Bons resultados em julho
Em julho, apenas a produção industrial teve variação negativa, com resultado abaixo do esperado. Por outro lado, tanto o volume de vendas no varejo quanto o volume de serviços tiveram resultados fortes em julho, acelerando o ritmo de ganhos observado em junho. O setor de serviços continua sendo o destaque, se mantendo muito acima do nível pré-pandemia, mas a tendência de desaceleração persiste. Os serviços de transportes têm mantido o setor em patamar robusto devido ao bom desempenho da agricultura, com essa atividade se descolado do restante do setor. Os serviços prestados às famílias também foram um destaque, mostrando robustez na demanda. Apesar da forte alta no varejo, vimos um resultado misto em termos das atividades, sugerindo que aquelas mais sensíveis à demanda continuam se enfraquecendo, mostrando que o cenário de elevadas taxas de juros e alto nível de endividamento das famílias impede a recuperação do setor. Por fim, a produção industrial continua demonstrando sinais de fraqueza, mesmo com as medidas de incentivo à indústria automobilística, que foi capaz de impulsionar as vendas, mas não a produção. O cenário para o setor, e para a atividade como um todo, continua delicado, devido à política monetária restritiva e a baixa demanda, e o ciclo de cortes na taxa de juros só deve gerar um alívio para o setor no último trimestre.
Produção industrial recuou 0,6% em julho
Contração foi pior que o esperado, acentuando a perda de ritmo na produção industrial. Na comparação com julho de 2022, a produção recuou 1,1%. Com esses resultados, o acumulado no ano chega a -0,4% e o acumulado nos últimos 12 meses é de 0,0%. O setor sofre com a baixa demanda interna e externa, além da política monetária em patamar altamente contracionista. Além disso, a queda na produção industrial já era antecipada, devido aos dados preliminares da indústria automotiva divulgados pela Anfavea, que indicam que produção de veículos caiu 3,3%.
O recuo na produção foi disseminado, com 15 dos 25 ramos pesquisados apresentando variação positiva. Entre as atividades, a influência negativa mais importante veio de veículos, que recuou 6,5%, em linha com o dado da Anfavea e que ocorreu a despeito dos incentivos dados ao setor pelo governo federal, que aumentou as vendas em 19% em julho, na comparação com junho, de acordo com a Anfavea. Outros destaques negativos foram as indústrias extrativas e equipamentos de informática, que recuaram 1,4% e 12,1%, respectivamente. Entre as grandes categorias econômicas, destaque para bens de capital e bens de consumo duráveis. O primeiro recuou 7,4%, enquanto bens de consumo duráveis recuou 4,1%, com ambas acumulando perda de 9,5% em dois meses consecutivos de queda na produção.
O cenário para a produção industrial continua delicado, devido à política monetária restritiva e a baixa demanda, e o ciclo de cortes na taxa de juros só deve gerar um alívio para o setor no último trimestre, assim, nos próximos meses devemos observar a continuidade dessa tendência de enfraquecimento do setor. Por outro lado, para agosto, podemos ver uma recuperação na margem puxada pela produção de veículos que, segundo a Anfavea, aumentou 24% frente a julho e como essa atividade tem um alto grau de encadeamento, ela é um bom termômetro para a produção industrial geral.
Varejo avança 0,7% em julho
Resultado veio acima do esperado, que era um avanço de 0,3%. Na comparação com julho de 2022, o volume de vendas avançou 2,4%, segunda alta consecutiva nessa comparação. Com o resultado, o setor de varejo acumula alta de 1,5% em 2023 e de 1,6% nos últimos 12 meses, ambas as métricas avançando frente ao resultado de junho.
Na versão ampliada, as vendas no varejo recuaram 0,3% na comparação com junho. Comparadas a julho de 2022, as vendas do varejo ampliado avançaram 6,6%, refletindo o impacto do programa de incentivo à indústria automotiva. Nos últimos 12 meses, o varejo ampliado avança 2,3.
Apesar resultado positivo, o desempenho não foi homogêneo. Quatro atividades tiveram desempenho negativo, enquanto as outras quatro tiveram desempenho positivo. Entre os setores que tiveram pior desempenho os destaques foram tecidos, vestuário e calçados, com recuo de 2,7% e móveis e eletrodomésticos, com recuo de 0,9%. No lado positivo, os destaques foram Equipamentos e material para escritório informática e comunicação que avançaram 11,7, e Outros artigos de uso pessoal e doméstico, que avançaram 8,4%. Não há um padrão muito claro, mas vemos atividades mais ligadas ao consumo discricionário sofrendo mais, como vestuário e móveis, que no acumulado dos últimos 12 meses recuam mais de 10%. Por outro lado, atividades mais ligadas ao setor de serviços mostram bom desempenho, como combustíveis e lubrificantes e materiais de escritório, com altas de 19% e 1,4% nos últimos 12 meses, respectivamente.
Volume de serviços avança 0,5% em julho
Resultado veio em linha com a expectativa do mercado. Já são três meses consecutivos de alta, acumulando ganhos de 2,2% no período. Com o resultado, o setor se encontra 12,8% acima do nível pré-pandemia.
Na série sem ajuste sazonal, frente a julho de 2022, o volume de serviços avançou 3,5%, sua 29a taxa positiva consecutiva. O acumulado em doze meses passou de 6,2% em junho para 6,0% em julho de 2023, menor resultado desde agosto de 2021 (5,1%).
A alta observada em julho foi acompanhada por três das cinco atividades investigadas, com os destaques sendo transportes e os serviços prestados às famílias, que avançaram 0,6% e 1%, respectivamente. Essas duas atividades tem sido os principais fatores por trás do bom desempenho do setor no pós- pandemia, e acumulam alta de 8,2% e 8,7%, respectivamente, no acumulado dos últimos 12 meses. O setor de transportes tem se beneficiado do aumento da receita das empresas que atuam no transporte de cargas, aproveitando-se do bom desempenho da agricultura nesse ano e do maior volume de comércio eletrônico, enquanto os serviços prestados às famílias indicam que a demanda por serviços ainda está relativamente aquecida. Ainda assim, como visto no IPCA de agosto, esse bom desempenho do setor não tem se materializado em pressões inflacionárias nos serviços.