Macroeconomia


Análise | Setor Externo | Outubro 22

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Rafaela Vitória

Publicado 25/nov

No acumulado até outubro, o déficit é de US $44 bilhões, bem superior ao resultado de US$30,2 bilhões do mesmo período em 2021

Em 12 meses, o déficit em conta corrente apresentou leve melhora em relação a setembro, saindo de 3,43% do PIB para 3,31% do PIB em outubro. Entre as razões para o fluxo mais negativo esse ano está o aumento de remessas de lucros e dividendos e o balanço de serviços, ambos fatores ligados ao crescimento maior da economia brasileira. A boa notícia foi a continuidade do investimento direto em patamar robusto, alcançando US$ 5,5 bilhões em outubro e já ultrapassa US $74 bilhões no acumulado do ano.

O superávit da balança comercial acumulado até outubro foi de US$37,1 bilhões, com leve alta em relação ao ano passado.

Apesar do saldo semelhante, as exportações e importações cresceram 19,6% e 22,5%, respectivamente, até outubro de 2022, reflexo do aumento das exportações de commodities e do crescimento das importações da indústria de transformação, tanto pelo impacto do preço como pelo volume.

A discrepância entre a balança comercial calculada pela Secex e a calculada pelo Banco Central foi de US$14,2 bilhões. Essa diferença se dá principalmente pela negociação internacional de bens de pequeno valor, via encomendas, e investimentos em criptoativos. Até outubro, os brasileiros importaram mais de US $16 bilhões em criptoativos e pequenas encomendas, enquanto exportaram US $3,7 bilhões desses mesmos itens.

Balança de serviços reflete recuperação de gastos em viagens

O déficit na conta de serviços aumentou em 55% no acumulado do ano até setembro e soma US $32,8 bilhões. O resultado indica normalização da conta serviços ao patamar pré-pandemia. Despesas com transportes, aluguéis de equipamentos e viagens foram as principais altas.

O déficit em Renda Primária também teve alta de 8% até outubro, principalmente pelo aumento das remessas de lucros e dividendos, tanto dos investimentos diretos como dos investimentos em carteira.

Investimento Direto no País (IDP) acumula US$74 bilhões em 2022

Em outubro, o IDP somou US $5,5 bilhões. Houve queda no ritmo observado nos meses de agosto e setembro, quando o IDP foi de US $9 bilhões/mês. No acumulado até outubro, os ingressos já são 59% superiores a 2021 e já representam mais de 4% do PIB em 12 meses. O maior volume acontece tanto em participação de capital como em operações intercompanhia. O volume de investimentos pode ultrapassar US $80 bilhões no ano e será o maior valor desde 2014.

Investimento em carteira totalizou entrada líquida de US $3,3 bilhões em outubro

Voltando a ficar positivo. O resultado foi fruto da entrada de US $3,2 bilhões em investimentos em ações e fundos de investimento e US $14 milhões em títulos de dívida. No acumulado em 12 meses, o fluxo acumula saldo positivo de US $74 milhões.

Reservas internacionais somam US$325 bilhões em outubro

Redução de US$2 bilhões em comparação ao mês anterior, devido às vendas líquidas de US$1 bilhão em operações de linhas com recompra, e contribuições negativas das variações de preços, US$823 milhões, e de paridades, US$166 milhões. A redução observada esse ano ocorre principalmente pelas variações negativas no portfólio de investimentos. Com a elevação dos juros nos EUA, os títulos do tesouro tiveram perda de valor de cerca de 15%. Além disso, 20% das reservas são em outras moedas, incluindo euro, libra e iene, e o dólar acumula valorização de cerca de 18% no ano, o que também impacta negativamente as reservas.

Análise das importações

Nesse relatório, trazemos uma análise especial da evolução das importações nos últimos anos e suas implicações para a economia.

O crescimento das importações a partir de 2020 tem despertado atenção, especialmente em um país com economia relativamente fechada e onde a pauta de substituição de importações orientou por muitos anos os planejadores de política econômica. A economia brasileira finalmente caminha na direção de uma maior abertura?

Com a melhora da conjuntura a partir de 2017, é perceptível uma inflexão de tendência das importações do país. Mais notadamente, em 2021 o crescimento foi de 38% e em 2022 até outubro, acumula nova alta de 29%. No ano, as importações devem chegar a US$270 bilhões, marcando novo recorde. E ocorre em meio a um cenário de desvalorização do real de cerca de 30% desde 2019.

A pandemia mudou hábitos de consumo no Brasil

A partir de meados de 2020, o crescimento de encomendas internacionais de pequeno valor passaram a ser contabilizadas pelo Banco Central, captando esse movimento de integração do consumidor brasileiro ao e-commerce internacional. Em 12 meses até outubro, as importações diretas pelo consumidor já somam mais de U$11 bilhões, cerca de 6,2% do total importado no país.

Importações vem ganhando participação no PIB

Mesmo considerando que parte do crescimento das importações é devido ao aumento de preços em USD, principalmente combustíveis e fertilizantes, a participação no PIB também cresce, acima de outros períodos de alta de commodities. Em termos percentuais, as importações passaram de uma média de 14% do PIB para quase 20% nos últimos 12 meses.

Em volume, as importações em 2022 acumulam alta de 15% em relação a 2019, mas estão praticamente estáveis em relação a 2021 (-1%). O valor em USD cresceu 29% em 2022, impactado pela alta de preços, principalmente de fertilizantes e combustíveis.

As importações de combustíveis e fertilizantes são destaque devido à elevação dos preços em dólares em 2022. A guerra na Ucrânia impactou a oferta de fertilizantes da região e chegou-se a questionar a viabilidade das importações. A alta dos preços de gasolina e diesel também resultaram no crescimento maior das importações. Ainda assim, observamos que os volumes são superiores ao pré- pandemia, indicando o crescimento da atividade no Brasil e, consequentemente, maior demanda.

China e EUA continuam sendo nossos principais parceiros quanto às importações. Além da relevância na participação, o crescimento das importações é mais acelerado, ressaltando a importância das relações comerciais. Importar mais também significa abertura para exportar mais.

Por fim, notamos que os impostos sobre importações apresentam uma tendência de queda, o que pode ter contribuído para o aumento das importações nos últimos dois anos. Desde alimentos da cesta básica até máquinas e equipamentos, os cortes em impostos sobre importações, originalmente visavam conter a alta de preços devido aos gargalos de oferta. No acumulado do ano até setembro de 2022, a queda na arrecadação com impostos sobre importação foi de 13% em termos reais, mesmo com o crescimento de cerca de 20% nas importações.

A elevação da corrente de comércio brasileira em 23,5% em 2022, em cima de uma alta de 36% em 2021 pode ser vista como um indicador de maior participação do Brasil no comércio global, ainda que nossa pauta não seja tão diversificada. Como observado ao longo do ano, a redução de impostos sobre importação contribuiu para preços mais competitivos e crescimento da atividade, permitindo maior eficiência na alocação de capital no longo prazo. Em contrapartida, a melhora nas relações comerciais permite abertura de mercados também para os produtos brasileiros exportados, destacando a importância da análise concomitante do saldo comercial e da corrente de comércio na conjuntura econômica.


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