Macroeconomia


Análise | IPCA | Out22

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Rafaela Vitória

Publicado 10/nov5 min de leitura

O IPCA de outubro registrou alta de 0,59%, acima da nossa expectativa que era de 0,45%

O resultado marcou o fim do período deflacionário da economia brasileira, que entre os meses de julho e setembro acumulou queda de 1,33%. As principais contribuições no mês vieram dos grupos de Alimentação e Bebidas, Saúde e Cuidados Pessoais, e Transportes, que juntos responderam por 73% da inflação observada. No acumulado de 12 meses o IPCA teve desaceleração para 6,47% em outubro e no ano, acumula alta de 4,70%. Por outro lado, a difusão voltou a aumentar, alcançando 68%, maior valor desde maio deste ano.

Para o restante de 2022, esperamos novas variações positivas em novembro e dezembro, fazendo com que a inflação encerre o ano em 5,8%.

Média dos núcleos tem alta em outubro

As medidas de núcleos tiveram variação média de 0,55% em outubro, apresentando forte variação em relação a setembro, cuja variação foi de 0,42%. A despeito dessa aceleração na comparação mensal, os núcleos mantiveram sua tendência de queda quando analisados no acumulado de 12 meses, saindo de 10,1% em setembro para 9,7% em outubro.

A inflação de serviços voltou a acelerar, registrando alta de 0,67% em outubro

Assim como em setembro, o reajuste das passagens aéreas teve grande impacto. Com aumento de 27,38% em outubro, esse foi o item de maior contribuição individual, respondendo por 0,16 p.p da variação observada no IPCA. Excluindo essa variação do cálculo da inflação de serviços observamos uma alta de 0,21%, menor que no mês anterior que havia sido de 0,28%. Além disso, no acumulado de 12 meses a inflação de serviços deu continuidade à sua tendência de queda, ainda que lenta, saindo de 8,5% para 8,1%, e deve seguir em trajetória de queda com a normalização da demanda após o processo de reabertura do setor no primeiro semestre do ano.

Itens administrados voltaram a ter alta após três meses consecutivos de queda, registrando variação de 0,18%. A normalização se deu por um recuo menos intenso dos combustíveis e de comunicação. Para os próximos meses devemos continuar observando a normalização desses itens.

Expectativa para 2023 e impactos das políticas monetária e fiscal

Com essa surpresa negativa, ainda que a queda na inflação de serviços seja bem-vinda, a inflação não se mostra totalmente controlada, o que torna a discussão fiscal ainda mais importante para os próximos passos do Copom. O aumento dos gastos fiscais nos últimos meses de 2022 ainda não se materializou totalmente na inflação, e podemos ter pressões à frente. Nesse contexto, a discussão sobre a política fiscal do próximo governo, em particular o tamanho do gasto fora do teto já a partir de 2023, terá grande peso sobre a trajetória da inflação, não somente pelo impacto direto estimulando a demanda, mas pela desancoragem das expectativas.

Nesse sentido, uma política fiscal expansionista, sem propostas de contrapartida ou definição de uma nova âncora fiscal crível pode impactar a política monetária. As incertezas lançadas já são suficientes para adiar as expectativas de corte dos juros, e a Selic deve permanecer em patamar restritivo por mais tempo. Caso o próximo governo retome o debate transmitindo uma mensagem de responsabilidade fiscal, em particular com controle da dívida pública, a tendência de queda da inflação e apreciação do real deve ser mantida, criando as condições para que o Copom inicie o afrouxamento monetário, e a redução da taxa Selic pode começar a ser discutida em 2023. Mas caso a opção por crescimento de gastos permanentes prevaleça, em montantes que superem R$100 bilhões, o impacto pode inclusive resultar em uma retomada do ciclo de alta.


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