IPCA vem acima do esperado em fevereiro
O IPCA de fevereiro variou 0,83%, acima da expectativa de 0,79%. Com esse resultado, a inflação acumula alta de 4,50% nos últimos 12 meses, perdendo força no ritmo de queda, uma vez que em janeiro o índice acumulava alta de 4,51%. De modo geral o resultado foi misto, com alguns indicadores mantendo a tendência não tão benigna dos últimos meses, enquanto outros apresentaram melhora.
Como esperado, o grupo de Educação foi o principal fator de alta. Esse grupo registrou variação positiva de 4,98%, contribuindo com 0,29 ponto percentual do resultado cheio, devido aos reajustes nas mensalidades escolares. Na sequência, o grupo de Alimentação e Bebidas apresentou alta de 0,95%, contribuindo com 0,29 p.p. Esse grupo tem sido bastante pressionado nos últimos meses devido à piora nas condições de oferta. Com isso, o subgrupo de Alimentação no Domicílio teve alta de 1,12%, mas desacelerando em relação a janeiro. Outro destaque negativo foi o grupo de Transportes que apresentou alta de 0,72%, contribuindo com 0,15 p.p. devido à alta generalizada de combustíveis, que avançou 2,93%. Na outra ponta, os grupos de Vestuário e Artigos de residência recuaram 0,44% e 0,07%, respectivamente.
Com o resultado de fevereiro, o processo de desinflação perde força. Tal movimento era antecipado, devido à elevada sazonalidade no início do ano. No acumulado em 12 meses, a inflação recuou marginalmente, enquanto a média dos núcleos manteve sua tendência de desaceleração mais acentuada. O IPCA recuou de 4,51% para 4,50%, enquanto a média dos núcleos recuou de 4,25% para 4,01%.
Entretanto, alguns dos sinais de alerta que surgiram nos últimos meses permanecem. Apesar da desaceleração no acumulado em 12 meses, a média dos núcleos manteve-se acima de 0,4% pelo terceiro mês consecutivo, após diversos meses não ultrapassando 0,3% no mês. Com isso, a média móvel de 3 meses acelerou e alcança 0,46%. Por outro lado, o índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preço no mês, recuou para 57%, após ficar dois meses consecutivos acima de 65%.
Inflação de serviços subjacentes indica alívio
A inflação de serviços acelerou em fevereiro para 1,06%. Isso se deve em grande parte aos reajustes escolares, entretanto, observou-se forte aumento nos preços administrados, que saltou de 0,19% em janeiro para 0,88% em fevereiro, refletindo a alta nos combustíveis. O resultado da inflação de serviços poderia ter sido ainda pior, pois as passagens aéreas recuaram mais de 10%. Com isso, a inflação de serviços excluindo as passagens aéreas avançou 1,33%. Por outro lado, a inflação de serviços subjacentes desacelerou frente a janeiro, saindo de 0,76% para 0,44%, o que indica uma perda de força na inflação de serviços de maneira geral e sugere que o mau resultado de fevereiro é fruto da sazonalidade.
De modo geral, o resultado de fevereiro não apresenta muitas novidades. Observa-se a continuidade de algumas tendências que elevam a preocupação, em particular a continuidade da pressão na média dos núcleos, o que sugere uma maior persistência da inflação. Além disso, a inflação de serviços continua pressionada, entretanto, a desaceleração nos serviços subjacentes e no índice de difusão é um alento. Com isso, não enxergamos uma modificação da atual dinâmica desinflacionária, não afetando a condução da política monetária, que ainda mantém um patamar contracionista e consistente com a atual dinâmica da inflação. Sendo assim, mantemos nossa expectativa de continuidade do atual ritmo de cortes na Selic nas próximas reuniões, mas com uma eventual mudança no tom dos comunicados, enfatizando a cautela.