Após dez meses em queda, a taxa de desemprego sobe de 7,9% para 8,4%
A alta ficou acima da expectativa do mercado e indica uma desaceleração do mercado de trabalho. Após o último resultado do CAGED, que mostrou redução no ritmo de novas contratações pelo setor formal, o aumento na taxa de desemprego no trimestre findo em janeiro confirmou a desaceleração além do esperado pelo efeito sazonalidade. Na série com ajuste sazonal o aumento no desemprego foi inferior (+2 p.p.), de 8,5% em dezembro para 8,7% em janeiro.
Aumento do desemprego principalmente pela redução no contingente de ocupados. Tal estoque atingiu 98,6 milhões, uma queda de 1 milhão de pessoas frente ao último trimestre. Por outro lado, o contingente de desocupados se manteve em 9 milhões, o mesmo patamar do último trimestre. Dessa forma, observamos uma redução da oferta de trabalhadores e na taxa de participação, um indicador negativo para a atividade à frente, tendo em vista que a mão de obra representa o principal fator por trás da produção de uma economia. Além disso, a redução na taxa de participação pode manter a pressão inflacionária nos salários.
Desaceleração do mercado de trabalho é disseminado entre todas as atividades, mas perda de empregos relacionados à agricultura e a serviços públicos foram destaque. A quantidade de empregados pela agricultura recuou em 272 mil pessoas, número significativo, ao considerar que representa aproximadamente 3,2% do estoque total. No entanto, a expectativa mais otimista para safra de 2023 deverá contribuir para sustentar o mercado de trabalho relacionado à agricultura. Já em relação ao setor público, a perda de 340 mil empregos está associada a uma reestruturação do pessoal por parte dos governos, que ainda mais evidente em anos pós-eleições.
Setores mais cíclicos da economia apresentaram maior deterioração. A indústria registrou queda de 220 mil empregos. Os produtores desse setor, principalmente de bens duráveis, têm sido diretamente atingidos pela desaceleração da demanda causada pelo aperto monetário e pelo fim dos estímulos fiscais. Construção mostrou queda no número de ocupados pelo 5o trimestre móvel consecutivo, refletindo a contração do mercado de crédito.
Apesar do aumento do desemprego a recuperação do rendimento real médio habitual segue generalizada entre as categorias. No último trimestre, a maior variação foi observada no setor de serviços, com destaque para alojamento e alimentação (+7,1%), que tem sido mais beneficiado pela tendência de formalização do mercado de trabalho, e para serviços públicos (+3,1%) e domésticos (2,1%). O rendimento na indústria (+2,1%) e na construção (2,0%) também se manteve em tendência de alta no último trimestre.
Mesmo após a alta nos rendimentos, o crescimento da massa real de rendimentos habituais começa a dar sinais de normalização. Após subir quase 12% no último ano e bater recorde para série histórica no trimestre móvel findo em novembro, a variação do último trimestre foi a menor dos últimos 10 meses (+0,7%). Caso tal tendência de desaceleração se consolide nos próximos meses, o efeito acumulado das últimas variações na renda agregada ainda permanecerá significativo, contribuindo para sustentar a atividade econômica e a arrecadação.