IPCA de março surpreende com desaceleração maior que esperado, em 0,71%, e acumula alta de 4,65% nos últimos 12 meses
O IPCA de março registrou alta de 0,71%, abaixo da expectativa de mercado, que era de 0,77% e da nossa de 0,75%. Como esperado, as principais pressões vieram da recomposição dos impostos sobre a gasolina e a energia elétrica, que fizeram com que o grupo de Transportes tivesse o maior impacto (0,43 p.p) e a maior variação no mês (2,11%). Na sequência, Saúde e Cuidados Pessoais manteve tendência dos últimos meses e registrou alta de 0,82%. Por fim, Habitação registrou alta de 0,57%. Entretanto, tanto Habitação quanto Saúde e cuidados pessoais desaceleraram em relação a fevereiro.
Com o resultado de março, o acumulado nos últimos 12 meses deu continuidade a sua tendência de queda, saindo de 5,60% para 4,65%, refletindo o efeito da forte variação de março de 2022. Quando consideramos o resultado qualitativo de março, observamos que o desempenho da inflação foi bastante positivo, com a inflação de serviços e a média dos núcleos recuando fortemente, assim como a difusão, o que sugere que o processo de desinflação persiste e deve se intensificar nos próximos meses, abrindo espaço para a redução na taxa de juros em breve.
Média dos núcleos tem forte queda
As medidas de núcleos tiveram variação média de 0,36% em março, desacelerando em relação a à variação de 0,72% de fevereiro. O resultado indica que a aceleração dos núcleos observada em fevereiro foi um evento sazonal, muito influenciado pelos reajustes escolares. As próximas divulgações serão importantes para avaliarmos se haverá continuidade dessa tendência de queda que observamos no acumulado em 12 meses, que saiu de 8,44% em fevereiro para 7,78% em março, bem como a média móvel de 3 meses, mais próxima de 6%. Por fim, a difusão também apresentou queda significativa, de 65% em fevereiro para 60% em março, indicando aceleração menos disseminada do nível de preços.
A inflação de serviços em março foi de 0,25%. Após registrar o maior valor da série histórica em fevereiro (1,41%), a variação do grupo serviços apresentou queda em março, influenciado também pela queda de 5,32% nas passagens aéreas. Desconsiderando o efeito das passagens aéreas, um item bastante volátil, a inflação de serviços foi de 0,35%, indicando que a queda observada em março também é generalizada no setor.
Outro destaque positivo é materialização da menor inflação de bens no IPCA. Há alguns meses temos observado uma desinflação acentuada entre os bens no IGP-M que ainda não se mostrava significativa no IPCA. Em março, observamos uma desaceleração considerável em Alimentação e bebidas, que saiu de 0,16% em fevereiro para 0,05% em março, assim como Artigos de residência, que saiu de 0,11% em fevereiro para -0,27% em março.
Perspectivas para os próximos meses
Expectativa é de continuidade do processo desinflacionário. Boa parte da alta observada em março foi resultado da recomposição dos impostos sobre a gasolina e energia elétrica, portanto, esse efeito será inexistente nos próximos meses. Além disso, podemos observar cortes nos preços de combustíveis dado as pressões de baixa do petróleo no mercado internacional, bem como pela variação cambial favorável nas últimas semanas. A inflação de bens deve continuar sua tendência de queda com a normalização da cadeia global de produção. Por fim, a desaceleração econômica e contração no crédito deve contribuir para a manutenção da inflação de serviços em patamares mais baixos.
O início do ciclo de cortes na Selic, no entanto, deve ficar para a reunião de agosto. Inicialmente, nossa expectativa era de que o início do afrouxamento monetário se desse já na reunião de junho. Entretanto, dada a comunicação do Banco Central na ata da última reunião, esse cenário se mostra pouco provável, mesmo com a surpresa de baixa no IPCA de março. Além disso, tivemos a apresentação do novo arcabouço fiscal recentemente, mas ainda sem maiores detalhes sobre os desafios da sua aprovação e posterior execução. Apesar de ter sido bem recebido pelo Banco Central, o Copom indica que irá esperar um impacto mais palpável sobre a expectativa de inflação para dar início ao ciclo de cortes, que pode começar a ser ajusta pelas leituras mais benignas dos índices de preços agora no 2º trimestre.