Energia pressiona o IPCA, mas dinâmica ainda é benigna
IPCA registrou alta 0,44% em setembro, em linha com a expectativa que era uma alta de 0,46%. Com o resultado, o índice acumula alta de 4,42% nos últimos 12 meses, acelerando frente ao resultado de agosto, mas ainda abaixo do teto da meta.
Como esperado, Habitação e Alimentação e bebidas foram os principais contribuintes para o resultado do mês, com alta de 1,8% e 0,5%, respectivamente, respondendo por 86% da inflação do mês. Habitação foi amplamente influenciado pela energia elétrica residencial devido ao reajuste da bandeira tarifária para o nível vermelho patamar 1, o que implicou em uma alta de 5,36% no mês. Em alimentação, o resultado foi influenciado pela alta de 0,56% em alimentação no domicílio, reflexo da aceleração nos preços dos alimentos. Na outra ponta, tivemos deflação no grupo de Despesas pessoais, Artigos de residência e comunicação, que retiraram 0,04 ponto percentual do índice cheio.
Apesar do resultado pressionado, o núcleo da inflação, que exclui os itens mais voláteis, desacelerou na margem de 0,24% para 0,22%,
sugerindo que o comportamento dos itens mais voláteis não tem transmitido para o restante dos preços, com a média dos núcleos ficando estável no acumulado em 12 meses, em 3,81%. Além disso, a inflação de serviços recuou frente a agosto, saindo de 0,24% para 0,15%, com grande contribuição da inflação de serviços subjacentes que, assim como no IPCA-15, ficou próxima da estabilidade, variando 0,01%. Finalmente, o índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços que tiveram alta de preços no mês, avançou na margem para 56,5%, mas se mantendo abaixo de 60%, patamar historicamente confortável para a economia brasileira.
O IPCA de setembro confirma o cenário indicado pelo IPCA-15. A despeito das pressões dos itens mais voláteis, vemos uma dinâmica inflacionária ainda benigna, com os núcleos e os serviços bem comportados, sem indicar reaceleração. Para o restante do ano devemos continuar a observar pressões desses itens mais voláteis, com um novo aumento na bandeira tarifária em outubro e a continuidade da seca. Entretanto, caso o governo consiga entregar a meta fiscal esse ano, haverá um menor impulso fiscal no último trimestre que deve contribuir para o bom comportamento dos núcleos e da inflação de serviços, que não se mostram muito sensíveis, nesse momento, ao ritmo acima do esperado da atividade econômica.
Mesmo com a continuidade da dinâmica benigna e uma variação levemente abaixo do esperado, o resultado não deve influenciar na decisão do Copom em novembro. Esperamos que o comitê eleve a Selic em 50 pontos base, a 11,25%, tendo em vista a pressão mercado, as expectativas desancoradas e a pressão nos itens monitorados que, em meio a esse contexto, pode contaminar ainda mais as expectativas. Ainda assim, a manutenção do atual comportamento dos núcleos e da inflação de serviços, aliada à uma redução da incerteza local, pode entregar um ciclo de alta total menor que o esperado.