IPCA acima do esperado em julho
IPCA variou 0,38% em julho, acima da expectativa de 0,35%. Com isso, no acumulado em 12 meses a inflação acelerou para 4,50%. Parte dessa aceleração na medida de 12 meses se deve ao efeito base desfavorável, uma vez que em junho de 2023 a inflação foi de 0,12%.
Dos nove grupos pesquisados, sete tiveram alta, com o destaque negativo para o grupo de Transportes, com alta de 1,82% e impacto de 0,37 ponto percentual. Esse grupo reflete a alta nos combustíveis de 3,31%, com a gasolina tendo impacto de 0,16 p.p. Além disso, as passagens aéreas também tiveram alta expressiva de 19,39%. Na sequência, o grupo de habitação foi o de maior impacto, respondendo por 0,12 p.p do índice cheio, com alta de 0,77%, refletindo o aumento no custo da energia elétrica residencial, que deve ser revertido em agosto, devido à duração curta da bandeira amarela. Na outra ponta, o destaque positivo foi o grupo de Alimentação e bebidas, com recuo de 1%, retirando 0,22 p.p do índice cheio.
O núcleo da inflação, que exclui os itens mais voláteis, também apresentou piora, com alta de 0,43% no mês, bem acima dos 0,23% observados em junho. Com isso, no acumulado em 12 meses a média dos núcleos acelerou para 3,83%.
Outro ponto de atenção foi a inflação de serviços, com alta de 0,75% no mês, bem acima dos 0,04% de junho. Mesmo excluindo esse item tivemos um mau desempenho da inflação de serviços, com a inflação de serviços subjacentes acelerando de 0,36% para 0,63% e aceleração de todas as métricas de inflação de serviços no acumulado em 12 meses. A única boa notícia foi a queda do índice de difusão para 47%, menor valor desde julho de 2023.
De modo geral, o resultado de julho foi preocupante, mostrando uma deterioração das medidas que deveriam ser mais sensíveis à política monetária ainda bastante restritiva. Chama a atenção a reaceleração da inflação de serviços, especialmente em meio ao mercado de trabalho aquecido, o que pode se mostrar um empecilho para o processo de desinflação e eventual retomada de cortes de juros. Ainda assim, a melhora no cenário internacional e consequente impacto no câmbio pode contribuir para evitar um cenário pior.
Apesar do resultado pior que o esperado, mantemos nossa visão de Selic constante em 10,5%, patamar que consideramos suficientemente restritivo considerando o horizonte mais longo. Entretanto, nossa visão está condicionada ao cenário externo melhor, que possibilite o recuo da taxa de câmbio e que o dado de hoje seja pontual e não o início de uma nova tendência de reaceleração da inflação. Do contrário, a discussão de necessidade de alta nos juros poderá ser inevitável, especialmente após ata mais hawkish do Copom referente à última reunião.