Macroeconomia


Análise | IPCA | Agosto 2023

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André Valério

Publicado 12/set

IPCA de agosto registra alta de 0,23%

Resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, que era uma alta de 0,28%. A aceleração em relação a julho reflete principalmente a alta de 1,11% do grupo de Habitação, que teve impacto de 0,17 p.p no índice cheio. Tal alta era esperada devido ao fim do bônus Itaipu ocorrido em julho, que gerou um desconto na energia elétrica residencial. Destacam-se, também, as altas em Saúde e cuidados pessoais e Transportes, de 0,58% e 0,34%, respectivamente. Por outro lado, o grupo de Alimentação e bebidas recuou pelo terceiro mês consecutivo, com queda de 0,85% e retirando 0,18 p.p do índice cheio, puxado pela variação de -1,26% na alimentação no domicílio.

Com o resultado de agosto, o acumulado nos últimos 12 meses continuou a acelerar, de 3,99% para 4,61%. Essa aceleração era esperada e fruto do efeito base, pois em agosto de 2022 houve deflação de 0,36%. Apesar disso, o qualitativo continua bastante positivo. A média dos núcleos ficou em 0,27%, e a média móvel dos últimos 3 meses recuou para 0,22%, indicando continuidade da tendência de queda. O mesmo movimento se observa no acumulado dos últimos 12 meses, que recuou de 5,6% para 5,2%, mantendo tendência de queda observada nos últimos meses. Por fim, o índice de difusão, que calcula o percentual de bens e serviços que apresentaram alta de preços durante o mês, avançou para 53%, mas ainda em patamar historicamente baixo.

Inflação de serviços continua caindo

A principal boa notícia veio das medidas de inflação de serviços, que deram continuidade à tendência de queda. A inflação de serviços cheia foi de apenas 0,08%, em parte, reflexo do forte recuo nas passagens aéreas, que registrou variação de -11,7%. Como esse item é bastante volátil, também calculamos a inflação de serviços sem esse item, e nela observamos aceleração de 0,17% em julho para 0,29% em agosto, ainda em patamar baixo.

O bom comportamento da inflação de serviços é reforçado pela tendência de queda na inflação dos serviços subjacentes, componente que o Banco Central dá elevado peso. Em agosto, tal grupo avançou 0,14%, abaixo dos 0,2% observados em julho, registrando o terceiro mês consecutivo de desaceleração.

Por fim, o destaque negativo tem sido os itens administrados, que avançaram 1,26% em agosto. Tais itens, por serem administrados pelo poder público, tem atuado de maneira anticíclica. Após ter rodado por diversos meses abaixo dos itens livres, estamos vendo a recomposição nos preços desses bens e serviços, em boa parte devido à volta da tributação, em um momento em que a dinâmica inflacionária permite.

De modo geral, o resultado de agosto foi positivo. Mesmo com a piora, na margem, de alguns indicadores, não há motivos questionar o atual processo de desinflação. A dinâmica é consistente com o guidance fornecido pelo Copom de cortes de 50 bps na Selic nas próximas reuniões, apesar da deterioração no cenário externo. Há de se reforçar, também, que a dinâmica inflacionária tem se mantido benigna mesmo com as altas recentes nos combustíveis. Dessa forma, se a atual tendência persistir, podemos voltar a ver condições para cortes mais intensos na Selic até o fim do ano, com a chance de uma redução de 75 bps podendo ser novamente precificados pelo mercado.


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