Transações correntes foram deficitárias em US$3,1 bilhões em novembro
Transações correntes foram deficitárias em US$3,1 bilhões em outubro, ante expectativa de um déficit de US$3,4 bilhões. No acumulado dos últimos doze meses, o déficit foi de US$52,4 bilhões, ou 2,4% do PIB. O resultado em novembro foi fruto do recuo de US$1,7 bilhões no saldo comercial, e do aumento em US$900 milhões no déficit de serviços, com deterioração de US$603 milhões no saldo de renda primária apesar de melhora de US$140 milhões no saldo de renda secundária. A conta capital, substancialmente composta por transações de criptomoedas, atingiu um déficit de US$1,2 bilhão em novembro, frente a US$1,3 bilhão em novembro de 2023 e acumulando US$16,4 bilhões nos últimos doze meses, ou 0,7% do PIB.
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Investimento Direto no País (IDP) teve ingresso líquido de US$ 7,0 bilhões
O IDP em outubro foi de US$7,0 bilhões, ante expectativa de US$6,0 bilhões. Nesse mês, houve ingresso líquido de US$6,9 bilhões em participação no capital e entradas de US$100 milhões em operações intercompanhia. No acumulado de 12 meses, o IDP totalizou US$66,3 bilhões, o que corresponde a 3,0% do PIB. Apesar do aumento de aversão a risco causada pela deterioração fiscal doméstica, com impacto relevante na taxa de cambio e nos juros no Brasil, o investimento direto segue em patamar estável. Um prolongamento do atual cenário de risco pode refletir em redução do investimento direto à frente e resultar em nova pressão no cambio ao longo de 2025.
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Política tarifária: qual é o limite?
Meses antes da posse, Trump tem feito ameaças de cunho comercial contra múltiplos países e organizações, como o Brics e até mesmo o Nafta, visando poder de barganha para negociações de acordos, como tratados de imigração. Isso tem gerado maior incerteza sobre as cadeias de oferta globais, impulsionando o DXY em nova tendência de alta, além de gerar questionamentos acerca dos possíveis impactos no Brasil, caso novas tarifas contra os Brics se materializem.
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A importância dos EUA no comércio global se alterou dramaticamente ao longo das últimas décadas. Uma economia que já é historicamente menos aberta ao resto do mundo comparada com europeus, os EUA tem gradualmente perdido espaço no comércio internacional para países emergentes, tendo sido superado pela China já em 2011 e apenas mantido sua fatia desde então, apesar do impulso positivo do dólar forte e da performance econômica favorável entre as economias avançadas. No Brasil a história não é muito diferente, com a participação comercial americana se reduzindo de 25% para menos de 15% desde o fim da década de 90.
As evidências estudadas a partir da guerra comercial sino-americana de 2018-19 também corroboram dois pontos de fraqueza: grande parte do aumento das tarifas americanas incidiu nos seus próprios importadores enquanto o aumento das tarifas chinesas, feitas em retaliação, incidiu nos exportadores americanos. Logo, essa situação indica que uma política hostil ao livre comércio iniciada pelos EUA será prejudicial ao próprio país, enquanto a maioria dos parceiros afetados conseguiriam adaptar suas rotas através de países re-exportadores em cerca de três anos.
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Tratado UE-Mercosul: quais os impactos no Brasil?
Após 25 anos de negociação, a União Europeia e o Mercosul assinaram o pacto de flexibilização comercial entre os blocos econômicos. Com o tratado, veremos um processo de transição ao longo dos próximos 10-15 anos que vai culminar na eliminação de quase todas as tarifas e restrições na importação e exportação dos países envolvidos, gerando assim efeitos defasados porém relevantes na economia brasileira. Mais especificamente, os efeitos agregados na atividade são significativos sem serem substanciais, com ganhos de 0,05% a.a. para o crescimento do PIB e abertura proporcional das importações e exportações, sem alteração notável no saldo comercial.
Porém, os impactos setoriais são mais distintos, e em termos gerais observamos ganhos concentrados de exportação para a agropecuária, enquanto a indústria de transformação deverá ter impactos mistos, com perdas concentradas nos subsetores mais intensivos em tecnologia, como equipamentos elétricos.
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Enfatizamos, porém, que o maior benefício para o Brasil deverá ocorrer com a maior disponibilidade de insumos intermediários: como abordamos regularmente no nosso Relatório de Balança Comercial, as atividades nacionais de transformação, agropecuária e construção civil são dependentes da importação de bens de capital que são pouco produzidos domesticamente, fazendo com que a abertura proporcionada pelo tratado reduza o preço relativo dos investimentos e gere aumentos estimados de 0,15% a.a. na formação bruta de capital fixo, proporcionando um estoque de capital maior e maior crescimento do PIB à longo prazo na margem.