PIB em alta e inflação em baixa
O ano de 2023 foi mais um ano de surpresa no desempenho econômico brasileiro. A inflação caiu mais que o esperado, fechando o ano em 4,6%, mas em linha com o forte aperto monetário em curso desde 2022. Por outro lado, a economia cresceu de maneira mais significativa, a alta do PIB foi de 2,9% no ano, contrariando a expectativa de desaceleração em função da elevada taxa de juros. O desempenho da atividade no Brasil nos últimos anos continua surpreendendo, tanto pela rápida recuperação pós pandemia, mas também pela taxa de crescimento bem acima da tendência dos anos anteriores.
Entre os destaques positivos do crescimento econômico no ano passado está o setor externo, com a alta das exportações em 9%, seguindo o forte desempenho da agropecuária e da indústria extrativa. Apesar da esperada desaceleração global, o Brasil se mantém competitivo no comércio global, como importante produtor e exportador de commodities. O forte saldo comercial também contribuiu favoravelmente para o fluxo cambial, mantendo o cambio relativamente estável ao longo do ano, aliviando a pressão inflacionária que observamos entre 2021 e 2022.
Pelo lado negativo, o destaque em 2023 foi a queda do investimento. Depois de uma sequência de alta desde 2018, interrompida apenas em 2020 na pandemia, o investimento teve queda de 3% em 2023 e chegou ao menor patamar desde 2019, em 16,5% do PIB. A política monetária mais restritiva e as incertezas no cenário macro resultaram na desaceleração do investimento, um ponto de atenção para o crescimento futuro da economia. Ao mesmo tempo, o consumo das famílias seguiu crescendo 3% no ano, impulsionado pelos estímulos fiscais, como o aumento real do salário-mínimo e expansão dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e seguindo a melhora no mercado de trabalho, com a elevação do nível de emprego e crescimento da renda. Mesmo com o aperto monetário, a taxa de desemprego encerrou 2023 em 7,4%, o menor patamar desde 2015.
No entanto, o crescimento do consumo mais acelerado, na ausência de aumento na oferta, pode resultar em novas pressões inflacionárias à frente, como observado entre 2013 e 2015. Os dados mais recentes da Pnad já apontam para a aceleração do crescimento real médio dos salários, indicando que o mercado de trabalho está próximo de sua capacidade e precisamos de investimentos focados no aumento da produtividade, com melhorias em infraestrutura, tecnologia e educação.
Expectativas para 2024. Apesar do crescimento de 2,9% no ano passado, já observamos uma desaceleração da economia a partir do segundo semestre, que tende a persistir nesse começo de 2024. Esperamos crescimento do PIB próximo de 2%, uma taxa próxima do potencial. Os efeitos da política monetária ainda restritiva e a esperada redução da produção agropecuária esse ano devem impactar os dados do 1o semestre. Por outro lado, novos estímulos fiscais, como o novo aumento do salário- mínimo e pagamento de precatórios concentrado entre janeiro e fevereiro, podem contribuir para manter a taxa de crescimento do consumo ainda positiva, mas em ritmo menor que o observado no ano passado. A boa notícia pode vir da volta do investimento ao longo do ano, puxado pela construção, que já deu sinais de recuperação no final do ano passado e com corte de juros que será sentido de maneira mais significativa no 2o semestre, fomentando também o crédito.