Macroeconomia


Análise | IPCA | Abr22

Daniel_Arruda

Daniel Arruda

Publicado 11/mai5 min de leitura

IPCA teve alta de 1,06% em abril

Resultado veio ligeiramente abaixo da nossa projeção de 1,1%, mas superou a expectativa mediana do mercado de 1,0%. Nos últimos três meses, a inflação acumula 15,8% em termos anualizados, o que reflete em grande parte os diversos choques internacionais recentes, principalmente de combustíveis. Em 12 meses, o IPCA acelerou para 12,1%, o que pode ser o pico da série no ano. Apesar de razoavelmente em linha com a expectativa, a divulgação trouxe pressão para a curva de juros, em função da interpretação de haver ainda um quadro de persistência inflacionária, com núcleos em elevado patamar e difusão alta, em 78%.

Inflação de alimentos deve desacelerar nos próximos meses

Em abril, os preços de alimentos em domicílio aumentaram 2,59%, abaixo da taxa de 3,09% no mês anterior. Em nível mais desagregado, houve desaceleração dos alimentos in natura, puxado pelo recuo em hortaliças, verduras e frutas. Por outro lado, alimentos semielaborados e industrializados aceleraram em relação ao mês anterior, com destaque para a alta de 2,4% na carne de frango, que reflete a pressão de demanda externa decorrente da redução do fornecimento da Ucrânia.

A inflação de alimentos deve desacelerar nos próximos meses. Com base no recorte de preços ao produtor do IGP-DI, vemos uma queda de 2,34% em produtos agropecuários, além de uma forte desaceleração de alimentos processados, o que aponta para arrefecimento dos preços de alimentos em domicílio. Ademais, dados da balança comercial mostram aumento interanual do volume de importação de adubos e fertilizantes; embora os preços mais altos devam gerar algum repasse ao consumidor, essa leitura reduziu o risco de uma aceleração inflacionária mais intensa em decorrência de uma quebra de safra gerada por escassez de insumos.

Monitorados recuam com bandeira tarifária verde, mas combustíveis ainda pressionam

Inflação de monitorados ficou em 0,55% em abril, bem abaixo da elevação de 2,65% em março. Esse recuo está associado à definição da bandeira tarifária verde a partir de meados do mês, que levou a energia elétrica a retrair 6,27%. Ainda que a bandeira deva se manter nessa faixa nos próximos meses, dado o cenário hídrico bastante favorável, diversos reajustes regionais contribuíram para atenuar o impacto final no IPCA; em particular, o mês de abril trouxe aumento das tarifas em Campo Grande, Salvador, Fortaleza, Aracaju e Recife, com elevação média de 19,5%, o que também deve gerar um impacto para a medida de inflação em maio.

Por outro lado, gás e combustíveis seguem em alta, e geram risco para o curto prazo. Esse movimento ainda reflete os reajustes concedidos pela Petrobrás em meados de março, além da oferta restrita de etanol, em função do menor número de usinas ativas. Prospectivamente, existem diversos riscos para a inflação no curto prazo. Em primeiro lugar, as altas de 8,9% para o diesel e de 19% para o gás natural trazem pouco impacto direto ao consumidor, mas atuam sobre os custos de produção na indústria e sobre os serviços de transporte, o que deve pressionar as famílias de forma indireta. A defasagem da gasolina na refinaria aumentou para 23%, o que pode levar a Petrobrás a efetuar mais um reajuste elevado nas próximas semanas.

Outros itens também tiveram pressão de alta relevante. Produtos farmacêuticos sofreram reajuste médio de 6,1%, em função da alta de até 10,9% autorizado pela CMED. Além disso, vale lembrar também a expectativa de aumento superior a 15% em termos anualizados para os planos de saúde individuais, que deve ser observada a partir de julho.

Inflação de bens industriais desacelera

Entre os duráveis, os destaques foram as altas para eletrodomésticos e mobiliário, que registraram 2,25% e 1,6%, respectivamente. Entre os semiduráveis, as taxas de roupas e calçados recuaram frente ao mês de março, mas seguem mostrando leituras elevadas. A médio prazo, no entanto, mantemos a interpretação de que a normalização das cadeias produtivas mundiais, o direcionamento da demanda para serviços e a contração da massa salarial real e do crédito devem contribuir para limitar a inflação de bens industriais.

Inflação de serviços segue forte e aumenta desafio para o Banco Central

Em abril, os serviços subiram 0,66%, e os serviços subjacentes avançaram 0,79%. No acumulado dos últimos três meses, em termos anualizados, este indicador mostra leitura de 10,0%, patamar não observado desde meados de 2015. Além disso, o índice de difusão aumentou para 78,3%, a quarta maior leitura da série histórica, iniciada em 1999. Por fim, a média dos núcleos se manteve no patamar elevado de 0,95%, acumulando 9,7% em 12 meses.

Dados apontam para uma inflação de inércia mais elevada, o que aumenta o risco do não atingimento da meta de 2023. Na ata divulgada nessa semana, o COPOM apresentou uma projeção de inflação de 3,4% para 2023, abaixo dos 4,1% do relatório Focus mais recente e da nossa projeção. Dadas as hipóteses de bandeira tarifária amarela e petróleo em alta, o modelo da autoridade monetária projeta rápida desaceleração dos preços livres.

Os preços de alimentos em domicílio e bens industriais indicam sinais de reversão nos próximos meses. Esse movimento pode ser acelerado em cenário de normalização das cadeias produtivas e dos preços internacionais das commodities em moeda doméstica. Ainda assim, projetamos um IPCA elevado em 2022 de 8,2%. Nesse ambiente, a inflação de serviços pode ser mais persistente do que o projetado pelo Banco Central. Esse quadro é reforçado pela divulgação recente de dados de atividade e de emprego, que tem evoluído melhor do que o esperado, apontando para uma demanda relativamente resiliente. Em parte, isso pode ser atribuído ao processo de reabertura pós pandemia, com uma taxa de poupança que havia sido elevada temporariamente, o que torna consumidores mais resistentes às mudanças na política monetária, aumentando ainda mais a defasagem do seu efeito. Nesse cenário, ainda cercado de incertezas, o Banco Central está estendendo o ciclo de aperto monetário e deve elevar a Selic novamente na reunião em junho para 13,25%, reforçando a necessidade de ancorar as expectativas de inflação para o próximo ano, o que contribuirá para a convergência do indicador para a meta, ainda que em um prazo mais longo.


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