Macroeconomia


Análise | IPCA | Dezembro 2023

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André Valério

Publicado 11/jan5 min de leitura

IPCA surpreende em dezembro e encerra 2023 com alta de 4,62%

O IPCA de dezembro variou 0,56%, acima da expectativa de 0,50%. Com esse resultado, a inflação teve alta de 4,62% em 2023, também acima da expectativa, que era de alta de 4,47%, mas dentro do limite da meta pela primeira vez desde 2020. Apesar disso, o resultado de dezembro traz alguns sinais de alerta, com a piora de diversos indicadores.

O grupo de alimentos foi novamente o grande fator de alta, com a maior variação e o maior impacto. No mês o grupo teve alta de 1,11%, com impacto total de 0,23 p.p no índice. Esse grupo tem sido bastante pressionado nos dois últimos meses devido à piora nas condições climáticas, impactando a oferta de alimentos. Com isso, o subgrupo de alimentação no domicílio teve alta de 1,34%. Outro destaque negativo foi o grupo de Transportes, com alta de 0,48% e impacto de 0,10 p.p. Mais uma vez, o grupo foi influenciado pela alta nas passagens aéreas, que avançou pelo quarto mês consecutivo, alta de 8,9% em dezembro. Por outro lado, combustíveis tiveram queda de 0,50%.

Apesar do resultado pior que o esperado, vemos continuidade do processo de desinflação. O acumulado em 12 meses continuou a recuar, assim como a média dos núcleos. O IPCA recuou de 4,68% para 4,62%, enquanto a média dos núcleos recuou de 4,56% para 4,35%.

Entretanto, observa-se piora em diversas medidas. A média dos núcleos teve forte aceleração no mês, saindo de 0,19% em novembro para 0,45% em dezembro, acelerando a média móvel de 3 meses. O índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preço no mês, saltou de 51,7% para 65,3%, o maior valor desde abril de 2023.

Inflação de serviços é o novamente destaque negativo e indica piora

Apesar de desacelerar frente a novembro, inflação de serviços se mantém elevado. Com alta de 0,6%, ante alta de 0,7% em novembro, a inflação de serviços acelerou no acumulado dos últimos 12 meses pelo segundo mês consecutivo, alcançando 6,22%. Mais uma vez o comportamento desse grupo foi influenciado pelo comportamento das passagens aéreas, que avançou 8,9% no mês, aumentando pelo quarto mês consecutivo, acumulando alta de 82% no período. Ainda assim, excluindo os itens mais voláteis, o que inclui as passagens aéreas, observa-se a inflação dos serviços subjacentes acelerando, com alta de 0,51% no mês e 4,82% nos últimos 12 meses, também acelerando frente a novembro nessa métrica.

O resultado de dezembro não foi muito animador. Ainda assim, há sinais de continuidade do processo de desinflação, mas alguns sinais de risco começam a aparecer no horizonte, principalmente a aceleração dos núcleos e da inflação de serviços. Entretanto, esses sinais ainda não são suficientes para ensejar uma mudança na condução da política monetária por parte do Copom e mantemos nossa expectativa de continuidade do processo de cortes na Selic no atual ritmo imposto pelo Comitê. Por outro lado, com a alta do salário-mínimo recém-aprovada, mais o pagamento de R$90 bilhões em precatórios por parte do governo, podem manter a inflação pressionada ao longo do primeiro trimestre, o que pode levar a mudança de tom na comunicação do Copom.

Inflação em 2023 foi de 4,62%

O resultado foi menor que os 5,79% observado em 2022 e dentro do limite da meta pela primeira vez desde 2020. No ano, os principais fatores de alta foram os grupos de Transportes (7,14%), Saúde e cuidados pessoais (6,58%) e Habitação (5,06%).

Em Transportes, destacam-se a alta da gasolina (12,09%), Passagens aéreas (47%) e emplacamentos (21,22%). Em Saúde e cuidados pessoais, a maior contribuição (0,43 p.p.) veio do plano de saúde (11,52%), enquanto em Habitação, a principal contribuição positiva veio da energia elétrica residencial (9,52% e 0,37 p.p.), mesmo com a bandeira verde vigorando durante todo o ano. Por outro lado, Alimentação e bebidas, grupo de maior peso no IPCA, subiu apenas 1,03% no ano, uma vez que o grupo apresentou deflação entre junho e setembro.


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