Macroeconomia


Análise | IPCA | Outubro 2023

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André Valério

Publicado 10/nov

IPCA de outubro registra alta de 0,24%

Resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, que era uma alta de 0,29%. Oito dos nove grupos pesquisados apresentaram alta de preços, com destaque para Transportes e Alimentação e bebidas que tiveram os maiores impactos no índice, registrando alta de 0,35% e 0,31% respectivamente. Na sequência, Saúde e Cuidados Pessoais foi o que teve mais impacto, com alta de 0,32%. O único grupo a registrar queda nos preços foi o de Comunicação, com queda pelo segundo mês consecutivo. Os demais grupos ficaram entre o 0,02% de Habitação e o 0,46% de Artigos de residência. O grupo de transportes reflete alta de 23,7% nos preços da passagem aérea, enquanto combustíveis recuaram 1,39%. Já no grupo de Alimentação e Bebidas, o destaque foi a alta de 0,27% na alimentação em domicílio, após quatro meses consecutivos de queda.

Com o resultado de outubro, o acumulado nos últimos 12 meses recuou pela primeira vez desde junho, alcançando 4,82%, abaixo dos 5,19% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. No geral, a dinâmica inflacionária indica continuidade do processo de desinflação. Apesar da média dos núcleos terem acelerado no mês, saindo de 0,22% para 0,26%, continuamos a observar a queda no acumulado dos últimos 12 meses, que alcançou 4,71%, ante alta de 5,02% em setembro. Além disso, a difusão, o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preços durante o mês, acelerou, mas ficando em patamar ainda confortável, alcançando 52,5%.

Inflação de serviços é o grande destaque negativo, mas não preocupa

O resultado qualitativamente foi bastante positivo. As principais medidas de inflação de serviços mantiveram a tendência de desaceleração, apesar da alta de 0,59% em outubro, acima de 0,50% em setembro. Entretanto, o resultado foi amplamente influenciado pelo comportamento das passagens aéreas, que avançou 23,7% em outubro após ter avançado mais de 13% em setembro. Como passagem é bastante volátil, também calculamos a inflação de serviços sem esse item, e observamos uma alta bem menor, de 0,18%.

O bom comportamento da inflação de serviços é reforçado pela tendência de queda na inflação dos serviços subjacentes, componente que o Banco Central dá elevado peso. Em setembro, tal grupo avançou 0,19%, mantendo a tendência de desaceleração nos últimos 12 meses, que recuou para 5,02%. Essa tendência de desaceleração é observada em todas métricas de inflação de serviços, mostrando que, apesar do resultado pontual pior, a tendência ainda é de desinflação.

Por fim, itens administrados deram alívio em outubro. Após avançar 1,11% em setembro, esse grupo recuou 0,03% em outubro, indicando que o pico de recomposição dos preços administrados já passou, como evidenciado pelo recuo no acumulado em 12 meses que saiu de 10,23% para 10%. Tais itens, por serem administrados pelo poder público, tem atuado de maneira anticíclica. Após ter rodado por diversos meses abaixo dos itens livres, observamos a recomposição nos preços desses bens e serviços nos últimos meses, em boa parte devido à volta da tributação, em um momento em que a dinâmica inflacionária permite.

De modo geral, o resultado de outubro indica continuidade de cenário benigno para inflação. A dinâmica é consistente com o guidance fornecido pelo Copom de cortes de 50 bps na Selic nas próximas reuniões. Apesar da queda maior que o esperado da inflação, os riscos no cenário ainda requerem cautela. Primeiramente, a discussão recente da meta fiscal para 2024 pode colocar pressão nas expectativas de inflação. Em segundo lugar, temos observado tendência de alta nos preços dos alimentos devido às condições climáticas. Esse grupo foi uma grande fonte de deflação nos últimos meses, portanto, sua aceleração pode significar uma inflação mais elevada no curto prazo. Finalmente, o risco geopolítico ainda permanece com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, o que pode levar a uma aceleração no preço internacional do petróleo. Tais riscos, principalmente o fiscal, impedem uma aceleração dos cortes e o Copom deve seguir em modo de cautela e manter o ritmo dos novos cortes de 50 p.b nas duas próximas reuniões, pelo menos. De fato, até o momento, a dinâmica inflacionária mostra que há espaço para a taxa de juros ser ainda menor.

Evolução do IPCA Mensal (%)

 


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