Os dados da economia brasileira em 2022 surpreenderam positivamente
O crescimento do PIB no ano deve ficar acima de 3%, contra uma expectativa inicial que era de alta de 0,5%. O PIB do 3o trimestre mostrou desaceleração, mas com as revisões anteriores divulgadas pelo IBGE, temos um desempenho acima do previsto e a economia já está 7% superior do patamar pré-pandemia. Nos últimos dois anos, o investimento vem sendo um dos destaques, graças a novos marcos regulatórios, concessões, privatizações e a expansão do mercado de capitais local, permitindo amplo funding para o setor privado. O setor de serviços também surpreendeu, crescendo de forma mais acelerada, elevando a geração de emprego no Brasil, que termina 2022 com a menor taxa de desocupação desde 2013, em 8,3%. Novamente, reformas como a trabalhista, merecem o crédito por permitir um avanço na geração de vagas a partir de regras mais flexíveis e com menor custo. Por fim, o resultado fiscal foi o mais surpreendente e devemos terminar o ano com superávit de 1,4%, bem acima da meta na LOA que era de um déficit de 0,6%. O crescimento do PIB maior que o esperado, o bom desempenho das empresas devido às commodities em alta, aliado ao controle de gastos, apesar da Pec que aumentou benefícios no segundo semestre, resultou em superávit bem acima das expectativas. A inflação ainda alta no ano também contribuiu para o maior PIB nominal e o resultado foi a queda da dívida total para 75% do PIB, contra uma expectativa que era de 84% no começo do ano.
Ainda na visão retrospectiva, a inflação em 2022, após fazer pico de 12,2% em abril, cedeu e deve fechar abaixo de 6%, mas a política monetária entrou em território mais contracionista que o esperado. A inflação voltou a subir nos últimos meses do ano, com alta pontual de alimentos e combustíveis, ainda assim, deve encerrar 2022 em 5,9%, abaixo do IPCA de 10,1% de 2021. Além da queda das commodities a partir de junho, o fim da bandeira de escassez hídrica, a redução de impostos e a política monetária restringindo o crédito contribuíram para a desinflação. A continuidade da queda da inflação é uma das dúvidas para 2023. Na atual conjuntura, os sinais apontam para uma inflação convergindo para a meta, o que permitiria a redução da Selic ainda no primeiro semestre do próximo ano, mas as expectativas foram revertidas após o início da discussão sobre aumento de gastos fiscais.
Depois de um ano melhor que o esperado, porque as expectativas para 2023 se deterioraram? No último mês observamos uma queda expressiva nas expectativas das empresas no Brasil, em todos os setores. Tanto as pesquisas da FGV como o PMI mostraram uma reversão na confiança do empresário, que pode se transformar em queda de atividade à frente. Não só os juros mais altos impactam os negócios, mas o cenário de incerteza também dificulta o planejamento.
A proposta da Pec da Transição, com elevados gastos adicionais para 2023, trouxe de volta o risco de desancoragem da inflação. De fato, o aumento de gastos sem contrapartida pode ter efeito inflacionário ainda em 2023, colocando a meta do ano novamente em risco, podendo resultar em novas altas da Selic pelo BC, que devido à autonomia aprovada no atual governo, não deve ter mudança no comando até 2024. Nas últimas divulgações da pesquisa Focus, já observamos o aumento na inflação esperada e da Selic. A incerteza no cenário também reflete no elevado intervalo de expectativas para a taxa de juros ao final de 2023 que vai de 9% a 13,75%.
Terminamos 2022 com pouca clareza na resposta à questão “o que esperar para 2023?”
Na linha da continuidade, podemos ver um crescimento positivo, ainda que em menor magnitude devido ao cenário global mais desafiador, queda da inflação e espaço para afrouxamento monetário, o que não impactaria de maneira significativa o ciclo de investimento. Na linha da descontinuidade, a volta do risco do descontrole fiscal pode resultar em inflação em alta, uma retomada do ciclo de aperto monetário pelo Copom e eventualmente resultar em recessão. O governo de transição deveria estar atento às recentes revisões de expectativas, que reagiram de maneira negativa aos sinais de propostas de mais gastos, e ao impacto do custo da elevação dos juros na dívida pública no próprio orçamento.