Atividade desacelera em fevereiro
Os dados de atividade continuam surpreendendo o mercado. Indústria e serviços apresentaram queda no mês, enquanto varejo surpreendeu positivamente. De modo geral o resultado veio mais fraco que o esperado, apesar de uma demanda por consumo aquecida, reflexo da elevação da renda, com o mercado de trabalho aquecido e maiores gastos fiscais e esperamos uma variação do índice IBC-Br de -0,14% para o mês.
Produção industrial cai 0,3% em fevereiro
O resultado surpreendeu negativamente dado que a expectativa era uma alta de 0,2%. Em médias móveis trimestrais a variação foi de -0,1%, mostrando uma acomodação da indústria nos últimos meses. No acumulado do ano, a indústria apresenta avanço de 4,3%, devido à base mais fraca de comparação em 2023.
A difusão de itens que tiveram alta de produção no mês caiu de 72% em janeiro para 52%. A atividade que mais impactou negativamente no índice foi indústria química, que caiu 3,5% no mês. As indústrias farmacêutica e extrativa também contribuíram negativamente (-6% e - 0,9%). Já do lado positivo, a produção de veículos cresceu 6,5%, seguido de papel e utensílios não metálicos (5,8% e 4,5%).
Dentre as grandes categorias econômicas, os bens duráveis tiveram maior crescimento no mês (3,6%) e apenas os bens intermediários apresentaram queda (- 1,2%), mas menor que a do mês anterior (-2,7%). Os bens de capital tiveram ritmo de crescimento reduzido de 9,8% em janeiro para 1,8% em fevereiro, mas segue em tendência de melhora depois do fraco desempenho de 2023.
No geral, a indústria apresentou resultado melhor do que o ano anterior para todos os grandes grupos econômicos, e as principais medidas de tendência sugerindo um momento positivo. A conjuntura macroeconômica mais favorável tem ainda um efeito defasado no setor de indústria, mas as perspectivas para o setor se mantêm positivas. Os estoques estão se normalizando e a produtividade para o setor tem apresentado crescimento. Além disso, o Banco Central revisou a projeção de crescimento para a indústria ao final do ano de 1,7% para 2,2%. Por outro lado, a alta recente dos juros de longo prazo pode ser um novo desafio para a retomada da indústria no ano.
Vendas no varejo crescem 1% em fevereiro
Foi a segunda alta consecutiva, surpreendendo o mercado que esperava queda de -1,5%. O índice atingiu o máximo da série histórica e está 7,1% acima do patamar pré-pandemia. Comparado a fevereiro de 2023 o índice cresceu 8,2% e a média móvel trimestral avançou 0,7%, refletindo a melhora na renda, tanto pelo mercado de trabalho como pelas transferências do governo. Com isso, o acumulado no ano já está em 6,1% e o acumulado em 12 meses cresceu 0,5 p.p. para 2,3%.
O resultado foi impulsionado por uma alta de 9,9% em produtos farmacêuticos e de 4,8% em outros produtos de uso pessoal, grupos mais ligados à demanda. Do lado negativo, o volume de vendas de combustíveis apresentou queda 2,7% e o de supermercados recuou 0,2% no mês. O varejo ampliado cresceu 1,2% no mês e 9,7% em relação a fevereiro de 2023, acumulando alta de 8,2% no ano e 2,6% nos últimos 12 meses. O grupo de veículos teve alta de 3,9% no mês, reflexo do aumento da concessão de crédito para esse grupo, e acumula alta de 10,1% nos últimos 12 meses. Já vendas para materiais de construção caíram 0,2% no mês.
Apesar da baixa confiança para o setor de bens duráveis com o crédito ainda caro e sem expansão significativa, os grupos do varejo que apresentam maior sensibilidade ao crédito avançaram, reforçando a tendência de melhora. Vemos uma demanda aquecida mesmo com juros ainda restritivos, consequência do mercado de trabalho forte e salários em alta, além do pagamento extraordinário de precatórios no início do ano.
Volume de serviços recua -0,9% em fevereiro
Em mais uma surpresa na direção oposta do esperado, o setor de serviços teve a primeira queda após 3 meses. A média móvel permaneceu estável e a variação acumulada em 12 meses desacelerou de 2,3% para 2,2%. Em relação a fevereiro do ano anterior houve crescimento a 2,5%, em linha com nossa expectativa para o desempenho do setor ao longo do ano. O índice acumula alta de 3,3% no ano, e queda de 0.7 p.p. em relação a fevereiro de 2023.
A queda foi disseminada entre 4 das 5 atividades pesquisadas. O maior impacto veio de serviços profissionais, caindo -1,9%, com queda acentuada em serviços técnicos-profissionais (-4,8%) e aluguéis não imobiliários (-7,3%). Apenas serviços prestados às famílias apresentou alta no mês (0,4%), sustentada pela alta de 0,6% em alojamento e alimentação.
O resultado diverge do sentimento de confiança para o setor, que está positivo conforme o cenário macro apresenta melhora, com juros em queda, inflação controlada e mercado de trabalho aquecido. Contudo, esse resultado é positivo em relação às pressões inflacionárias para o setor, que segue sendo o mais resiliente, fortalecendo o alívio vindo com os dados do IPCA de março mais fraco para a sequência de corte de juros pelo BC.