A expectativa pela queda de juros
Cresce a expectativa de queda juros pelo mercado, tanto aqui como lá fora. A política monetária chegou a um patamar bastante restritivo, tanto aqui no Brasil como lá fora, mas nas suas últimas reuniões, os BCs permaneceram inflexíveis no seu discurso, mesmo com o aperto no mercado de crédito e até ameaça de crise bancária nos EUA. Em março, o Fed elevou os juros mais uma vez e manteve em suas projeções mais uma alta esperada na taxa básica e sua subsequente manutenção em 5,1% até o final do ano. No entanto, o mercado mudou de lado e passou apostar em cortes já a partir de julho, com a taxa terminando o ano próxima de 4%. Além da ameaça de crise no setor bancário, os sinais de desaceleração da atividade, principalmente do mercado de trabalho, começam a se intensificar. Apesar de serem grandes as chances de o Fed parar de subir os juros já em maio, a queda da inflação de serviços ainda deve ser lenta e é difícil prever o início de cortes nesse momento, e podemos voltar a ver oscilações nas taxas de juros de mercado, principalmente nas mais curtas.
Por aqui, o Copom também manteve o tom mais cauteloso com o cenário de expectativas de inflação em alta e ainda não indicou quando irá iniciar o afrouxamento monetário. No entanto, o mercado de juros também precifica quedas que podem começar já na reunião de junho, com a Selic terminando o ano próxima de 12%, abaixo do cenário de referência do Copom, dado pelo Focus, em 12,75%. O que pode resultar em uma mudança de fato no rumo da política monetária no curto prazo? O principal risco apontado pelo Banco Central é a desancoragem das expectativas de inflação, que voltaram a subir nas últimas semanas após a surpresa de alta na inflação de fevereiro e o reajuste da gasolina e das tarifas elétricas em março. Portanto, para que o Copom inicie o processo de redução da Selic, precisamos ver uma queda maior na inflação corrente nos próximos meses e uma estabilização das expectativas do mercado.
Sinais de desaceleração da atividade devem contribuir para a redução da inflação à frente, principalmente nos preços livres. Ao longo do último mês, os sinais de queda da atividade também se intensificaram aqui no Brasil. A redução nas emissões no mercado de capitais e na concessão de crédito em fevereiro indicam um cenário de maior aversão a risco e aperto de crédito, o que deve refletir em menor crescimento da demanda doméstica nos próximos meses. O desemprego também teve o segundo mês de alta em fevereiro, voltando para 8,6%, com estabilização dos salários na margem. Por fim, o IGPM em março surpreendeu com uma baixa variação e acumula apenas 0,27% em 12 meses, indicando que a inflação de bens industriais deve permanecer mais fraca, o que também pode ser observado nos indicadores do PMI da manufatura. Já a inflação de serviços, ainda mais elevada, é ponto de atenção e aumentos de gastos fiscais e outros estímulos do governo é o principal risco que pode manter os reajustes dos prestadores de serviços em alta nos próximos meses.
Arcabouço fiscal finalmente anunciado. O novo arcabouço fiscal pode ter uma contribuição positiva para as expectativas de inflação, bem como para a redução dos juros no país. As novas regras fiscais foram bem recebidas pelo mercado (e pelo Banco Central) e no último mês observamos uma valorização do real de 3% e queda nas taxas de juros, principalmente para os prazos médios e longos, de até 1 p.p. A principal característica positiva da nova regra é a medida de controle do crescimento dos gastos, que fica atrelada ao desempenho da arrecadação passada, limitado ao intervalo entre 0,6% e 2,5% ao ano. A proposta, trouxe ainda novas metas de resultado primário mostrando um objetivo bastante arrojado do governo de zerar o déficit até 2024. Para tanto, novas medidas de aumento de receita devem ser anunciadas nas próximas semanas, mas até a sua aprovação, o cenário ainda é de incerteza com relação ao seu cumprimento.
A redução no ruído pode melhorar a percepção de risco, mas a execução será o principal fator para balizar os preços dos ativos no mercado. A melhora recente observada nos mercados de juros e de cambio reflete uma perspectiva que, por hora, afasta o risco de descontrole das contas públicas. Mas o caminho para a queda mais significativa dos juros, e de maneira mais sustentada, passa pela aprovação e posterior execução dos planos do governo em recuperar a credibilidade e a previsibilidade da política fiscal.