IPCA surpreende positivamente em junho
A inflação desacelerou para 0,21% em junho, bem abaixo do esperado pelo mercado que era uma alta de 0,30%. Com o resultado, a inflação acumula alta de 4,23% nos últimos 12 meses, acima dos 3,93% observados em maio. Entretanto, esse avanço se dá pelo efeito base, uma vez que a inflação em junho de 2023 havia sido de -0,08%. O resultado foi bastante positivo, tanto do ponto de vista quantitativo quanto do ponto de vista qualitativo, tendo devolvido toda a alta observada em maio, que por sua vez foi influenciada pelos eventos catastróficos do Rio Grande do Sul.
Em junho, dos noves grupos pesquisados, sete tiveram alta. O maior impacto veio do grupo de Alimentação e bebidas, com alta de 0,44% e impacto de 0,1 ponto percentual. Tanto Alimentação no domicílio e fora do domicílio desaceleraram frente a maio e a tendência é que tal dinâmica persista ao longo do mês de julho, com diversos itens desse grupo apresentando variação negativa. Na outra ponta, o grupo de Transportes apresentou queda de 0,19%, retirando 0,04 p.p do índice cheio, refletindo a forte queda nas passagens aéreas. Combustíveis tiveram alta de 0,54%, refletindo principalmente a alta de 0,64% na gasolina. Para julho, devemos ver pressões vinda desse grupo tendo em vista o aumento no preço da gasolina recém anunciado pela Petrobrás.
A média dos núcleos desacelerou de 0,39% em maio para 0,22% em junho, mas acelerou na margem no acumulado em 12 meses pelo segundo mês consecutivo, de 3,55% para 3,57%. Além disso, a média móvel de 3 meses acelerou de 0,27% para 0,29%, mas indicando estabilidade.
Inflação de serviços ficou estável, variando 0,04%, resultado amplamente influenciado pelo comportamento das passagens aéreas, que recuou 9,88%. Ainda assim, descontada as passagens aéreas, a inflação de serviços desacelerou de 0,31% em maio para 0,22% em junho, mesma dinâmica observada na inflação de serviços subjacentes, que recuou na margem de 0,41% para 0,36%. No acumulado em 12 meses vemos a inflação de serviços retomar a tendência de desinflação, acumulando alta de 4,47%.
De modo geral, o resultado foi bastante positivo, e a perspectiva para os próximos meses também é positiva. Como mencionado, a Petrobrás anunciou aumento de R$0,20 no litro da gasolina e de R$3,10 no botijão de gás, o que deve pressionar o grupo de Transportes no resultado de julho. Por outro lado, essa alta deve ser compensada pela menor inflação de alimentos, que tem apresentado deflação nas últimas semanas, dando continuidade à tendência de desinflação observada nos últimos meses.
Com a redução da incerteza local após a última reunião do Copom com decisão unânime, o resultado contribuirá para reduzir o estresse observado na curva de juros, reduzindo o risco de uma eventual retomada de altas dos juros como chegou a ser precificado pelo mercado, o que, por sua vez, contribuirá para diminuir a pressão sobre a taxa de câmbio, ajudando a acomodar as expectativas. Além disso, a perspectiva de início do ciclo de cortes nos juros americanos em setembro contribuirá para esse cenário. Assim, vemos condições para o banco central manter a Selic inalterada em 10,50% até o fim do ano, com a eventual retomada do ciclo de cortes podendo ocorrer no primeiro trimestre de 2025.