Macroeconomia


Atividade | Agosto 2024

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Luana Bretas

Publicado 11/out2 min de leitura

Atividade recua em agosto

Observamos o primeiro sinal de desaceleração no ano, que vinha sido tão esperado. A indústria foi o único setor no campo positivo, mas ainda com uma variação mais próxima de estabilidade. O volume de vendas no varejo e de prestação de serviços ambos recuaram no mês, indicando um cenário de desaceleração da atividade em meio à política monetária mais restritiva. Agora com uma nova fase de alta da Selic e com um último trimestre sem impulsos fiscais excessivos, esperamos observar uma continuidade dessa desaceleração. Para o IBC-Br de agosto esperamos uma queda de 0,14%.

Produção Industrial fica estável em agosto

A produção industrial veio em linha com a expectativa e variou 0,1% em agosto, após queda de 1,4% em julho. Comparado a agosto de 2023, a indústria cresceu 2,2% e acumula alta de 3% no ano, com aceleração no crescimento nos últimos 12 meses para 2,4%.

O índice de difusão ficou em 28%, bem abaixo dos 72% do mês anterior, com 18 das 25 atividades pesquisadas no campo negativo. A principal contribuição negativa veio da produção de veículos, que teve queda de 4,3%, destoando dos dados da Anfavea que indicaram aumento de 5,2% na produção em agosto. As duas outras principais influências negativas foram impressão e reprodução de gravações (-25,1%) e produtos diversos (-16,7%), ambas com forte queda no mês. Já pelo lado positivo, a indústria extrativa foi a maior contribuição, impulsionada pela maior extração de petróleo e minério de ferro, com alta de 1,1% no mês, seguido de farmacêuticos (3,6%) e equipamentos eletrônicos (4%). Apesar da queda de veículos em agosto, essa atividade é a segunda principal influência do crescimento anual e maior influência do crescimento acumulado no ano, métricas que mostram maior compatibilidade com os dados da Anfavea.

Entre as grandes categorias econômicas, bens de capital recuaram 4% e bens duráveis caíram 1,3%, enquanto bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis tiveram variação positiva de 0,3% e 0,4%, respectivamente. No acumulado no ano todas as categorias apresentam crescimento e nos últimos 12 meses apenas os bens de capital ainda se encontram no campo negativo, mas mostrando contínua recuperação. A recente alta dos juros influenciou uma postura de maior cautela pelos empresários e acabou reduzindo a confiança na indústria, mas o setor ainda mostra ritmo de expansão, variando 1% no índice de média móvel trimestral.

Comércio varejista varia -0,3% em agosto

Foi um resultado próximo da estabilidade e melhor que o esperado pelo mercado que era de um recuo de 0,6%. No acumulado no ano, o varejo tem um crescimento robusto, com alta de 5,1% frente ao mesmo período de 2023. Na comparação ano contra ano houve uma alta de 5,1% e o acumulado em 12 meses se encontra em aceleração, com alta de 4%.

O resultado negativo no mês foi disseminado entre 7 das 8 atividades pesquisadas, com apenas produtos farmacêuticos no campo positivo com alta de 1,3%. Produtos de uso pessoal apresentaram maior queda (-3,9%), sendo o principal impacto negativo no mês, seguido de móveis (-1,6%) e supermercados (-0,1%). O resultado das vendas nos supermercados também é considerado uma estabilidade, após alta de 2% em julho, e essa atividade vem sendo a principal contribuição para o forte crescimento do comércio tanto no acumulado no ano, nos últimos 12 meses e no ano contra ano. Já o varejo ampliado recuou 0,8%, enquanto mercado esperava crescimento de 0,3%. A venda de veículos foi a responsável pelo resultado negativo, com queda de 5,2% no mês. Frente a agosto de 2023, o varejo ampliado cresceu 3,1%, e acumula alta de 4,5% no ano.

O resultado negativo no mês deve aumentar as discussões sobre o impacto do crescimento das bets sobre o o comércio, que vem sendo sustentado por consumo essencial como supermercados e farmacêuticos. Com os sinais de enfraquecimento do comércio as entidades associadas devem continuar pressionando por novas limitações nas atividades dos sites de apostas, como restrições ao acesso a crédito para esses fins e o maior controle das irregularidades no setor.

Serviços recuam 0,4% em agosto

O volume de serviços em agosto variou -0,4%, abaixo da expectativa de 0,2%. Além disso, o resultado de julho foi revisado de alta de 1,2% para 0,2%. Frente a agosto de 2023 houve um crescimento de 1,7%, e o crescimento acumulado no ano cresceu 2,7% acima do mesmo período do ano anterior. Nos últimos 12 meses o crescimento permanece em 1,9%.

O resultado negativo foi resultado da queda das duas atividades de maior peso no índice. Transportes caíram 0,4% e serviços de informação e comunicação recuaram 1% no mês. Serviços profissionais ficaram estáveis e serviços às famílias e outros serviços cresceram 0,8% e 1,4%, respectivamente. A queda em transportes foi mais intensa para transporte de passageiros (-0,75%), enquanto transporte de cargas ficaram próximo de uma estabilidade (-0,02%), e as atividades turísticas ficaram estáveis no mês.

A queda dos serviços no mês veio por parte das atividades mais ligadas à oferta, enquanto a demanda ainda se mostra resiliente. No entanto, o conjunto de dados do mês, incluindo a piora do endividamento das famílias e o aumento do custo do crédito podem influenciar um recuo no consumo à frente. O Banco Central tem se mostrado muito preocupado com o nível de atividade e seu possível impacto na inflação, principalmente baseado em novas estimativas de hiato mais apertado, mas não estamos vendo tanto motivo para essa preocupação. O IPCA de setembro mostrou um núcleo e uma inflação de serviços desacelerando em patamar bastante acomodado. Para o restante do ano, a tendência é de desaceleração na margem, dado o novo ciclo de alta da Selic que já tem impactado o varejo ampliado devido aos estresses observados na curva de juros nos últimos meses. Além disso, esperamos um menor impulso fiscal nesse último trimestre caso o governo entregue a meta do superavit fiscal, o que terá impacto sobre a demanda como um todo.


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