Atividade segue ritmo de crescimento em abril
Em abril, o crescimento da atividade foi puxado pelos 3 principais setores da economia, uma alteração comparado ao que vínhamos observando no início do ano. No entanto, a incerteza no cenário e a mudança no rumo da política monetária, com juros restritivos por mais tempo, devem impactar a atividade ao longo do ano. E, apesar do mercado de trabalho ainda aquecido, a melhora da renda com a alta dos salários pode perder força caso haja um repique inflacionário com as expectativas se deteriorando. Além disso, os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul devem começar a aparecer nas estatísticas a partir do próximo mês, podendo ser mais um entrave à continuidade da atual dinâmica de crescimento da economia. Nossa expectativa para o IBC-Br de abril é uma alta de 0,19%.
Produção Industrial recua 0,5% em abril
A indústria teve queda de 0,5% no mês, maior que o consenso de mercado (-0,4%). Ainda assim, o crescimento acumulado no ano está em 3,5% e nos últimos 12 meses o ritmo foi intensificado, com alta de 1,5%. Comparado a abril do ano anterior, a variação da indústria foi de 8,4%, devida ao efeito calendário por abril de 2024 ter tido 4 dias úteis a mais e pela baixa base de comparação com o recuo de 2,7% em abril de 2023. Com esse resultado, a média móvel trimestral segue em alta ascendente de 0,2%.
A queda foi influenciada pelas atividades de indústria extrativa (-3,4%) e produtos alimentícios (-0,6%), que têm os maiores pesos no índice. Entretanto, o índice de difusão aumentou para 72% em abril, ante 20% em março, com 18 das 25 atividades pesquisadas apresentando alta. No campo positivo, veículos tiveram a maior contribuição com alta de 13,2% no mês, após queda de 4,6% em março, resultando em crescimento de 8% acumulado no ano. Outros destaques foram a alta de 25,1% dos produtos diversos e 10,8% dos produtos farmacêuticos.
Entre as grandes categorias econômicas, bens intermediários foram os únicos com variação negativa (-1,2%). Os bens de consumo duráveis foram destaque de crescimento (5,6%). Os bens de capital avançaram 3,5%, reduzindo a queda acumulada nos últimos 12 meses de -10,7% para -7,8%, destacando na produção de equipamentos de transporte, agrícolas, para fins industriais e construção.
Os empresários estavam confiantes com o setor, com perspectiva de melhora na demanda e os níveis de estoque se normalizando, mas devemos observar uma reversão com o aumento da sensação de pessimismo com a economia, devido às novas medidas anunciadas de novos impostos e política monetária mais restritiva.
Volume de Serviços avança 0,5% em abril
O resultado veio melhor que o consenso do mercado de 0,2%. A variação ano contra ano foi de 5,3% devido à base de comparação fraca (queda de 2,2% em abril de 2023), além de ter havido mais dias úteis em abril do ano corrente. O índice acumula uma alta de 2,3% no ano e 1,6% em 12 meses, apresentando primeiro ganho de dinamismo nesta métrica desde outubro de 2022. Em média móvel trimestral o índice permaneceu estável (0,1%).
O principal impacto positivo veio de transportes que cresceram 1,7% puxado por transporte aéreo (18,2%), seguido pelos outros serviços, com alta de 5% no mês. Informação e comunicação também apresentaram variação positiva (0,4%). No campo negativo, serviços prestados às famílias caíram 1,8% e serviços profissionais 1,1%. Nos últimos 12 meses, TI e serviços auxiliares financeiros vêm apresentando as maiores influências positivas para o setor.
O resultado de abril foi positivo pelo lado da oferta, mas com recuo pelas atividades ligadas à demanda, que vinham sustentando a economia nos últimos meses, o que pode ser um entrave ao crescimento da atividade. Ainda assim, apesar da queda nos serviços prestados às famílias influenciada por alojamento e alimentação, os outros serviços, que contemplam atividades intensivas em mão de obra e atividades de recreação, tiveram alta de 9% no mês, representando o lado da demanda ainda aquecida.
A confiança para os serviços recuou devido a piores perspectivas em relação ao futuro, com uma expectativa de piora na demanda que vinha sustentando o setor nos últimos meses.
Vendas no varejo crescem 0,9% em abril
Em abril houve um crescimento de 0,9% nas vendas no varejo, resultado abaixo do que era esperado pelo mercado (1,7%). Comparado a abril de 2023 o índice cresceu 2,2%. O crescimento acumulado no ano foi de 4,9%, melhor resultado para um mês de abril desde 2014. Nos últimos 12 meses o varejo retoma a dinâmica de crescimento que havia sido interrompida em março e acumula alta de 3,3%. A média móvel trimestral variou 0,7%.
Das 8 atividades pesquisadas, 5 apresentaram alta no mês. A principal contribuição positiva veio de vendas nos supermercados, que cresceram 1,5%, seguido de combustíveis (2,2%). Em termos de crescimento, a atividade que teve melhor performance foi informática e comunicação, alta de 14% após queda de 10% em março, sendo o terceiro maior componente de impacto positivo no mês. Do lado negativo tivemos vestuário e livrarias (-0,7% e -0,4% respectivamente), enquanto materiais de uso pessoal se manteram estáveis. Já o varejo ampliado teve queda de 1% no mês, mesmo com alta de 1,6% em veículos e 1,9% em materiais de construção, sugerindo a queda puxada pelos itens de atacado de alimentos, que comparado a abril de 2023 tiveram uma queda de 13% e acumulam -5% no ano. O resultado reflete o impulso do comércio mais pelo lado da oferta e itens de consumo essencial, como alimentos, combustíveis e medicamentos, enquanto a demanda foi positiva apenas para móveis e eletrodomésticos.
De modo geral, o varejo tem apresentado surpresa positiva em 2024, influenciado pelo bom desempenho do mercado de trabalho e melhora marginal do crédito. Os componentes do varejo mais sensíveis tanto à renda quanto ao crédito apresentaram bons resultado no mês. Nesse sentido, a mudança recente na postura do BC, que irá manter uma política monetária mais restritiva que o antecipado, deverá ser um empecilho à continuidade do crescimento do setor.
O cenário de incerteza afetaram a confiança para o setor e as expectativas para a demanda no comércio pioraram, principalmente devido à tragédia no RS, que deve gerar impactos negativos no varejo restrito nos próximos meses, mas com um impulso nas vendas de materiais de construção para a reconstrução do estado.