Macroeconomia


Carta ao Mercado | Ago 22

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Rafaela Vitória

Publicado 05/ago8 min de leitura

Fed e Copom elevaram a taxa de juros, como esperado, mas com comunicados diferentes e a margem para interpretação segue alta. Aqui, o Copom subiu a Selic para 13,75% e chegamos ao fim do ciclo. Nos EUA, o Fed também subiu os juros para 2,5%, mas não há clareza até onde vai, pois a inflação ainda está bastante elevada, e os dados do mercado de trabalho de julho surpreenderam para cima. A inflação é hoje um problema global e tem características semelhantes aqui no Brasil e em outros países, mas os sinais de desaceleração da atividade já começam a aparecer. O mercado continua tentando antecipar os próximos passos da política monetária tanto aqui como nos EUA e, por isso, ainda vamos ver muita volatilidade nas taxas de juros. Cautela na alocação de investimentos continua sendo fundamental nesse cenário.

Fed e Copom elevaram a taxa de juros, como esperado, mas com comunicados diferentes e a margem para interpretação segue alta. O Copom elevou a taxa Selic em 0,50 p.p. para 13,75% e indicou o fim do ciclo, depois de altas consecutivas que se iniciaram em março de 2021. Chegamos a uma taxa de juros real estimada em mais de 8% olhando a inflação 12 meses a frente, ou seja, o ciclo se encerra em um patamar bastante contracionista. Uma alta residual, caso seja necessária, pode ainda ser dada em setembro, mas o balanço de riscos para a inflação, principalmente com a commodities em queda, indica que o tamanho do ajuste já dado deve ser suficiente para a convergência da inflação para a meta nos próximos meses.

Nos EUA, o Fed subiu os juros em 0,75 p.p. para 2,5%, mas ainda antecipou novas altas

Pois a inflação ainda está bastante elevada, e os dados do mercado de trabalho de julho surpreenderam para cima. O aperto lá se iniciou apenas em março desse ano e, com a inflação acumulada em 9,1%, a convergência para a meta de 2% deve demorar. O fim do ciclo não está longe, a taxa lá pode chegar próxima a 4% até o começo de 2023.

A inflação é hoje um problema global e tem características semelhantes aqui no Brasil e em outros países.

Na sua maior parte, a alta de preços foi puxada por bens, resultado da elevação das commodities e gargalos de oferta. Combustíveis e alimentos foram os grupos com altas mais significativas. Mas também vimos o aumento da demanda, com os estímulos excepcionais, tanto monetários como fiscais, juntamente com a demanda reprimida pós restrições da pandemia. Nos EUA, o mercado de trabalho mais aquecido, com a taxa de desemprego em 3,5%, indica que a inflação de serviços ainda deve permanecer alta. Aqui no Brasil, o desemprego também caiu mais rápido que o esperado, mas em 9,3%, ainda não temos sinais de pressão inflacionária significativa nos salários. O que esperar da inflação daqui para frente?

Os sinais de desaceleração da atividade já começam a aparecer.

As pesquisas PMIs, indicam que a produção industrial global está em retração e as cotações das commodities tem queda média de cerca de 15% desde o pico observado em junho. Além da retirada dos estímulos nos EUA e Europa, com o início da normalização das políticas monetárias, a China também apresenta atividade mais fraca, devido ao combate às ondas regionais de Covid e a desaceleração do setor de construção. A demanda também pode estar se normalizando, com fim do consumo mais atípico pós pandemia.

O mercado continua tentando antecipar os próximos passos da política monetária tanto aqui quanto nos EUA, e por isso ainda vamos ver muita volatilidade nas taxas de juros. Apesar de ainda muita incerteza no cenário, e um elevado patamar de inflação corrente, o mercado segue atento à comunicação dos bancos centrais, juntamente com os dados de alta frequência de atividade, o que vem gerando muita volatilidade no mercado de juros. Nos EUA, a expectativa hoje é de uma alta dos juros até 3,5% no final do ano e o início da queda de juros já em março de 2023. No prazo de 10 anos, o juro real está em 0,4% e o juro nominal 2,8%. Aqui no Brasil, a expectativa de queda ainda é bem modesta, apesar de maior que um mês atras, com os sinais de inflação em queda mais claros. A curva de juros ainda precifica uma pequena chance de elevação da Selic em setembro, mas com início dos cortes somente em maio de 2023. Para as taxas longas, o juro real segue acima de 6% e o juro nominal em 12%.

A incerteza ainda é elevada e vamos demorar para ter mais clareza sobre o processo de queda da inflação e ajuste na política monetária. Os erros nas previsões dos modelos tradicionais continuam elevados, com tantas mudanças no cenário. Portanto, a cautela ainda é fundamental na alocação dos investimentos. Os juros estão elevados e a bolsa barata. Mas tentar acertar o momento de entrar e sair dos mercados vai continuar sendo tarefa inglória e, manter a carteira diversificada é a melhor recomendação que tenho para os investidores.


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