IPCA vem abaixo do esperado em março
O IPCA de março variou 0,16%, abaixo da expectativa de 0,25%. Foi a menor inflação de março desde 2020 e a terceira menor do período de 2010 a 2024. Com esse resultado, a inflação acumula alta de 3,93% nos últimos 12 meses, abaixo dos 4,50% observados em fevereiro. De modo geral, o resultado foi bastante positivo do ponto qualitativo, e reforça que a piora da inflação nos meses recentes foi amplamente devido a fatores sazonais.
Novamente, o grupo de Alimentação e bebidas foi o principal fator de alta, registrando variação de 0,53% e respondendo por 0,11 p.p do resultado cheio. Entretanto, o grupo apresentou desaceleração considerável frente ao resultado de fevereiro, indicando que as pressões alimentícias estão perdendo força, como indicado pela desaceleração no subgrupo de alimentação em domicílio, que saiu de 1,12% em fevereiro para 0,59% em março. Na sequência, o grupo de saúde e despesas pessoais foi o que teve maior impacto, com alta de 0,43% no mês, respondendo por 0,06 p.p do índice cheio. Esse grupo refletiu altas nos planos de saúde (0,77%) e produtos farmacêuticos (0,52%), mas também desacelerando frente ao resultado de fevereiro. Na ponta contrária, o destaque foi o grupo de Transportes, com queda de 0,33%, retirando 0,07 p.p do índice cheio. A variação do grupo foi reflexo da queda de mais de 9% no preço das passagens aéreas e de baixa inflação de combustíveis (0,17%).
Após perda de força em fevereiro, o processo de desinflação volta a intensificar. No acumulado em 12 meses a inflação manteve sua tendência de desaceleração, agora de maneira mais intensa. De janeiro para fevereiro a inflação nessa métrica variou apenas marginalmente, de 4,51% para 4,50%. Em março, o IPCA alcança alta acumulada de 3,93%, enquanto a média dos núcleos alcança 3,79%.
Média dos núcleos variou 0,16%. Os resultados de dezembro a fevereiro trouxeram diversos sinais de cautela, sendo o principal a aceleração na média dos núcleos, que rodou em 0,46% na média desses 3 meses. Entretanto, esse período é marcado por elevada sazonalidade e o resultado de março reafirma isso, com a média dos núcleos desacelerando fortemente de 0,5% em fevereiro para 0,16% em março, voltando aos níveis observados até novembro do ano passado. Além disso, o índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preço no mês, recuou pelo segundo mês consecutivo, alcançando 55%, nível consistente com a atual dinâmica de desinflação.
Inflação de serviços indica alívio
A inflação de serviços recuou consideravelmente em março, para 0,1%. Em fevereiro, esse indicador havia aumentado em 1,06%. Em boa parte, a desaceleração se deve ao efeito base, pois em fevereiro temos a sazonalidade dos reajustes escolares, mas também devido a queda nas passagens aéreas de mais de 9%. Ainda assim, ao excluirmos as passagens aéreas do cálculo da inflação de serviços, vemos uma desaceleração considerável, de 1,33% em fevereiro para 0,29% em março, indicando menores pressões no setor de serviço como um todo. Entretanto, a inflação de serviços subjacentes, vista como uma medida menos sensível à política monetária, apresentou alta de 0,45%, mesmo patamar observado em fevereiro, mas bem abaixo dos 0,76% observados em janeiro.
De modo geral, o resultado de março foi bastante positivo. O único porém foi a não desaceleração da inflação de serviços subjacentes, ainda assim, as outras medidas de inflação de serviços sugerem um alívio inflacionário vindo do setor. A desaceleração da média dos núcleos é uma excelente notícia e sugere que a dinâmica inflacionária se mantém saudável. Com isso, não enxergamos uma modificação da atual dinâmica desinflacionária, não afetando a condução da política monetária, que ainda mantém um patamar contracionista e consistente com a atual dinâmica da inflação. Após a última reunião do Copom e os resultados menos positivos de dezembro a fevereiro, o mercado passou a ficar mais cauteloso, projetando inclusive uma Selic terminal maior que o esperado anteriormente. Por outro lado, mantemos nossa expectativa de Selic a 8,50% ao fim de 2024, que, a nosso ver, é consistente com a atual dinâmica inflacionária.