IPCA de setembro registra alta de 0,26%
Resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, que era uma alta de 0,34%. O resultado reflete principalmente os avanços de 1,4% e 0,47% nos grupos de Transportes e Habitação, que também tiveram os maiores impactos sobre o índice cheio, de 0,29 p.p e 0.07 p.p, respectivamente. O grupo de transportes reflete a alta de 2,70% dos combustíveis, o que tem sido a tendência dos últimos meses. Já o grupo de habitação contou com alta de 0,99% na energia elétrica residencial, em decorrência de reajustes tarifários. Por outro lado, alimentos e bebidas foi novamente o destaque de baixa, apresentando queda pelo quarto mês consecutivo. Em setembro, o grupo recuou 0,71%, em grande parte devido à queda de 1,02% da alimentação no domicílio.
Com o resultado de agosto, o acumulado nos últimos 12 meses continuou a acelerar, de 4,61% para 5,19%. Essa aceleração era esperada e fruto do efeito base, pois em setembro de 2022 houve deflação de 0,29%. Apesar disso, o qualitativo continua bastante positivo. A média dos núcleos ficou em 0,21%, e a média móvel dos últimos 3 meses manteve-se em 0,22%, indicando continuidade da tendência de queda. O mesmo movimento se observa no acumulado dos últimos 12 meses, que recuou de 5,2% para 5%, mantendo tendência de queda observada nos últimos meses. Por fim, o índice de difusão, que calcula o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preços durante o mês, recuou para 43%, o menor valor desde maio de 2020.
Inflação de serviços acelera, mas não preocupa
O resultado qualitativamente foi bastante positivo. As principais medidas de inflação de serviços mantiveram a tendência de desaceleração, apesar da alta de 0,50% em setembro, acima de 0,08% em agosto. Tal resultado foi influenciado pelo comportamento das passagens aéreas, que avançou mais de 13% em setembro após ter recuado 11% em agosto. Como passagem é bastante volátil, também calculamos a inflação de serviços sem esse item, e observamos uma alta bem menor, de 0,30%.
O bom comportamento da inflação de serviços é reforçado pela tendência de queda na inflação dos serviços subjacentes, componente que o Banco Central dá elevado peso. Em agosto, tal grupo avançou 0,33%, mantendo a tendência de desaceleração nos últimos 12 meses, que recuou para 5,19%.
Por fim, o destaque negativo continua sendo os itens administrados, que avançaram 1,11% em setembro, após avançar 1,26% em agosto. Tais itens, por serem administrados pelo poder público, tem atuado de maneira anticíclica. Após ter rodado por diversos meses abaixo dos itens livres, estamos vendo a recomposição nos preços desses bens e serviços, em boa parte devido à volta da tributação, em um momento em que a dinâmica inflacionária permite.
De modo geral, o resultado de setembro indica continuidade de cenário benigno para inflação. A dinâmica é consistente com o guidance fornecido pelo Copom de cortes de 50 bps na Selic nas próximas reuniões. O grande risco nesse momento para a política monetária é o cenário externo, que apresentou piora com a eclosão do conflito em Israel. Ainda assim, temos visto o câmbio se comportando relativamente bem, oscilando ao redor de R$5, o que limita a transmissão desses choques externos para a inflação doméstica. Portanto, já são duas leituras de inflação após o início do ciclo de cortes e a dinâmica mantêm-se muito benigna, o que dá maior tranquilidade para a continuidade dos cortes. Naturalmente, o cenário externo estará no radar dos membros do Copom, mas até o momento o aumento da incerteza lá fora não tem impactado a dinâmica interna da economia brasileira.