Macroeconomia


Atividade Março 2022

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Rafaela Vitória

Publicado 12/mai12 min de leitura

Atividade em março surpreende positivamente

Os resultados da indústria, varejo e serviços vieram melhores que o esperado, com destaque para o forte desempenho de serviços. Em conjunto, os dados apontam para um crescimento de 0,5% no mês e indicam uma alta do PIB trimestral próxima de 1%. Para abril, os indicadores de confiança ainda apontam para a continuidade do bom momento da economia. Apesar do aperto monetário em curso, a atividade surpreende com a alta, o que também pode explicar a elevada inflação observada nos últimos meses. A retomada dos setores mais deprimidos pela pandemia combinado com o nível de poupança acumulado excepcionalmente nos últimos anos vem mantendo o consumo mais resiliente. Mas para os próximos meses, mantemos a cautela no cenário para atividade, em razão da defasagem do impacto do aperto monetário e com o cenário global em condições financeiras mais apertadas, que também tende a desacelerar.

Indústria cresce 0,3% em março

Resultado ficou levemente acima da estimativa de mercado que apontava para alta de 0,2%. O setor ainda apresenta queda de 2,1% frente ao mesmo mês do ano passado, mostrando cenário mais desafiador em consequência dos gargalos nas cadeias de suprimento, pelo lado da oferta, e a alta da Selic, pelo lado da demanda. No trimestre, a indústria acumulou uma queda de 4,5% comparado com o mesmo período de 2021.

Em março, todas as categorias arrefeceram, mas bens de capital apresenta recuperação de +8%. A desaceleração da indústria, assim como o caráter heterogêneo do efeito da redução do crédito, já era esperada. No entanto, surpreende positivamente bens de capital, após queda mais acentuada em janeiro, ressaltando o efeito da demanda dos setores ligados a infraestrutura. Bens de consumo duráveis seguem com recuperação mais fraca e em março tiveram alta de 2,5%. No entanto, no acumulado do primeiro trimestre, o recuo na produção de bens duráveis chegou a 18,3%, com destaque para queda de eletrodomésticos e móveis. Automóveis, que já vinha em queda de forma mais acentuada em virtude dos gargalos na cadeia de insumos, tiveram recuo de 16,3% na mesma comparação. Bens de capital, ainda que com retração, apresentou maior resiliência, -2,6%. Na categoria, a queda partiu da produção mais fraca principalmente para a própria indústria enquanto a produção de bens de capital para energia e construção subiu 14,6% e 15,4%, respectivamente.

Indústria

Varejo avança 1% em março

A alta também ficou acima das expectativas do mercado de +0,5%. Na comparação interanual, o setor cresceu 4%, também surpreendendo positivamente. O crescimento ressalta a resiliência do varejo frente à subida de juros, cujo impacto está mais defasado que o usual. O varejo ampliado, incluindo veículos e material de construção também teve altas maiores que o esperado, + 0,7% no mês e +4,5% na comparação interanual.

Na comparação com fevereiro, o avanço foi puxado por equipamentos e material para escritório e papelaria. Os grupos apresentaram altas de 13,9% e 4,7%, respectivamente, seguidos por artigos de uso pessoal e doméstico. No varejo ampliado, a venda de materiais de construção subiu 2,8%, ainda que afetada pelo avanço do INCC, e vendas de veículos teve estabilidade, mas mantendo a trajetória de queda mais acentuada dos últimos meses, impactado pela alta de preços e também pelo encarecimento do crédito.

Na comparação com março de 2021, o destaque foi a venda de vestuário que subiu 81,3%. Março de 2021 havia sido marcado pela segunda onda de covid, que afetou de forma mais intensa as atividades ligadas à mobilidade, inclusive com o fechamento dos shoppings. Materiais de escritório e papelaria tiveram avanços de 36% e 16%, ainda impulsionados pela volta as aulas presenciais. Na ponta contrária, o segmento de supermercados recuou 3,4%, destoando das outras atividades, desfavorecido pela inflação de alimentos que acumula 12% em 12 meses e pela retorno dos setores de alimentação fora do domicílio.

Serviços tem forte crescimento de 1,7% em março

Resultado foi bem superior à expectativa do mercado de +0,8%. Além disso, a variação de fevereiro foi revisada de -0,2% para 0,4%, o que confirma a força da retomada do setor no trimestre. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, volume de serviços avançou 11,4%, 13ª taxa anualizada positiva consecutiva, consequência da melhora da mobilidade em relação aos meses mais atingidos pela pandemia em 2021, e pelo crescimento de setores que se tornaram estratégicos após a pandemia, como TI.

Todas as 5 atividades registraram alta em relação a fevereiro. Destaque para transportes (+2,7%) que, com a retomada do turismo, foi fortemente influenciado por transportes aéreos (+15,6%). Serviços prestados às famílias também tiveram desempenho robusto (+2,4%), bem como informação e comunicação (+1,7%), revertendo desaceleração apresentada no início do ano.

No acumulado do trimestre, o volume de serviços cresceu 9,4%. Na comparação com o mesmo trimestre no ano passado, serviços prestados às famílias foi a atividade que apresentou maior crescimento (+30,6%), principalmente devido aos setores como recreação, restaurantes, hotelaria e educação. Na ponta contrária, outros serviços (-2,3%) registraram queda, afetada de forma mais significativa pela redução na atividade financeira.

Expectativas para Abril

Perspectivas para a atividade ainda são positivas em abril, mas para a indústria, o cenário é mais desafiador, segundo dados das pesquisas de confiança da FGV e a PMI. O PMI da indústria, teve queda de 52,3 para 51,8, em abril, indicando ainda possível alta, mas com força reduzida por pressões sobre custos e escassez de insumos. A logística global, setor automotivo e a inflação em alta afetaram principalmente os fabricantes de bens intermediários enquanto os produtores de bens de consumo ainda registraram crescimento. Por outro lado, a confiança da indústria medida pela FGV subiu 2,4 pontos em abril, após 8 meses seguidos de queda, indicando que, apesar do indicador ainda em patamar fraco, a perspectiva é de leve melhora no mês. Dentro do indicador, o índice de demanda teve avanço mais relevante com +5,8, após perder 17,4 pontos no acumulado dos nove meses anteriores.

Após a melhora em março, a confiança do comércio tem queda de 0,9 em abril, centrada na piora das expectativas. O índice de expectativas ajustado sazonalmente caiu 6,8 pontos, ressaltando que o efeito negativo para o varejo, advindo do aperto monetário, ainda deve demorar. Na contramão, o índice de situação atual subiu 5,3 pontos, indicando provável nova alta das vendas para o mês de abril.

Serviços continuam com a melhor perspectiva, com PMI em patamar recorde de 60,6, ante 58,1 em março. Entre os componentes, está a forte demanda com a criação de empregos em nível mais acelerado. A alta, no entanto, veio acompanhada por inflação de insumos. A confiança medida pela FGV do setor de serviços subiu 4 pontos com melhora de 5,1 pontos no índice de situação atual, protagonizado pelo resultado positivo de serviços prestados às famílias, e 2,9 pontos no índice de expectativa.


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