainda é elevado e o custo dos juros teve forte alta em 2022. Administrar todas as demandas e renovar o arcabouço fiscal trazendo de volta a previsibilidade e credibilidade está entre os principais desafios da equipe econômica do próximo governo.

No cenário externo, o desafio será a desaceleração da demanda global

Depois de dois anos com ventos favoráveis, que impulsionaram nossas exportações e turbinaram os preços das commodities, 2023 deve trazer uma desaceleração. A política monetária restritiva a nível global deve frear a produção industrial e a propensão de investidores estrangeiros por novos projetos tende a ser menor. Além disso, nos mercados de capitais, teremos maior aversão a risco e custo de dívida mais alto, o que também podem ser freios para futura expansão mais robusta. Por outro lado, o Brasil pode seguir em vantagem relativa na comparação com pares, sendo exportador líquido de commodities e estando distante geograficamente de conflitos.


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