Transações correntes foram deficitárias em US$5,1 bilhões em junho
Transações correntes foram deficitárias em US$5,1 bilhões em junho, abaixo das expectativas. No acumulado dos últimos doze meses, o déficit foi de US$73,1 bilhões, ou 3,3% do PIB. O resultado em junho, frente ao mesmo mês do ano anterior, foi principalmente fruto de uma piora de US$1,3 bilhão no saldo de renda primária como decorrência do processo de revisão das contas externas promovido pelo BC, que reduziu as estimativas de lucros obtidos por ativos estrangeiros sob posse do Brasil.

Investimento Direto no País (IDP) teve ingresso líquido de US$ 2,8 bilhões
O IDP em junho foi positivo em US$2,8 bilhões, abaixo da expectativa, trazendo o acumulado em 12 meses para US$67 bilhões, ou 3,1% do PIB, ampliando o descompasso do balanço de pagamentos brasileira. Apesar da melhora de US$ 2,1 bilhões na participação de capital frente ao mesmo mês do ano anterior, o saldo das operações intercompanhia teve queda de US$ 5,5 bilhões, a pior saída desde dezembro de 2017, indicando uma saída de recursos financeiros para matrizes estrangeiras, potencial antecipação ao decreto do IOF, que aumentou as alíquotas sobre a remessa de dólares ao exterior.
O indicador tem apresentado uma dinâmica dual, marcada por entrada crescente na participação do capital estrangeiro em firmas brasileiras em meio a menores aportes financeiros. Embora seja possível que o conflito tarifário agrave essa situação ao hostilizar os vínculos comerciais entre o Brasil e EUA, entendemos que o fluxo intercompanhia tem motivações mais microeconômicas, enquanto o fluxo de participação de capital pode ser impactado negativamente nos próximos meses, tendo em mente a incerteza promovida pelas medidas comerciais que podem postergar investimentos de capital fixo.

Balança comercial
Em junho, a balança comercial registrou superávit de US$5,9 bilhões de acordo com a metodologia da Secex e de US$5,3 bilhões de acordo com a metodologia do Banco Central, abaixo do superávit do registrado no mesmo mês do ano anterior.

As exportações de bens totalizaram US$29,1 bilhões. Na comparação com junho de 2024, as exportações subiram 0,1% com um qualitativo ainda robusto na agropecuária, com as exportações de soja se mantendo acima do padrão histórico no último mês da super-safra.

As importações de US$23,3 bilhões em junho cresceram 4,5% frente a maio de 2024, mantendo a tendência de arrefecimento. O qualitativo, porém, indica um dado mais aquecido do que o agregado, com diversas das pautas principais apresentando maiores importações do que no mês anterior.
Cripto e serviços
A conta capital, composta basicamente por transações de criptomoedas, atingiu déficit de US$1,5 bi em junho, frente a US$1,3 bilhão em junho de 2024 e acumula US$14,2 bilhões em 12 meses, ou 0,67% do PIB. Notamos que a saída de recursos via criptomoedas reacendeu nesse mês embora o interesse público no tema tenha tido pouca alteração, indicando que a alta não deve ter origem especulativa e reflete potenciais efeitos das medidas de IOF no canal de stablecoins.


O déficit de serviços atingiu US$4,5 bi em junho, US$0,1 bi maior em relação ao ano anterior. Notamos que o déficit continua crescendo para os insumos associados à demanda das firmas apesar de sinais iniciais de desaquecimento, enquanto o arrefecimento dos serviços associados à demanda das famílias segue em curso, ainda que de forma lenta.
