Macroeconomia


Câmbio | 27.Jan.25

gustavo

Gustavo Menezes

Publicado 27/jan2 min de leitura

Dólar fecha em R$5,91 com comentários de Trump, temores fiscais e IPCA-15

O câmbio encerrou a última sexta-feira em R$5,91 representando uma queda de 2,73% na semana, com o real apreciando 3,86% no mês e uma apreciação acumulada de -3,86% no ano.

A semana começou com relativa calma, sem fatos marcantes além da posse de Trump que já era amplamente esperada. Em seu primeiro dia, o novo presidente americano assinou diversas ordens executivas visando, dentre outras coisas, realçar as ameaças tarifárias impostas contra o resto do mundo, em particular contra o Canadá e México.

A volatilidade começou a ocorrer de fato a partir de quarta, com a leve pressão de venda ocorrida ao longo dos dias anteriores em conjunto com a redução na aversão de risco estrangeira perante ao Brasil gerando um ambiente propício para o encerramento de apostas contra o real, cujo posicionamento andava mais agressivo do que o usual nas últimas semanas, levando à movimentações no câmbio que foram descoladas dos demais pares.

No dia seguinte, a divisa americana começou a manhã devolvendo parte da queda anterior que foi motivada por fatores técnicos, mas acabou batendo novas mínimas no ano após o discurso de Trump em Davos exigindo juros menores do Fed num contexto de independência mais frágil da autoridade monetária americana, gerando um cenário externo propício para um fortalecimento do real. Porém, vimos ao longo da tarde a sugestão do governo federal para se valer de mais gastos públicos visando uma amenização dos preços de alimentação que tem subido recentemente por conta das condições menos favoráveis de oferta agrícola, gerando comportamento de aversão ao risco nos ativos domésticos que, mesmo assim, não foi forte o suficiente para reverter o movimento do câmbio.

Já na sexta, a publicação do IPCA-15 indicou uma pressão inflacionária pior do que as expectativas, com um qualitativo adicionalmente indicando um processo de aumento de preços mais amplo do que o desejável. Essa leitura ocorre num contexto de tentativa de combate à desancoragem de expectativas por parte do BC, e ajudou a pressionar a divisa americana para cima ao longo da sessão.

Expectativas de mercado

Apesar da expectativa de um ambiente mais volátil nos mercados do exterior em razão dos anúncios potencialmente disruptivos de política econômica que devem ser praticados pela nova administração presidencial, em linha com o que vimos durante 2016-2020, o cenário do Brasil em 2025 pode ser mais benigno do que o ano anterior, como demonstrado pela curva de volatilidade implícita mais benigna que a do período de estresse vivenciado no mês passado, bem como no fato de que os fundamentos do câmbio já começaram o ano numa base de comparação que é assimetricamente favorável.

Conforme temos acompanhado recentemente, o desconto da moeda brasileira frente aos pares emergentes já passou das mínimas vivenciadas no fim do ano passado, e possui potencial para reverter as perdas acima do normal que ocorreram até então.

Adicionalmente, a percepção de risco estrangeira vem caindo desde o pico visto em dezembro em conjunto com a melhora das condições de liquidez no mercado spot de dólar, ajudada em boa parte pelos leilões promovidos pelo Banco Central no mês passado, que não só geraram melhor funcionamento nos mercados mas também contribuiu para reduzir o endividamento do governo: conforme estimativas do IFI, a projeção da dívida bruta do governo geral foi reduzida em 1,3p.p. no fechamento do ano passado, motivado pelos repasses do BC ao Tesouro em razão do recebimento de reais com a liquidação das reservas internacionais.


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