Tendência de desaceleração persiste
Com todos os dados setoriais de fevereiro, temos uma visão mais clara da desaceleração da atividade. Dos três principais setores apenas serviços teve alta, de 1,1%, mas ainda longe de recuperar a queda de 3% observada em janeiro. O resultado de serviços sugere que foi efeito de uma correção parcial, especialmente quando analisamos que a principal influência do resultado foi a alta em transporte, que em janeiro haviam recuado fortemente. Observamos a continuidade de desaceleração no setor, que vem sendo a base da atividade econômica brasileira no pós-pandemia. A produção industrial deu sequência à sua fragilidade, apresentando o terceiro resultado mensal negativo consecutivo, fruto de uma menor produção de bens de capital. Por fim, o varejo que surpreendeu positivamente em janeiro, com alta de 3,8%, voltou a recuar em fevereiro, mas de maneira tímida, liderado pelo varejo ampliado. Entretanto, esse desempenho melhor que o esperado do varejo ampliado não altera a perspectiva para o setor, que deve sofrer ao longo do 2o trimestre com a desaceleração no crédito, que ainda não se manifestou de forma contundente nos dados setoriais. Nossa expectativa é de desaceleração gradual da atividade nos próximos meses, refletindo piores condições de crédito, menor demanda e a política monetária em patamar excessivamente restritivo.
Produção industrial recuou 0,2% em fevereiro
Variação veio pior que o esperado pelo mercado, acumulando o terceiro resultado mensal negativo consecutivo. Na comparação com fevereiro de 2022, o indicador recuou 2,4%. Com esses resultados, o acumulado no ano chega a -1,1% e o acumulado nos últimos 12 meses, a -0,2%. O setor sofre com a baixa demanda interna e externa, além da política monetária em patamar altamente contracionista.
Desaceleração da indústria foi concentrada em poucos setores. Duas das quatro grandes categorias econômicas e nove dos 25 ramos pesquisados tiveram variação negativa. Entre as atividades, as influências negativas mais importantes vieram de produtos alimentícios (-1,1%), produtos químicos (- 1,8%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (- 4,5%), assim como máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,5%) e de produtos de metal (-1,4%). No lado positivo, destaque para as indústrias extrativas que avançou 4,6%. Entre as grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis, ao recuar 1,4%, assinalou a taxa negativa mais acentuada em fevereiro de 2023, intensificando, dessa forma, a perda de 1,2% registrada em janeiro último, seguido do segmento de bens de consumo semi e não duráveis, com recuo de 0,1%.
Entre as grandes categorias econômicas, ainda no confronto com igual mês do ano anterior bens de capital (-12,4%) assinalou a queda mais acentuada. É a sexta taxa negativa consecutiva nessa comparação e a mais intensa desde agosto de 2020. Bens de capital foi a categoria que mais cresceu no pós- pandemia e mostra sinais de esgotamento. A produção de bens intermediários também intensificou as perdas de janeiro, enquanto bens de consumo semi e não duráveis e bens de consumo duráveis, expandiram na comparação com fevereiro de 2022.
Varejo recua 0,1% em fevereiro
Mercado esperava queda de 0,2% no volume de vendas. Após desempenho surpreendente em janeiro, de alta de 3,8%, varejo volta a desacelerar. Frente a fevereiro de 2022, o comércio varejista cresceu 1,0%, acumulando alta de 1,3% nos últimos doze meses e de 1,8% no ano.
Na versão ampliada, o resultado do varejo foi positivo em 1,7%. Comparadas a fevereiro de 2022, as vendas do varejo ampliado recuaram 0,2%. Nos últimos 12 meses, o varejo ampliado acumulou queda de -0,5%, resultado igual ao de janeiro.
Volume de vendas recuou em seis das oito atividades pesquisadas. Destaque para equipamentos e material para escritório, que recuou 10,4% e tecidos, vestuário e calçados, com queda de 6,3%. No destaque positivo, artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria avançaram 1,4% e livros, jornais, revistas e papelaria avançaram 4,7%. Já as duas atividades adicionais do varejo ampliado tiveram trajetórias opostas: Veículos e motos, partes e peças (1,4%) e Material de construção (-2,0%).
Resultado surpreende positivamente. Após o forte desempenho de janeiro, muito em parte devido ao efeito base de dezembro, uma desaceleração nas vendas era natural. Além disso, em fevereiro observamos os primeiros sinais da desaceleração no crédito, entretanto, o varejo ampliado não sentiu esse impacto, crescendo de maneira robusta. Porém, cabe lembrar que os efeitos da contração devem se tornar mais intensos a partir de março, o que piora a perspectiva para o setor.
Volume de serviços surpreende positivamente e avança 1,1% em fevereiro
Mercado contava com uma retração de 0,2% em fevereiro. Com esse resultado, o setor se encontra 11,5% acima do nível pré-pandemia e 2% abaixo do ponto mais alto da série histórica, observado em dezembro de 2022.
Na série sem ajuste sazonal, frente a fevereiro de 2022, o volume de serviços avançou 5,4%, sua 24a taxa positiva consecutiva. O acumulado em doze meses passou de 8% em janeiro para 7,8% em fevereiro de 2023, menor resultado desde setembro de 2021 (6,8%).
Três das cinco atividades investigadas avançaram em fevereiro. Destaque para os setores de transportes (2,3%) e serviços de informação e comunicação (1,6%). Na ponta negativa, destaque para os serviços prestados às famílias, que recuou 0,7%, sendo este um setor que mais contribuiu para o avanço dos serviços no pós-pandemia, sugerindo uma desaceleração da demanda, dada a forte queda em outros serviços prestados às famílias, com recuo de 4,6%. Além disso, os serviços profissionais, administrativos e complementares também recuaram 1%.