Macroeconomia


Análise | IPCA | Fev23

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André Valério

Publicado 10/mar2 min de leitura

IPCA de fevereiro foi de 0,84% e acumula alta de 5,60% nos últimos 12 meses

O IPCA de fevereiro registrou alta de 0,84%, acima da nossa expectativa de 0,70%. Como era de se esperar, o grupo de Educação teve forte impacto sobre o resultado, em virtude dos reajustes nas mensalidades escolares. Com alta de 6,28%, o grupo foi responsável por 42% da inflação observada no mês. Na sequência, Saúde e cuidados pessoais e Habitação, com altas de 1,26% e 0,82%, respectivamente, também tiveram forte influência sobre o resultado.

A despeito dessa alta, o acumulado nos últimos 12 meses deu continuidade a sua tendência de queda, saindo de 5,77% em janeiro para 5,60%, sugerindo que o resultado, apesar de mais pressionado, não deva ser visto com preocupação excessiva. Soma-se a isso a forte desaceleração do crédito na economia brasileira após a recuperação judicial da Americanas, o que deve ser uma nova força deflacionária na economia nos próximos meses. Entretanto, o gatilho para o início do movimento de queda da Selic por parte do Banco Central deve ser o anúncio do novo arcabouço fiscal do governo federal, que deve apresentá-lo antes da próxima reunião do Copom. Caso o arcabouço seja robusto e crível, podemos ter as condições necessárias para a redução dos juros a partir de meados de 2023.

Média dos núcleos tem forte alta

As medidas de núcleos tiveram variação média de 0,72% em janeiro, acelerando em relação a à variação de 0,51% de janeiro. A aceleração dos núcleos era natural, dado o impacto do grupo Educação sobre serviços. Entretanto, vemos que a média móvel de 3 meses voltou a subir após queda marginal em janeiro. Por fim, a difusão da também aumentou, de 63% em janeiro para 65% em fevereiro.

A inflação de serviços de fevereiro foi a maior da série histórica

O grupo serviços teve alta de 1,41% em fevereiro, refletindo os reajustes em Educação, puxado por cursos regulares (+7,58%). Apesar da desinflação, o grupo de Comunicação também contribuiu com alta de 0,98%, após +2,09% em janeiro. Com essa forte alta, serviços voltaram a acelerar em 12 meses, alcançando 7,85%. Por outro lado, a inflação de serviços subjacentes, menos volátil que a inflação de serviços cheia e acompanhada de perto pelo Banco Central, recuou de 0,59% em janeiro para 0,55% em fevereiro.

O destaque positivo em fevereiro ficou por conta do grupo de Alimentação e bebidas, que apresentou forte desinflação. Após alta de 0,59% em janeiro, o grupo avançou 0,16% em fevereiro, principalmente devido ao comportamento da alimentação em domicílio, que recuou de 0,60% para 0,04%. Esse era um comportamento antecipado, que já vinha sendo capturado por outros indicadores como o IPC-M, reflexo da normalização da oferta e redução da inflação de bens, em geral. Outro ponto positivo foi a desaceleração no grupo de Transportes, que registrou alta de 0,37% em fevereiro ante alta de 0,55% em janeiro, reflexo da queda generalizada dos combustíveis e do forte recuo das passagens aéreas. A única alta veio da gasolina, que aumentou em 1,16% e que deve continuar puxando a inflação em março devido à volta da cobrança, ainda que parcial, do PIS/Cofins.

Habitação surpreendeu negativamente com alta de 0,82%. A maior contribuição veio do subitem de energia elétrica residencial, com variação de 1,37%, refletindo, a reinclusão na base de cálculo do ICMS das tarifas de uso dos sistemas de transmissão (TUST) e distribuição (TUSD) em Belo Horizonte (6,98%), Curitiba (5,94%) e Vitória (4,98%). A expectativa era que esse impacto somente fosse ser sentido na inflação de março. A boa notícia, portanto, é uma pressão menor sobre a inflação do próximo mês.


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