Macroeconomia


Análise | IPCA | Maio 2023

1FE74EB4-3BA2-4326-8616-33FEB07ED31F_1_201_a - cópia

André Valério

Publicado 07/jun

IPCA de maio surpreende com alta menor que esperado, em 0,23%, e acumula 3,94% nos últimos 12 meses

O IPCA de maio registrou alta de 0,23%, abaixo da expectativa de mercado, que era de 0,33%. Como era de esperar, o resultado foi influenciado pela queda nos preços dos combustíveis, que recuaram 1,82%, com queda de 5,96% do diesel e 1,93% da gasolina. Com isso, o grupo de Transporte teve um impacto de -0,12 ponto percentual (p.p) sobre o resultado do mês, neutralizando o impacto de Saúde, que foi o principal componente de alta, que teve impacto de 0,12 p.p no índice, devido aos reajustes de plano de saúde, de 1,2% e ainda resquícios das altas de medicamentos, que avançaram 0,89% no mês. Habitação e Despesas Pessoais também tiveram contribuição relevante, com alta de 0,67% e 0,64%, respectivamente. Na outra ponta, além de Transportes, Artigos de residência teve variação negativa de 0,23%.

Com o resultado de maio, o acumulado nos últimos 12 meses deu continuidade à sua tendência de queda, de 4,18% para 3,94%. Além da surpresa de baixa, qualitativamente, os dados de inflação de maio também foram positivos. A média dos núcleos recuou de 0,51% para 0,37%, mantendo a tendência de queda no acumulado dos últimos 12 meses. Além disso, o índice de difusão, que calcula o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preços durante o mês, recuou consideravelmente, de 66% em abril para 56% em maio.

Média dos núcleos volta a cair

As medidas de núcleos tiveram variação média de 0,37% em maio, desacelerando em relação à variação de 0,51% de abril. Com isso, a média móvel de 3 meses voltou a cair, indicando a tendência para os próximos meses. No acumulado em 12 meses, a queda foi mais acentuada, de 7,32% em abril para 6,72% em maio, indicando menores pressões inflacionárias.

A inflação de serviços em abril foi de -0,06%, recuando fortemente devido à queda de quase 18% nos preços das passagens aéreas, voltando a ficar em terreno negativo pela primeira vez desde a pandemia. Como as passagens aéreas são itens voláteis, também calculamos a inflação sem esses itens, e o resultado também foi positivo, com alta de 0,26%, abaixo dos 0,33% observado em abril. Isso sugere que o setor de serviços, que tem uma inflação tipicamente mais rígida, não tem sido fonte de pressão.

Alimentos e bebidas desaceleraram de 0,71% para 0,16% em maio. Outro resultado positivo foi a desaceleração de alimentos, que vinha pressionada nas últimas divulgações, em particular os alimentos em domicílios. Em maio, este subgrupo ficou estável, após alta de 0,73% em abril, enquanto alimentação fora do domicílio desacelerou de 0,66% em abril para 0,58% em maio. Mesmo sendo um item mais volátil e pouco correlacionado com o ciclo monetário, a queda é positiva dado o alto impacto na cesta de consumo das famílias.

Revisamos nossa projeção de IPCA para 2023 de 5,6% para 5,1%

Com a queda mais acentuada do IPCA e a menor pressão inflacionária observada no atacado, revisamos nossa projeção de inflação para o ano para 5,1%. Para 2024, mantemos em 4,0%. A desaceleração da inflação em ritmo acima do anteriormente previsto, devido à queda das commodities e menores preços de combustíveis e alimentos, indica que teremos menor pressão inflacionária nos próximos meses. A inflação de serviços também mostra um menor impacto inercial e, de fato, o acumulada em 12 meses, em 3,9%, deve trazer alívio nos reajustes à frente.

A queda da inflação corrente e seu impacto positivo nas revisões de expectativas aumenta a pressão sobre o Banco Central para o início do corte nos juros. O IPCA trouxe uma leitura bastante benigna em todas as métricas e reacende a discussão de quando o Copom irá iniciar o ciclo de corte da Selic. 

Claramente, a elevada taxa de juros tem tido efeito, dado a queda nos núcleos e na inflação de serviços e, com esse resultado, o juro real ex post está próximo de 9,8%, extremamente elevado mesmo para os padrões brasileiros. Apesar de vermos espaço para o início dos cortes já na reunião de junho, não acreditamos que esse resultado será suficiente para mudar o Copom para essa próxima reunião, considerando a comunicação anterior ainda rígida. Nossa expectativa é que o Copom discuta a mudança de rumo da política monetária na reunião em junho e altere o comunicado abrindo espaço para o primeiro corte a partir de agosto. O Comitê tem enfatizado a importância da reancoragem das expectativas de inflação para dar início ao ciclo de cortes e já se observa esse movimento nas últimas leituras do Boletim Focus. Acreditamos que a queda nas expectativas irá intensificar nas próximas semanas. Portanto, a reunião nos dias 20 e 21 de junho será importante para definir os próximos passos do Copom.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail