Deflação é boa notícia, mas não deve alterar o cenário
IPCA variou -0,02% em agosto, abaixo da expectativa de variação de 0,01%, com a inflação acumulada em 12 meses alcançando 4,24%, abaixo dos 4,50% observados em julho, e se distanciando do limite superior da meta.
Dos nove grupos pesquisados, dois tiveram queda e foram responsáveis pela deflação no mês. Habitação recuou 0,51%, enquanto Alimentação e bebidas recuou 0,44% e, juntos, retiraram 0,17 ponto percentual do índice cheio. A variação do grupo de Alimentação se deve por conta do subgrupo de alimentos em domicílios, refletindo o menor preço das commodities agrícolas. Já em habitação, houve influência da energia elétrica residencial, que passou de 1,93% em julho para -2,77% em agosto, com a vigência da bandeira tarifária verde no mês, entretanto, essa tendência será revertida em setembro com a vigência da bandeira tarifária vermelha. Nos destaques de alta tivemos Educação, com alta de 0,73%, refletindo reajustes nos cursos regulares, e Artigos de residência, com alta de 0,74%.
O núcleo da inflação, que exclui os itens mais voláteis, desacelerou para 0,24%, retornando ao nível observado em junho, sugerindo que a piora observada em julho possa ter sido algum fator sazonal. Em 12 meses, a média dos núcleos desacelerou na margem, alcançando 3,8%. A inflação de serviços também desacelerou no mês, alcançando 0,24%, bem abaixo dos 0,75% de julho. Boa parte do recuo da inflação de serviços foi por conta da queda de quase 5% nos preços das passagens aéreas, mas observa-se uma desaceleração geral, tendo em vista o recuo na inflação de serviços subjacentes, que recuou de 0,63% para 0,28%. Finalmente, o índice de difusão, que mede o percentual de bens e serviços que tiveram alta de preços no mês, avançou para 56%, mas se mantendo abaixo de 60%, patamar historicamente confortável para a economia brasileira.
De modo geral, o resultado foi bastante positivo, tanto do ponto de vista qualitativo, quanto do qualitativo. Observou-se um recuo de todas as pressões observadas em julho, notadamente do núcleo e da inflação de serviços, o que diminui o receio de uma retomada do processo inflacionário, o que é reforçado pelo comportamento da difusão, que se mantém abaixo dos 60%. Por outro lado, o bom resultado de agosto não deve se repetir em setembro. No próximo mês teremos a reversão da deflação tanto em Habitação quanto em Alimentos. No primeiro grupo por conta da adoção da bandeira tarifária vermelha na energia elétrica, enquanto no segundo grupo devemos observar impactos da estiagem sobre a oferta de alimentos. Por outro lado, é possível que a Petrobrás reduza seus preços nas refinarias, tendo em vista a queda no mercado internacional, o que poderia compensar parte dessas altas.
Por mais que o dado tenha sido positivo, ele não foi bom o suficiente para retirar as pressões sobre o Banco Central. Apesar de acreditamos que não faz sentido subir juros nesse contexto, a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá maior peso sobre o processo decisório do Copom. Mas com uma inflação bem-comportada, além do esperado alívio externo à medida que o Fed cortar juros, antecipamos que o ciclo de alta será curto, tanto em quantidade de altas, quanto na magnitude dessas altas.