IPCA de janeiro foi de 0,53% e acumula alta de 5,77% nos últimos 12 meses
O IPCA de janeiro registrou alta de 0,53%, em linha com a nossa expectativa de 0,50%. Após a surpresa altista de dezembro, a inflação voltou a desacelerar e concentrada em reajustes extraordinários. As principais contribuições no mês vieram dos grupos de Alimentação e bebidas, Transportes, e Comunicação, que juntos responderam por 64% da inflação observada. O resultado do mês coloca a inflação de volta à tendência de queda, sugerindo que a alta de dezembro foi evento pontual. Com isso, a política fiscal volta a ser um ponto central no debate da inflação e juros em 2023. Com seu auxílio, a tendência de queda poderia ser intensificada, abrindo espaço para cortes significativos nos juros. Por outro lado, o bom resultado da inflação de janeiro, em termos qualitativos, pode intensificar os ruídos entre o governo federal e o Banco Central, com o primeiro aumentando a pressão para que haja cortes tempestivos na taxa de juros.
Média dos núcleos volta a recuar
As medidas de núcleos tiveram variação média de 0,51% em janeiro, desacelerando em relação a dezembro, quando a variação foi de 0,66%. Nota-se o retorno à tendência de queda observada nos últimos meses, com a média móvel dos últimos três meses voltando a desacelerar. O resultado dos núcleos reflete a inflação mais concentrada em itens com reajustes extraordinários, como IPVA e TV por assinatura. Além disso, a difusão da inflação recuou de 69% em dezembro para 63% em janeiro, corroborando a visão de que a inflação foi menos disseminada.
A inflação de serviços voltou a subir em janeiro
Após apresentar alta de 0,44% em dezembro, serviços teve alta de 0,6% em janeiro. Dessa vez, o resultado foi influenciado principalmente pela alta de 2,09% do grupo de Comunicação, que, por sua vez, foi puxada pela alta de tv por assinatura (11,78%) e combo de telefonia, internet e tv por assinatura (3,24%). Apesar disso, observamos que a dinâmica atual ainda é de desaceleração e a variação de serviços acumula alta de 7,8% nos últimos 12 meses.
Vestuário recua 0,27% em janeiro. Em 2022, os preços do setor foram bastante pressionados, registrando inflação acima de 1% em 10 dos 12 meses do ano. Nesse contexto, o resultado do mês foi uma boa notícia, apresentando o primeiro recuo depois de 23 meses seguidos de altas.
O destaque positivo ficou por conta do grupo de Saúde e cuidados pessoais, que apresentou forte desinflação. Após alta de 1,60% em dezembro, o grupo avançou 0,16% em janeiro. Resultado foi influenciado pela queda de 1,26% nos preços dos itens de higiene pessoal e da queda nos preços de perfume e artigos de maquiagem. Por outro lado, plano de saúde avançou 1,21%, que ainda incorpora a fração mensal dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2022 a 2023.
Expectativas para o IPCA
Apesar da tendência de queda da inflação, reajustes de serviços, como educação, e a volta da tributação sobre combustíveis devem ainda manter a inflação elevada em fevereiro e março e esperamos IPCA próximo de 5,5% para 2023. Uma desaceleração maior será possível caso o impulso fiscal não seja tão significativo, beneficiado pelas medidas da Fazenda para contenção de gastos. Nesse cenário, com a política monetária em patamar bastante restritivo, a desaceleração da atividade e do crédito pode resultar em uma desinflação mais célere. Por fim, as cotações das commodities em reais e a evolução recente do IPA, o índice de preços ao produtor, também corroboram com uma pressão inflacionária baixista em bens para 2023.
Entretanto, as recentes discussões sobre possível revisão da meta de inflação e autonomia do Banco Central geram bastante ruído e reduzem a potência da política monetária, impactando principalmente as expectativas de inflação, o que pode comprometer a trajetória de convergência da mesma.