IPCA vem acima do esperado em janeiro
O IPCA de janeiro variou 0,42%, acima da expectativa de 0,34%. Com esse resultado, a inflação acumula alta de 4,51% nos últimos 12 meses, mantendo a tendência de desinflação observada nos últimos 12 meses. No geral, vemos manutenção do cenário de desinflação, mas os sinais de cautela que surgiram em dezembro permanecem.
O grupo de alimentos foi novamente o grande fator de alta, com a maior variação e o maior impacto. No mês, alimentos tiveram alta de 1,38%, acelerando em relação a dezembro, gerando impacto total de 0,29 p.p no índice. Esse grupo tem sido bastante pressionado nos últimos meses devido à piora nas condições climáticas, impactando a oferta de alimentos. Com isso, o subgrupo de alimentação no domicílio teve alta de 1,81%, também acelerando em relação a dezembro. Outro destaque negativo foi o grupo Saúde e Cuidados Pessoais, com avanço de 0,83% e impacto de 0,11 p.p. Na outra ponta, o grupo de Transportes recuou 0,65%, retirando 0,14 p.p do resultado cheio, influenciado pela queda de 15,22% no preço das passagens aéreas e de 0,39% nos combustíveis.
Apesar do resultado pior que o esperado, vemos continuidade do processo de desinflação. O número maior de reajustes nessa época do ano é comum, devido à sazonalidade. No acumulado em 12 meses, a inflação continua a recuar, assim como a média dos núcleos. O IPCA recuou de 4,62% para 4,51%, enquanto a média dos núcleos recuou de 4,35% para 4,25%.
Entretanto, os sinais de alerta que surgiram em dezembro, permanecem. Apesar da desaceleração no acumulado em 12 meses, a média dos núcleos manteve-se acima de 0,4% após diversos meses não ultrapassando 0,3% no mês. Com isso, a média móvel de 3 meses acelerou e alcança 0,35%. Além disso, o índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preço no mês, ficou estável, mantendo-se acima de 65%, o maior valor desde abril de 2023.
Inflação de serviços é destaque negativo e indica piora
A inflação de serviços foi de apenas 0,02%, mas esse resultado foi influenciado pela queda de 15% nas passagens aéreas. A inflação de serviços excluindo as passagens aéreas avançou 0,45% e a inflação de serviços subjacentes, uma métrica acompanhada de perto pelo Banco Central, avançou 0,76%, 0,24 p.p acima do observado em dezembro. Portanto, a inflação de serviços começa a dar sinais de reaceleração nos últimos 3 meses, com tanto a inflação ex-passagem aérea e subjacentes avançando acima de 0,3% nesses 3 meses.
O resultado de janeiro indica continuidade da desinflação, mas sugere cautela à frente. Em fevereiro devemos ter uma nova rodada de aceleração da inflação, com os reajustes escolares pressionando a inflação de serviços, e os reajustes em combustíveis pela alta de impostos em alguns estados. Por outro lado, podemos começar a ver uma reversão nos preços de commodities alimentares, contribuindo para uma desaceleração da inflação de alimentos. Ainda assim, não acreditamos que esses sinais ainda não são suficientes para ensejar uma mudança na condução da política monetária por parte do Copom. Após a última reunião no dia 31 de janeiro, o Comitê reforçou que pretende continuar com o ritmo de cortes de 50 pbs pelo menos nas próximas duas reuniões. Esse cenário deve se manter, pois mesmo com esses cortes a política monetária continua em terreno contracionista e essa maior volatilidade no início do ano é esperada. Entretanto, podemos esperar a manutenção do tom mais cauteloso por parte do Comitê, o que já transpareceu no último comunicado.