Macroeconomia


Câmbio | 18.Nov.24

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Gustavo Menezes

Publicado 18/nov2 min de leitura

Dólar sobe e fecha a semana em R$5,80 com fiscal em foco e intervenção do BC

O dólar fechou a última sexta-feira em R$5,80, alta de 1,86% ao longo da semana. O câmbio em novembro tem alta marginal de 0,17%, apreciando 17,88% no acumulado do ano.

Apesar da semana mais curta, as tensões acerca do andamento do pacote fiscal continuaram já na segunda-feira, com a ausência de progresso ao longo do fim de semana. O cenário externo também não ajudou, com alta global do dólar frente às divisas emergentes.

O foco no orçamento foi reforçado após a ata do Copom, anunciada na terça, enfatizar a necessidade de uma política fiscal crível para o governo. A expectativa dos agentes de mercado era de que houvesse um anúncio do pacote ainda nesta semana, que não ocorreu até o encerramento de quinta. A demora adicional do Legislativo, marcada pela ausência de coordenação entre Pacheco e Lira, impôs mais medo de que o resultado das promessas de Haddad seja incapaz de conter os déficits fiscais que estão bem acima do necessário para garantir a estabilidade da dívida pública.

Ainda, em resposta a escalada do câmbio, o Banco Central anunciou ao longo da semana dois leilões de linha, na terça e na quarta, destinados para conter o avanço do dólar. É a primeira intervenção cambial desde o final de agosto, justificada pela percepção de menor liquidez no mercado. Porém, tendo em mente os dados de bid-ask, essa explicação é pouco crível e é mais indicativa de um BC mais intervencionista no mercado de câmbio após uma pausa completa que durou vários anos. Houve também complicações técnicas para a execução do segundo leilão, conforme o Banco Central, gerando uma surpresa que levou a uma forte alta do dólar na quarta-feira.

Finalmente, a última sessão da semana foi marcada por forte volatilidade na abertura e no fechamento. A abertura deu seguimento ao atentado contra o STF da noite anterior, que gerou reação desfavorável do mercado com forte alta no dólar. Apesar de não ser um evento financeiro ou econômico, o atentado enterrou de vez a possibilidade de um anúncio agilizado para o pacote fiscal. O fechamento, por sua vez, foi dominado por comentários hawkish do presidente do Fed, Jerome Powell, que afirmou o estado sólido da economia americana e que não há pressa para cortar os juros novamente na última reunião do ano. Essa posição contrasta bastante com o que vimos na primeira reunião de cortes, e contribuiu para fortalecer a posição global do dólar.

Expectativas de mercado

Apesar da espera contínua pelo anúncio do pacote de corte de gastos do governo, a curva de volatilidade não precifica nenhum movimento particularmente brusco na cotação do câmbio ao longo das próximas semanas. Isso pode se dever ao fato de que, como o tema já está em pauta faz algumas semanas, expectativas parciais acerca do dimensionamento do pacote já estão sendo formadas com base em reuniões e pronunciamentos de membros do governo. Isso é reforçado ao olharmos para a evolução do risco-país que, apesar de se situar em níveis acima do usual, ainda não está em patamares demasiadamente altos.

Em resumo, o pacote de corte de gastos aguardado pelo mercado deverá exercer pressão favorável ao câmbio brasileiro caso seja mais agressivo que o esperado, mas pressões estruturais impostas pela saída de dólares no Brasil ainda são um empecilho para que o câmbio retorne a patamares mais consistentes com o seu equilíbrio de médio prazo.


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