Macroeconomia


Atividade | Maio 2023

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André Valério

Publicado 14/jul

Acomodação em maio

Em maio, apenas as vendas no varejo tiveram variação negativa, com resultado muito abaixo do esperado. Entretanto, tanto a produção industrial quanto o volume de serviços apenas recuperaram parcialmente as perdas observadas em abril, não sendo capaz de alterar a tendência de desaceleração que se observa em 2023. O setor de serviços continua sendo o destaque, se mantendo muito acima do nível pré-pandemia, mas indica tendência de desaceleração. Os serviços de transportes têm mantido o setor em patamar robusto devido ao bom desempenho da agricultura, com essa atividade se descolado do restante do setor. A produção industrial dá indícios de recuperação de fôlego em maio, com a grande maioria da indústria apresentando variação positiva na produção. Entretanto, o cenário continua delicado para o setor, que sofre com a desaceleração da demanda interna e externa. Por fim, varejo foi a grande decepção, com resultado muito abaixo do esperado, tanto no varejo restrito quanto no ampliado. Atividades de varejo mais sensíveis à demanda tem se enfraquecido de maneira mais intensa, mostrando que o cenário de elevadas taxas de juros e alto nível de endividamento das famílias impede a recuperação do setor. Como esses fatores não irão mudar no curto prazo, mantemos nossa expectativa de desaceleração da atividade para os próximos meses, que deve se intensificar à medida que as piores condições de crédito comecem a surtir maiores efeitos na atividade real.

Produção industrial avançou 0,3% em maio

Variação veio em linha com expectativa, recuperando parcialmente as perdas de abril. Na comparação com maio de 2022, a produção avançou 1,9%. Com esses resultados, o acumulado no ano chega a -0,4% e o acumulado nos últimos 12 meses é de 0,0%. O setor sofre com a baixa demanda interna e externa, além da política monetária em patamar altamente contracionista.

Alta na produção foi disseminado, com 19 dos 25 ramos pesquisados apresentando variação positiva. Entre as atividades, as influências positivas mais importantes vieram de combustíveis, que avançou 7,7%. A produção de veículos também teve impacto importante, com avanço de 7,4% na produção. Ambos os setores têm sido incentivados nos últimos meses. Os combustíveis através dos cortes de preço praticados pela Petrobrás, enquanto o governo federal elaborou um pacote de estímulos para a indústria automotiva. Tais fatores devem continuar contribuindo para a indústria nos próximos meses. Por outro lado, entre as atividades com recuo na produção, produtos alimentícios e produtos farmacêuticos exerceram os principais impactos em maio, com recuos de 2,6% e 9,7%, respectivamente. Já é o quinto mês consecutivo de queda na produção de produtos alimentícios.

Entre as grandes categorias econômicas, destaque para bens de consumo duráveis e bens de capital. O primeiro avançou 9,8%, eliminando as perdas de 6,9% observados em abril. Bens de capital avançou 4,2%, reduzindo parcialmente as perdas de 11,5% observados em abril.

Varejo recua 1% em maio

Mercado esperava estabilidade no volume de vendas. Na comparação com maio de 2022, o volume de vendas também recuou 1%, a primeira taxa negativa nessa comparação após 9 meses de alta. Com o resultado, o setor de varejo acumula alta de 1,3% em 2023 e de 0,8% nos últimos 12 meses, ambas as métricas recuando frente ao resultado de abril.

Na versão ampliada, as vendas no varejo recuaram 1,1% na comparação com abril. Comparadas a maio de 2022, as vendas do varejo ampliado avançaram 3%. Nos últimos 12 meses, o varejo ampliado avança 0,2, melhorando frente ao resultado de abril.

Apesar resultado negativo, o desempenho não foi homogêneo. Quatro atividades tiveram desempenho negativo, enquanto as outras quatro tiveram desempenho positivo. Entre os setores que tiveram pior desempenho os destaques foram tecidos, vestuário e calçados, com recuo de 3,3% e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com recuo de 3,2%. Na sequência, outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,3%) e Móveis e eletrodomésticos (-0,7%), também tiveram variação negativa. No lado positivo, o destaque fica com artigos farmacêuticos que avançaram 2,3%. Na sequência, Livros, jornais, revistas e papelaria (1,7%), Combustíveis e lubrificantes (1,4%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,1%) também tiveram desempenho positivo. Não há um padrão muito claro, mas vemos atividades mais ligadas ao consumo discricionário sofrendo mais, como vestuário e móveis, que no acumulado dos últimos 12 meses recuam mais de 10%. Por outro lado, atividades mais ligadas ao setor de serviços mostram bom desempenho, como combustíveis e lubrificantes e materiais de escritório, com altas de 21% e 2% nos últimos 12 meses, respectivamente.

Volume de serviços avança 0,9% em maio

Resultado surpreendeu, uma vez que mercado esperava estabilidade em maio. Com esse resultado, o setor se encontra 11,5% acima do nível pré- pandemia e 2% abaixo do ponto mais alto da série histórica, observado em dezembro de 2022.

Na série sem ajuste sazonal, frente a maio de 2022, o volume de serviços avançou 4,7%, sua 27a taxa positiva consecutiva. O acumulado em doze meses passou de 6,8% em abril para 6,4% em maio de 2023, menor resultado desde agosto de 2021 (5,1%).

Quatro das cinco atividades investigadas avançaram em maio. Destaque para os setores de transportes (2,2%) e dos serviços prestados às famílias (1,1%), este último avançando pelo segundo mês consecutivo, período no qual acumulou alta de 2,2%. Este é um setor intrinsecamente ligado à demanda, o que sugere maior resiliência em meio ao cenário de desaceleração econômica.

Serviços de transporte continua se destacando. O setor atingiu o maior patamar da sua série, que foi iniciada em 2011, acumulando alta de 17,3% na comparação com maio de 2022 e de 9,5% em 2023. O setor tem se beneficiado do bom desempenho da agricultura nesse primeiro semestre, descolando-se da dinâmica do restante dos serviços. Além disso, o comércio online se mantém em patamar robusto, dando sustentação aos serviços de transportes.


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